Capítulo 5

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NATALIE NARRANDO...

Escuridão... Eu vivia há 2 meses imersa numa escuridão tremenda. Todos os dias quando a Priscilla ia trabalhar eu entrava no quarto dele e tentava arrumar as coisas dele, pra desfazer o quarto, mas não conseguia. Não trabalhava mais, não conseguia sair de casa, mal cuidava das minhas filhas. Vivia dopada e dormindo pra não pensar em nada. As meninas entraram de férias e eu fiquei sozinha com elas. A Júlia não me deixa encostar nela, está sempre arredia comigo, a Alice com a sua sapequice vivia correndo pela casa, caindo e espalhando brinquedos. Só consegui dar banho nelas quando a Pri chegou e deu o grito. A geladeira estava vazia, e isso foi motivo de brigas entre a Pri e eu. Na manhã seguinte ela saiu e eu não vi. Acordei com as meninas gritando pela casa brincando. Ana já tinha chegado e como todas as manhãs, passava na padaria e comprava pães. Tomei um banho me troquei, a babá chegou.

Ana: Vai sair dona Natalie?

Eu: Vou Ana – suspirei – Eu preciso fazer supermercado. Tem alguma coisa que precisa acrescentar na lista?

Ana: Já coloquei ai, o leite.

Eu: Ok. Qualquer coisa me liga tá. – sai sem que as meninas vissem. Entrei no carro e parei por alguns minutos. Eu não dirigia a 2 meses. A cadeirinha dele não estava mais ali. Controlei o choro e falei comigo mesma – Vamos lá Natalie você consegue... – suspirei liguei o carro e logo sai. Fiz compras para o mês todo com tudo que as meninas gostam, que eu a Pri também gostamos. Passei no açougue comprei as carnes e fui pra casa. Guardei tudo enquanto Ana fazia o almoço. Tentei ligar pra Pri e ela não atendeu, deveria estar em cirurgia. No fim da tarde ela chegou com algumas coisas da padaria, eu fiz café e fiz chocolate quente para as meninas.

Pri: Fez compras?

Eu: Fiz.

Pri: Amor, você não está indo a terapia e está desmarcando todas as vezes que a terapeuta tenta vir aqui – me abraçou.

Eu: Não me sinto confortável. – suspirei.

Pri: Então eu marco com outra pessoa, a gente pede indicação, mas você não pode deixar de ir.

Eu: Ai Priscilla...

Pri: Natalie, você ficou 2 meses dentro dessa casa, hoje que você saiu. Não dá pra ficar assim, pelo amor de Deus. Você precisa trabalhar, precisamos desmontar aquele quarto. Precisa deixar o Pedro partir – falou nervosa.

Eu: Priscilla, eu não vou esquecer o meu filho – falei entre dentes.

Pri: Eu não to pedindo pra você esquecer, mas você precisa aprender a conviver com essa condição. Temos casa, duas filhas pequenas, você tem a sua empresa e eu tenho meus pacientes para cuidar. Sozinha eu não dou conta de tudo.

Eu: Não pode me dizer quando devo ou não parar de sofrer pelo meu filho Priscilla. Se você está bem que ótimo pra você, mas eu não estou. Me desculpa se eu não consigo superar como você. - falei nervosa e chorando, cuspindo as palavras nela.

Pri: E você acha que eu estou bem Natalie? Olha bem pra mim. Para de olhar pra você agora e olha pra mim. Você acha que eu estou bem? Eu estou sofrendo tanto quanto você, eu choro todos os dias como você, mas você não faz mais nada, está negligenciando nossas filhas pra sentir sua dor. Você está olhando só pra você. Alguém tem que cuidar da empresa, que você despejou em cima da Nathalia, de casa também, porque essa casa também é sua e principalmente das nossas filhas. Eu sou médica, eu lido com vidas das pessoas todos os dias, eu não posso errar, eu não posso sofrer 24 horas numa bolha quando tem o coração de alguém na minha mão ou alguém aberto na minha mesa de cirurgia. E não é nada fácil pra mim, porque cada cirurgia que eu faço, eu penso no que eu poderia ter feito pra salvar meu filho – falei como se aquilo tivesse saído como vomito de dentro de mim.

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora