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Possibilidades

(Gilbert)

As notícias corriam rápido em Avonlea. Poucas horas depois de Diana chegar em casa todos soubemos o motivo dela ter ido para o hospital, estava doente de novo.

Pego o celular e procuro o número de Anne, ela devia estar arrasada. Será que Petter havia chego primeiro para conversar com ela?

Eu não saberia se não fosse até lá.

Entro no carro e dirijo em direção a Green Gables. Mas sou pego de surpresa quando a vejo carregando duas malas no ponto de táxi procurando por algum com aquele olhar preocupado.

Para na vaga e abro o vidro. Ela abaixa para me olhar e sinto que ela se contém para não chorar.

— Posso lhe oferecer uma carona?

— Sim — ela diz com dificuldade.

Desço do carro e a ajudo com as malas. Estava frio do lado de fora, e ela tremia e tentava se aquecer passando as mãos nos braços.

Tiro minha blusa e coloco nela, ela somente me encara e a acompanho para abrir a porta. Ela entra no carro e em segundos faço o mesmo.

Sinto que não devo dizer nada pois até então ela preferiu manter o silêncio, mas eu não consigo simplesmente me calar vendo que ela tentava camuflar o que sentia com tudo que estava acontecendo.

— Sinto muito por Diana.

Falo antes mesmo de dar partida no carro, ela se inclina e encosta a cabeça em meu ombro em meio as lágrimas. Passo meu braço por detrás dela, e no mesmo instante sinto o cheio do perfume de baunilha, o mesmo de sempre, invadir minhas narinas.

Desejei beijá-la até o mundo acabar, mas eu não podia usar seu momento de fragilidade, eu precisava tentar não persuadi-la a nada, isso poderia me complicar.

— Para onde quer ir?

— Para onde Diana está — pediu — se puder é claro.

Ela se ajeita no banco e me olha de canto.

— Perdão por isso — se refere ao fato de deitar em meu ombro — eu só precisava me sentir segura...

Coloco as duas mãos no volante e dou partida no carro.

— Sempre poderá fazer o que quiser comigo — a encaro — você sabe que eu sou seu, não sabe?

— As coisas não são bem assim, você não é meu ainda.

— Ainda? — tento provocá-la — isso significa que serei?

Ela movimenta a cabeça com negação e aponta para o caminho.

— Vamos... — diz sem graça — acelera esse carro.

. . .

(Anne)

Quem imaginou que essa hora da noite não teria nenhum táxi para me levar para o hospital? O sereno faz com que a fumaça saia de minha boca, minha pele está fria e sinto minhas extremidades em constante tremor. Respiro fundo e faço uma pequena prece.

Por favor que alguém apareça para me dar carona.

É quando vejo o carro o qual bati outro dia, cujo dono era Gilbert Blythe, parando no acostamento. Ele desce o vidro e confesso que meu coração se aquece quando vejo aqueles olhos verdes com manchas castanhas, ainda tóxico, contudo, sedutor.

Ele me oferece carona e eu aceito. Era impossível não aceitar.

Um - eu estava com pressa.

Dois -  eu estava com frio.

Três - era Gilbert Blythe quem dirigia.

Ele desce do carro e me ajuda com as malas, depois que percebe que estou tremendo, tira a blusa e a põe em mim, me acompanha até a porta e a abre para que eu entre.

Por um instante, mantém o silêncio, certamente para não me incomodar pois sabia que eu estava desesperada com tudo que tinha acontecido, mas como eu já imaginava. Ele não se conteria por muito tempo. Sem mais rodízios ele fala, e eu não consigo me manter longe dele.

Precisava de seu abraço mais do que qualquer coisa em minha vida, e como era bom tê-lo.

Se ele não estivesse aqui, eu desejaria tê-lo. E essa era eu.

As coisas com Petter não estavam boas, mas eu não podia ficar presa a isso. Eu precisava de Gilbert mais do que nunca, portanto, assim que colocar minha mente em ordem, darei um jeito em tudo isso.

Antes, eu preciso estar ao lado de Diana.

. . .

Ela estava em casa o que era um alívio, bato na porta e quem me recebe é Eliza com aquele olhar inconsolável. A abraço e ela passa a mão em minhas costas.

— Sinto muito Eliza — falo — isso é tão doloroso, onde ela esta?

— Oh Anne querida, eu estou devastada — ela revela — não sei como estamos suportando isso. Ela está dormindo agora.

Ela me solta e encara Gilbert que vem em direção a nós.

— Mas vejo que está em boa companhia — ela direciona os olhos para ele — é bom vê-lo novamente, Blythe.

Ele sorri fino.

— Bom, então voltarei amanhã — falo — só queria saber se ela vai ficar bem.

— Força e expectativa não nos falta, não é mesmo?

— Fé, principalmente — concluo — obrigada Eliza, mantenha-me informada por favor. — seguro em suas mãos — Diana é forte.

— Obrigada Anne, quando ela acordar direi que esteve aqui — ela me solta — boa noite.

Caminho em direção a Gilbert.

— E agora rumo a casa?

— Sim — suspiro — prefiro acreditar em todas as possibilidades que o amanhã tende a me proporcionar — sinto suas mãos encaixando nas minhas.

— Isso inclui a mim? — ele me encara.

— Veremos.

. . .

CRUSH - SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora