Capítulo I

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        Alexandre cuidou de tudo para o velório. Foi um velório lindo para os meus pais. Tanto quanto um velório pode ser bonito. E até nisso eu fui fraca e não participei das decisões. Alexandre escolheu das flores até a roupa que eles usaram.

      Eu sabia que meus pais não durariam para sempre, mas definitivamente não estava preparada para aquilo. Eles partiram antes que eu pudesse dar a eles tudo o que eu sonhei em dar.

        O que era irônico, pois desde que me casei com Alexandre, eu poderia ter dado o peso do mundo em ouro para eles, mas não a minha presença.

       E eu trocaria absolutamente tudo o que eu tinha e viesse a ter de bem material no mundo por mais uma hora com eles, por pelo menos poder dizer adeus.

       Eu estava cheia de calmantes, Alexandre me deu, mas desta vez não os escondeu na minha comida, disse que apenas me deixariam mais calma, não me derrubariam. Eu devia isso aos meus pais, pelo menos estar no velório deles. Acordada.

      Eu fiquei ali, até a última pá de terra. Quando começaram a fechar o túmulo com cimento, túmulo esse que Alexandre comprou na hora, eu soube que acabara. Nunca me senti tão sozinha no mundo.

      Embora Alexandre não os conhecesse bem, ele também estava abalado emocionalmente, não como eu, que estava destruída, mas percebi que ele também estava triste. Me lembrei que ele também não pode se despedir do pai, que foi enterrado na Itália, enquanto ele estava se recuperando do tiro aqui no Brasil. Em coma. Foi como nos conhecemos.

      Sem esperar por ele, eu me virei e saí do cemitério. Sai andando sem olhar para trás. Ele tentou ir atrás de mim, mas acho que ele pensou que eu precisava ficar sozinha. Nem mesmo os seguranças me seguiram. Ele sabia que eu não iria longe, e mesmo que eu fosse, certamente deveria ter algum rastreador nas minhas roupas, ou nas jóias, sei lá.

       Andei pouco mais de um quarteirão. De onde eu estava já não avistava mais a movimentação do cemitério, quando um carro prata reduziu a velocidade e começou a me acompanhar.

      No inicio imaginei que fosse algum tipo de cantada idiota. Eu certamente não estava com aparência de quem queria ser paquerada, ou abordada de qualquer forma. Eu estava com os braços cruzados, como se me abraçasse e assim me mantivesse inteira. Vestia uma calça jeans clara, com a boca larga, uma camiseta preta e uma blusa de frio azul marinho com capuz que alguém me deu porque eu tremia. Mas não era de frio. Calçava um par de botas confortáveis e então continuei a andar.

        - Ei! Quer carona?

        Talvez fosse um dos seguranças atrás de mim, não reconheci a voz como sendo de Alexandre. Apenas continuei andando e ignorando.

        O carro parou e eu continuei andando, sem olhar para o lado. Até que o rapaz desceu do carro, veio até mim, me alcançou, parou na minha frente, e segurou meus braços.

         - Rodrigo! O que você está fazendo aqui?

          Sem responder, ele me abraçou. Eu mordi o lábio inferior para não começar a chorar.

           - Meus sentimentos! Se houver algo que eu possa fazer para ajudar, por favor, me deixe saber.

           Pensei se havia algo que ele ou alguém no mundo pudesse fazer para aliviar o que eu sentia. Respirei fundo e sem pensar muito respondi.

          - Me leva daqui.

            Sem nenhuma pergunta, ele abriu a porta do passageiro para mim e eu entrei no carro. 



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voltei com Sofia, Alexandre e... Rodrigo??


Espero que gostem!!


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