Uma luta justa.
Estava arrumando minha mochila para ir até a Nova Escócia verificar algumas coisas sobre a festa de inauguração do novo clube de meu avô, quando vejo Petter parado na porta do quarto com os braços cruzados e um sorriso torto.
— O que foi? — ergo os olhos e o encaro.
— Nova Escócia?
— Sim, meu avô precisa que eu veja algumas coisas da inauguração — me jogo em seus braços e ele me dá um beijo na testa.
— E como foi a reunião na academia? E a tarde com as meninas?
— Foi ótimo, vou para Londres representar a escola no concerto esse ano, sabe como estou me sentindo? — giro no quarto e ele me acompanha com o olhar — esplêndida.
Ele segura em meu indicador me fazendo dar uma pirueta.
— Posso dormir aqui essa noite?
Ergo-me rapidamente, um pouco sem graça. Eu não queria rejeitá-lo, mas não poderia em sã consciência me esquecer de que eu amava fielmente Gilbert Blythe, ainda.
— Petter... — fico desconsertada e ele percebe de imediato.
— Eu entendo — ele suspira saindo aos poucos do quarto — é... Então eu já vou indo.
— Petter eu...
— Anne, eu disse que lutaria por você mas é impossível sabendo que eu já perdi essa batalha.
— Isso não é bem verdade.
— Então, me conte — ele pressiona — fale logo que você e eu ainda temos chances.
— Eu sinto muito — sinto uma lágrima solitária em meus olhos — eu não queria que fosse assim.
— Está confessando?
— Você pediu para...
Ele sai do quarto e me deixa lá, doeu profundamente em meu coração deixá-lo daquele jeito, estava inconsolável e a culpa era minha. Eu o usei esse tempo todo para preencher um espaço que eu sabia que somente Gilbert seria capaz de preenchê-lo de verdade. Petter foi minha ponte de escape, e eu também estava sendo feliz ao lado dele. Cheguei por diversas vezes a me esquecer de Gilbert, mas era inevitável, tínhamos algo profundo demais para ser tapado com uma simples tampa.
Me odeio por instantes em imaginar que eu pude ser tão cruel. Petter não merecia isso, mas eu também não merecia ficar presa no nosso relacionamento. Seria muito pior se eu tivesse estreitado a nossa relação ainda mais e demorasse para descobrir que meu coração sempre pertenceria a outro.
As respostas que eu precisava, eu tive. Encontrar Gilbert e poder sentir novamente o toque quente e inesquecível de suas mãos era a confirmação que eu estava esperando para ter uma direção.
Os caminhos sempre me ligavam a ele, pois seríamos sempre um do outro.
. . .
(Gilbert)
A lanchonete me trazia um ar nostálgico de quando eu vinha aqui só para ver uma ruiva esquentada servindo as mesas. Lembro-me da primeira vez que a olhei fixamente, e pedi que ela ficasse quieta, me surpreendi com seu tom ousado e sua impaciência, acabei me perdendo naqueles olhos intensos e profundos, ainda mais quando conciliei que eram os mesmos da garota da festa a fantasia.
Jamais me esqueceria.
Talvez eu não entendesse o motivo de tantas voltas que o destino nos fez dar, mas eu sabia que sempre que parassemos seria frente um ao outro. Destino.
Saboreio o suco de laranja quando alguém fala ao meu lado tirando-me de meus devaneios.
— Você ganhou.
Me viro e encaro o namorado de Anne que está com os olhos marejados e com o semblante abatido.
— O que? Está falando do que?
— Não consigo lutar por ela enquanto a vejo entrando em um dilema por nossa causa, ela está se torturando por nós dois.
— O que quer dizer com isso?
— Não vou lutar por Anne, pois sei que ela vai escolher você. Então melhor poupá-la desse desgaste.
— Não cara, as coisas não são assim — o encaro.
— Eu a amo tanto.
— Eu também a amo — respondo.
Vejo Margot passando na cozinha, agora sendo dona do lugar. Ela nos observa com as sobrancelhas unidas como se tentasse ler nossos lábios.
Um flashback se apossa de minha mente. Ela me disse que a escolha estava em minhas mãos e eu decidi ir embora.
Por que foi tão fácil escolher fugir de tudo?
Por que eu me esqueci completamente dos banhos de verdade que ela me dava?
Por que eu simplesmente deixei Anne para trás?
— Quando eu fui embora eu sabia que teria consequências — encaro o garoto que segura as lágrimas — então não acho justo dizer para você desistir de tudo se sei que gosta dela e sei que cuidou dela todos esse anos, Petter.
— Está ciente do que está falando? Está dizendo para eu não desistir?
— Não me sentiria digno se lhe dissesse isso. Acho que nós dois temos potencial para lutar por ela, e que vença o que ela preferir.
— Essa é a questão — ele diz desesperançoso — ela vai preferir você.
— Se fosse isso, ela já teria terminado tudo com você para ficar comigo. Isso é muito mais do que uma simples decisão, é a vida dela e os sentimentos confusos dela. — coloco a mão no ombro dele — faça o que achar melhor.
Ele assente e se levanta.
— Certo, obrigado Gilbert, acho que realmente será uma disputa e tanto.
— Que vença o melhor.
— Que vença o melhor.
Dito isso ele sai da lanchonete, até sua postura estava diferente, eu não podia simplesmente mandá-lo desistir, seria muita covardia de minha parte. Se fosse para fazer isso, faria do jeito certo, não com a desistência do outro, mas sim com a decisão final de Anne.
Ela teria que decidir.
. . .
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CRUSH - SHIRBERT
Fanfiction* Concluída * Anne está no auge dos seus dezesseis anos, sua vida está caminhando conforme o que ela planejou. O que ela não sabia, era que na noite da festa a fantasia, ela se apaixonaria por um garoto. Gilbert Blythe, dezoito anos, Youtuber, nam...