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Youtuber famoso.

O dia estava péssimo, principalmente porque trabalhar no domingo sem dormir era horrível. Minha cabeça doía, meus pés também, meu corpo todo estava pedindo trégua, mas eu, tinha que trabalhar.

— E então Anne, como foi a festa? — questionou Margot que preparava o capuccino de uma das mesas — pelo seu semblante deve ter sido maravilhosa.

— Meus pés doem, tanto quanto minha cabeça, se eu pudesse, estaria aproveitando uma bela manhã de sono.

Ela sorri, e logo o Sr. Flyn, interrompe o assunto. Sempre que podia, ele conseguia de uma forma grotesca acabar com a minha manhã.

— Anne Shirley, Margot Tanner — ele nos encara — não sei onde estava com a cabeça quando contratei duas ruivas. Vão trabalhar! Anne tem um rapaz no balcão, é a sua vez. Vá vá vá.

Margot me encara com o cenho franzido e assim que ele sai ela fala:

— Vá vá vá.

Saio sorrindo, mas assim que avisto o Sr. Flyn encarando-me, moldo uma expressão mais séria.

— Bom dia — falo para o garoto no balcão com a cabeça baixa — em que posso ajudar?

— Fazendo silêncio — ele ergue os olhos e encara-me.

Gilbert Blythe.

— Se você não quer ser atendido, deveria ficar na sua casa — falo com arrogância — isso aqui é o meu trabalho.

Ele sorri em resposta.

— Desculpe os modos — ele lê a plaquinha do meu crachá — Anne.

— O que deseja? — falo em um tom mais grave.

— Um café, uma xícara de café do tamanho do universo pois não aguento de dor de cabeça.

— Quer um analgésico?

— Essa cafeteria é muito boa, vocês tem até analgésico.

— Não, eu tenho analgésico porque eu também estou com uma dor de cabeça insuportável hoje.

Lhe entrego o comprimido que estava no bolso do avental.

— Obrigada, ruivinha — ele diz com sarcasmo.

— Não gosto que me chamem assim — repreendo — só porque você é um garoto famoso não significa que eu vou dar liberdade para você me chamar do que quiser.

Seus olhos murcham, aparentemente. Em sequência, somos interrompidos por uma garota de aproximadamente treze anos para ao lado dele com a câmera do celular aberta.

— Gil, tira uma foto comigo? Eu sou sua fã!

Ele sorri para a câmera. Me viro e vou em busca do café. Mas sinto indiretamente seus olhos pairando sobre mim. Ignoro, até porque, se um garoto como ele olhasse para mim, seria para brincar com meus sentimentos, e eu não tinha um pingo de paciência para suportar isso.

. . .

— Você está atendendo Gilbert Blythe — falou Margot entrando na cozinha com o sorriso estampado em seu delicado rosto pálido — como é a voz dele?

— Não me diga que você cedeu aos olhos verdes com manchinhas castanhas e sorriso altamente sedutor e cheio de toxidade de Gilbert — lhe encaro — ele é um idiota.

— Olhos verdes com manchas castanhas — ela pisca apaixonada em gozação — não Anne, eu nunca teria chances, ainda mais com Winnie no caminho.

— Eu não suporto Winifred Rose, desde a primeira série, o prazer dela é me ver mergulhada em um poço de lama e desgraça.

Termino o café pego a bandeja, e um copo com água (caso ele decida tomar o analgésico). Caminho seriamente até o balcão onde ele está, sua postura está curvada e ele fecha os olhos por alguns segundos como se aquilo fosse aliviar a dor. Enquanto ele está lá, outro garoto chega, Roy Gardner o melhor amigo de Gilbert, sei porque Roy também estuda no mesmo colégio que nós. Paro do lado de dentro do balcão, coloco a bandeja no canto e seguro o café e o copo com água.

— Caso você queira tomar o analgésico — mostro a água.

— Anne Shirley — Gardner diz com um sorriso manhoso.

— Roy Gardner — respondo.

Saio em direção a cozinha, sou barrada por Margot que pede para eu preparar um suco de laranja para um cliente. O espremedor ficava do lado de fora, ao lado da pia, ainda atrás do balcão. Corto as laranjas, faço o suco e coloco no copo.

— Aquela mulher gato na festa a fantasia era uma beldade — Roy fala com malícia — eu por pouco não a fisguei.

Suspiro com força, estavam falando claramente de mim.

— Eu a vi beijando um cara — Gilbert diz — pareciam bem conectados.

— Que pena — ele diz — uma morena como ela não se encontra em qualquer esquina.

Sinto meu ego transparecer.

— Uma pena que nunca saberei o nome dela — Gilbert fala abobado.

Entrego o suco de laranja para o cliente e fico um tempo parada para ouvir mais sobre a tal garota, que por um acaso era eu.

— E se pesquisarmos nas câmeras?

— Aqueles olhos — Gilbert sorri — olhos da cor do oceano.

Sinto minha coluna prestes a travar.

— Você viu ela de perto cara?

— Era impossível não admirar aquele talento de perto — ele admite — curvas sinuosas e um gingado.

Vou até eles para pegar o copo com água vazio. Gilbert me encara, aguça a visão, enquanto observa meus olhos. Cujos olhos da cor do oceano.

— Você — ele fala — esses olhos.

Pisco em disfarce.

— Está equivocado.

— Não, não estou — ele garante — seus olhos são muito parecidos.

Tiro o copo com água e acidentalmente derrubo a xícara cheia de café fervendo na calça do YouTuber ridículo.

— Anne Shirley — diz o Sr. Flyn — venha até aqui agora!

— Obrigada Gilbert Blythe — encaro-o com olhos ferozes — espero que esteja satisfeito em me comparar com uma pessoa que nem conheço.

— Desiste cara, Anne é ruiva a garota era morena.

— Verdade — ele diz — ela não seria tão covarde, não dançando daquele jeito.

Respiro fundo e caminho em direção a cozinha. Além de quase ser descoberta, com uma vergonha indescritível, e com um medo impetuoso de ser reconhecida.

CRUSH - SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora