Capítulo 15

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Nat: Eu ainda sou sua mulher Priscilla – se aproximou.

Eu: Jura? Por que você se esqueceu disso em outubro do ano passado e olha só, já estamos em julho. Já se passaram 9 meses. Que por sinal poderíamos ter usado para seguir nossos planos de ter um filho que eu ia engravidar se lembra? Mas do que importa isso agora, você foi embora e você não quer ter uma família comigo falei irônica.

Nat: Não fala isso... É claro que eu quero uma família com você. Temos uma família...

Eu: Não... Não temos não... Temos duas filhas agora só isso e tivemos um filho...

Nat: Você já tem alguém?

Eu: Não Natalie, porque legalmente eu ainda sou casada com você. Ao contrário de você, eu não fujo das minhas responsabilidades não. Mas vamos resolver isso ainda essa semana.

Nat: Eu não vou te dar o divórcio – falou chorando.

Eu: Ah, mas vai... Vai sim, porque você não pensou em nada e nem ninguém quando saiu por essa porta feito uma bandida fugindo da polícia deixando suas duas filhas chorando pensando que você não as queria mais. Tem noção dos danos que você causou a elas? Principalmente a Júlia? Elas fazem terapia toda semana por sua causa Natalie. E não sabe como dói vê-las tristes por sua causa. A Alice é fácil enganar, mas a Júlia, o sentimento dela chega a ser palpável.

Nat: Me escuta, por favor. Me deixa explicar o que aconteceu, pra onde eu fui... por favor – implorava.

Eu: Eu não quero saber Natalie. Eu sinceramente, não quero saber.

NATALIE NARRANDO...

Eu sentia falta das minhas filhas, da minha mulher, da minha casa. Aquele centro de recuperação era muito bom, mas o meu lar era minha casa com as minhas filhas. Eu estava ali a meses e eu me recusava a encarar algumas verdades. Eu não queria ouvir que matei meu filho que eu fui uma irresponsável e matei meu filho. Eu acordei no meio da noite, caia uma tempestade lá fora e eu tive um pesadelo com meu filho. Sai do quarto e andei pelos corredores e encontrei a Heloisa.

Eu: Que susto.

Helo: O que faz acordada a essa hora?

Eu: Eu tive um pesadelo e resolvi dar uma volta.

Helo: Quer conversar sobre isso?

Eu: São duas e meia da manhã.

Helo: Não importa a hora, vamos... – fui para a sala dela, ela pegou uma pasta onde ficava minha ficha. – E então, qual foi seu pesadelo?

Eu: Com meu filho. Com o que aconteceu aquele dia. Exatamente tudo que aconteceu naquele dia. E depois de tudo, acontecia o mesmo com a Alice.

Helo: Alice é a sua filha mais nova não é?

Eu: Sim, é...

Helo: Natalie, se você não confrontar com o que aconteceu naquele fatídico dia, você não vai se libertar, a culpa não vai te deixar, e você não vai conseguir voltar pra sua família completamente. Você perdeu seu filho e foi sim uma perda inestimável. Mas você ainda tem 2 filhas e uma esposa.

Eu: Eu repasso tudo que fiz na minha mente aquele dia. Mas não consigo me lembrar do portão. É tão idiota, mas não consigo me lembrar. – sequei a lagrima que caia.

Helo: O portão estava com defeito. Ele não estava fechando corretamente a alguns dias. – eu a olhei. – A pericia analisou minunciosamente o portão, a fechadura, e as câmeras da casa da senhora Nooren Smith que é a sua avó, dos vizinhos da esquerda e da direita, e dos três vizinhos da frente. E todas as câmeras apontam o mesmo. Você saiu, fechou o portão que abriu sozinho cerca de 10 segundos depois e um golpe de vento o bateu fazendo-o se fechar de verdade. Você voltou 5 minutos depois com a sua filha Júlia rindo e brincando, colocou um pouco de força, porque o portão havia batido e travado pela pancada forte do golpe de ar. Você a colocou para dentro e fechou o portão  – conforme ela falava os flashs passavam pela minha cabeça, dos passos que dei aquele dia – Cerca de dois minutos depois o seu filho Pedro saiu e foi até o portão. Ele tentou abrir, mas ele não conseguiu. Então ele deu um pulo com a mãozinha para cima e conseguiu puxar a maçaneta e abrir um pouco o portão. Ele caiu sentado e chorou voltando para em direção a casa, mas no meio do caminho ele voltou quando o portão abriu sozinho provavelmente por mais um golpe do ar, porque segundo testemunhas, ventava bastante aquele dia. E o portão abriu e ele correu até o portão antes que ele se fechasse e foi para a calçada. Quando ele deu alguns passos um carro em alta velocidade invadiu a calçada e o atropelou e cerca de 30 segundos depois os vizinhos e você com algumas pessoas que estava na casa da sua avó saíram lá fora e o viu embaixo do carro. – eu voltei a respirar e cai num choro desesperado. Eu chorei copiosamente.

Eu: Meu filhinho...

Helo: Você não teve culpa de nada Natalie. Você não esqueceu o portão aberto. – levantou o papel e me mostrou. – Isso aqui é um laudo da perícia. Tudo foi analisado minunciosamente por 6 peritos separadamente e os 6 chegaram a mesma conclusão. Seu filho não morreu por irresponsabilidade sua. Aqui tem os depoimentos da empregada da casa, da sua tia Alisson, e da sua avó Nooren a respeito do problema no portão. Aqui tem as fotos de cada imagem da câmera. Nada disso foi por falha sua. – fiquei cerca de uma hora ali chorando. Logo fui para o meu quarto. Passei mais um tempo lá até ser liberada. Minha mãe foi me buscar. Passei um tempo no Sul ainda até voltar para o Rio e ser recepcionada de maneira bem fria pela Priscilla e pela Julia também. Voltei para o Rio, surpreendi a Priscilla logo cedo e ela já me atacou logo de cara. A Julia sequer falou comigo ou chegou perto de mim. Uma nova discussão foi formada quando eu arrumava minhas coisas no closet. Então sentamos para conversar. 

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora