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Ir ou Ficar.

O sol apesar de já estar no céu, estava escondido por detrás das nuvens acinzentadas que se moviam calmamente. Tão cinza quanto meu humor, sem cor, sem vida.

Era o meu primeiro dia aqui, meu primeiro dia como neta de John Linderman, o primeiro dia como a herdeira de uma fortuna que eu sequer imaginei que existia, o meu primeiro dia na casa em que minha mãe fora criada antes de se rebelar por causa de um amor adolescente. Abro os olhos, observo o quarto que desde sua partida, só tinha sido preservado da maneira em que foi deixado. Percorro os olhos nos móveis lustrados, era tudo tão bonito. Abro as gavetas, roupas dobradas, contudo, amareladas e algumas até corroídas por algumas traças.

Vou até a estante, a qual está repleta de livros em ordem alfabética. Puxo um livro, o morro dos ventos uivantes. Meu coração se aquece, eu amava aquele livro apesar de sua escrita ser completamente difícil de ser acompanhada. Abro-o, capa dura era uma versão lindíssima.

Passo as páginas rapidamente e vejo uma carta cair no chão.

Para Anne.

Certamente essa Anne não era eu, minha mãe jamais imaginaria que eu um dia existiria. Pego o envelope, tranco a porta antes de abri-lo, minha avó já não estava mais viva então, sei que ela não ligaria se eu lesse o que fora deixado a ela.

Minha querida mãe,

Sei que é muito confuso isso que vou lhe dizer, e espero que perdoe de todo coração. Eu irei embora, mas não é só sobre isso que quero dizer, eu estou grávida. É uma atitude inesperada eu sei, mas papai jamais aceitaria isso, você sabe o peso e a responsabilidade que ele irá impor sobre mim. O pior de tudo não é a gravidez, e sim, o pai.
Walter Shirley.

Sabemos o quanto será doloroso para ele, saber que me apaixonei pelo filho de seu maior inimigo, mas eu não pude controlar meus sentimentos, vê-lo era como me sentir inteira, e tê-lo para mim, era me sentir cheia. A senhora sempre me contou de como o amor é mágico e como ele é capaz de nos mudar completamente e agora, eu sei o que é senti-lo. Espero que me perdoe, e saiba que eu em toda minha sanidade, seria incapaz de reverter esse sentimento profundo que cresceu dentro de mim, ou então, negligenciar esse bebê que é o fruto de nosso amor.

Se for menina, carregará o seu nome... Anne, a mulher forte que me criou, me amou e que sempre terá toda a minha admiração.

Que um dia eu possa reencontrá-la, meu grande amor... Minha mamãe.

Ass: sua doce Bertha Linderman.


Comprimo os olhos segurando as lágrimas que queriam escorrer. Então tudo se resumia a mim e a não aceitação de meu avô. Bem, eu não poderia culpá-lo, também jamais culparia minha mãe, todos agiram conforme se sentiram bem para reagir.

— Anne? — escuto a voz de Ana, enquanto ela movimenta a maçaneta da porta para entrar.

— Já vou Ana.

Destranco a porta e observo aquele par de olhos ansiosos encarando-me.

— Está na hora de ir conhecer o clube do vovô, você vai adorar.

— Eu posso só terminar de me vestir? — falo ainda sentindo que as lágrimas necessitavam sair.

— Pode sim, te espero lá na sala tá bom.

CRUSH - SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora