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Muito mais que um jantar.

Assim que chego na casa de John sinto meu coração prestes a sair pela boca. A casa era grande, exageradamente bonita, estrutura contemporânea, com cores neutras e discretas. Marilla me olha com aquela expressão de "Meu Deus" isso aqui não é apenas uma casa. Tinha um vasto jardim na frente com flores recém plantadas, era tão grande que parecia até uma praça, com bancos brancos e uma fonte mais a frente. Sinto que alguém me observa, e vejo a expressão de satisfação de Rick através do retrovisor ao ver meus olhos brilhando de emoção com aquele ambiente.

Eu não havia perguntado, mas agora tenho mais certeza que meu avô é muito rico. Mesmo assim, isso não mudava nada para mim, eu não queria ser rica, nunca quis, eu só queria ter alguém próximo a mim que pertencesse de alguma forma a minha linhagem.

— Vamos? — Rick parou na porta da grande casa.

Logo avistei Ana, e John, com um sorriso contente. Eu não o conhecia o suficiente mais podia dizer que adotar duas crianças e permanecer com elas é algo muito bonito e valioso, principalmente para mim. Eu não havia perguntado mais nada acerca da vida de Rick e de Ana, mas meu instinto me alertava que era tão triste quanto a minha foi, eu sou órfã desde pequena, nem me lembro dos meus pais, já eles... Viveram ao lado dos pais por um tempo, e eu tenho certeza que a dor da perda é muito maior.

Assim que entramos na casa, vemos diversas pessoas, convidados. Rick havia dito que era um jantar de negócios e que era uma oportunidade para que eu conhecesse os amigos íntimos de meu avô e até os possíveis sócios de sua nova empresa em Charlottetow. Sou recebida com um beijo no rosto e Marilla é recebida da mesma forma, Matthew com um aperto de mão e um abraço carinhoso da garotinha de pouca estatura.

Sorte dela que era bonita, cabelos loiro escuro, rosto corado e uma bochecha fofa com covinhas. Apesar de bem branquinha, não tinha sardas, seus olhos eram castanhos. Me lembrava a Prissy.

— É um prazer finalmente conhecer a tão querida Anne. — disse uma moça de mais ou menos trinta anos.

— Você é...

— Prazer, desculpe não me apresentar meu nome é Ella Fitzgerald.

— Anne Shirley-Cuthbert — sorrio e a cumprimento — é um prazer conhecê-la também.

A cada passo um novo olhar. Eu não imaginei que meu avô tinha tantos conhecidos, e se soubesse que seria uma festa de grande porte, e não um jantar, eu teria vestido uma roupa de gala e não um vestido verde de veludo.

— Quando percebi eu já tinha contado para todos que você viria, as vezes eu não consigo segurar a língua — John fala por trás de mim e eu me assusto.

— Acho que é uma característica familiar. — concluo.

— E como, Anne gostava de falar o tempo todo, e o pior, ela não filtrava direito o que falava — Marilla fala encarando o homem — ainda bem que agora crescida ela consegue ao menos ponderar um pouco.

— Precisa me ensinar em como fazer isso Anne, com sessenta em três anos eu ainda não aprendi a como ponderar minhas palavras, a propósito Marilla, me perdoe por ontem, eu não tenho pretensão alguma de tirar Anne de vocês. — ele diz e coloca a mão em meu ombro concluindo — fique a vontade, a casa é sua também.

A casa é sua também.

A princesa Cordelia adoraria ter brincado em um jardim como esse.

— Anne, Anne — Ana diz puxando meu braço — venha, eu vou te mostrar nossa casa.

Marilla assente e logo vai atrás de Matthew que com certeza estava se escondendo dos olhos críticos daqueles convidados. Eram pessoas de grande importância, e tive a impressão de ver o parlamentar de Avonlea dentre aqueles rostos desconhecidos. Ana, me puxava falando de cada canto, até que disse:

— Sempre vínhamos aqui.

— Vocês sempre vieram aqui?

— Sim — ela sorri — mas o vovô não sabia que você estava nessa cidade.

— Há quanto tempo existe essa casa, Ana?

— É uma herança de família, parece que existe a séculos.

Uma herança de família.

Eu quero saber mais sobre isso.

— Mas você vai ter que perguntar ao Rick, eu não sei a história, mas ele sabe.

— Ótimo. — respondo.

Ou eu perguntava ao Rick, ou eu ficaria com aquela sensação de assunto inacabado por meses até surtar.

— Mostre-me o jardim, Ana.

. . .

Nós duas caminhávamos pelo jardim que ouvi passos atrás de nós. Olhei para trás, e lá estava Rick, com o rosto ruborizado e respiração ofegante.

— O que houve?

— Estava procurando por você.

— E precisava sair correndo?

— Sim, pois é um assunto do seu interesse, mas acho que é tarde demais para eu te avisar. — ele aponta para a fonte e lá está Winifred e Gilbert.

Não é possível!

O que eles fazem aqui, Rick?

— Bom, parece que os Rose são sócios em Charlottetow de seu avô.

— Não é possível! Até nisso essa piranha loira tá envolvida.

— Piranha loira? — Ana me encara como se estivesse gostado do som sarcástico de minha voz.

— Ana, não pode dizer isso — Rick a corrige e me olha como se fizesse o mesmo.

Ergo os ombros em resposta. Me esqueci que tinha uma criança ao meu lado.

Os dois estavam frente a fonte, somente encarando a cascata. Não pareciam conversar, pareciam que estavam sendo obrigados a permanecer ali. Mesmo assim, meus músculos enrijecem ao ver tal cena. Isso demonstrava ainda mais que tudo que deduzi era real. Eu não passava de uma brincadeira sem graça e desumana.

— Vamos sair daqui — Rick diz.

Acho que o olhar de decepção entregava meu sentimento.

Dou as costas para o casal e caminho ao lado de Rick, não tão próximo, a trilha era ampla e eu não queria usar aquela situação para provocar alguém. Eu só queria sair dali. E também não era justo usar Galle como se ele fosse uma marionete, não faria isso pois estaria me igualando a Queen Bee. Acho que a movimentação chamou a atenção deles, pois logo que damos o primeiro passo, escuto a voz de Gilbert, a única voz que eu não queria ouvir.

— Anne o que faz aqui?

Procuro evitar parar de andar mas a entonação de curiosidade me fez parar, as ondas de sons invadiram meus ouvidos e como resultado descompassaram meu coração. Eu o amava, mais do que qualquer outra coisa no mundo, mas ele tinha se privado de saber tudo que eu poderia lhe proporcionar. Assim que recomponho meus pensamentos prossigo. Eu não estava ali naquele momento para me decepcionar mais uma vez, e eu estava obstinada a fazer que aquela noite desse certo.

CRUSH - SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora