Capítulo 108

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PRISCILLA NARRANDO...

25 DE OUTUBRO...

Eu estava correndo de um lado para o outro naquele hospital. Aquilo estava uma loucura. Eu acordei com um pouco de cólica e eu teria uma consulta com a Maria Clara a tarde. Todos os bebês do Rio de Janeiro resolveram nascer nesse dia e ela estava pirando, porque só tinha ela e mais duas obstetras de plantão. Eu estava numa cirurgia não estava me sentindo bem. Resolvi mandar chamar a Luíza.

Eu: Por favor, alguém chama a doutora Luíza Cesar, vê se ela pode entrar nessa cirurgia pra mim, eu preciso sair. – logo ela chegou se lavou e se vestiu.

Luíza: Oi, cheguei o que houve?
Eu: Acidente de moto, o baço dele já era, eu já retirei, e ele ainda tem uma pequena hemorragia no fígado. Assume pra mim? Preciso sair, não estou me sentindo bem.

Luíza: Tá... Quer que chame alguém?

Eu: Não precisa... – sai tirei aquela roupa eu senti algo descendo, passei a mão na minha perna era sangue. – Não, por favor – comecei a chorar.

XX: Chefe tudo bem?

Eu: Adriana, chama a doutora Maria Clara por favor, se ela não puder chama qualquer obstetra de plantão é emergência.

XX: Pra quem?

Eu: Pra mim, eu acho que estou abortando.

XX: Ok... – me sentou pegou o celular e mandou a mensagem e me levou até a obstetrícia. A Maria Clara logo chegou.

Maria Clara: O que houve?

Eu: Eu acho que eu estou abortando. Eu estou sangrando e com cólica.

Maria Clara: Quando começou a cólica?

Eu: Hoje de manhã e o sangramento quando sai da cirurgia.

Maria Clara: Eu vou te examinar – ela me examinou com calma eu sentia muita dor. Ela fez uma ultra. Maria Clara muda era mau sinal.

Eu: Fala alguma coisa...

Maria Clara: Bem... – suspirou – Infelizmente um dos bebês não tem batimentos – senti uma pressão no peito que me sufocou – Ele está aqui ainda, mas seu corpo está o expulsando. Os outros dois estão bem, mas um dos sacos gestacionais está expulsando um bebê... – eu soltei o ar que eu nem notei que segurava.

Eu: Os outros dois correm risco?

Maria Clara: Aparentemente não. Você ainda está com 11 semanas, o risco era muito grande como já havíamos conversado que o primeiro trimestre era o mais difícil ainda mais numa gestação múltipla.

Eu: E o que vai ser feito agora?

Maria Clara: Vou fazer um exames, vou te colocar no soro e numa medicação. Seu corpo vai expulsar sozinho, mas vamos monitorar os outros dois para que nada aconteça.

Eu: Ok...

Maria Clara: Eu sinto muito Pri.

Eu: Tudo bem – falava seca.

Maria Clara: Vou ligar pra Natalie tá?

Eu: Ainda não. Espera tudo acontecer primeiro – sequei a lágrima teimosa que caia.

Maria Clara: Tudo bem – ela chamou uma enfermeira que me ajudou a me trocar, colocou o soro em mim a medicação e eu fui para um quarto. Não demorou muito e eu comecei a expulsar o feto e ele saiu perfeito inteirinho. Eu fiz uma nova ultrassonografia os dois bebês estavam bem, então pedi a Maria Clara que ligasse pra Natalie.

MARIA CLARA NARRANDO...

Quando vi que o bebê não tinha batimentos, o meu coração pareceu parar por alguns segundos. Nada poderia ser feito. Poderia acontecer, já sabíamos disso, mas ninguém nunca está preparado para isso. Torci para que no processo de expulsão do feto fosse livre e sem problemas para não afetar os dois bebês. Tudo foi como eu esperava e fiquei mais tranquila. Logo ela pediu para ligar para a Natalie. Sentei no corredor e liguei. Depois de quatro toques, ela atendeu.

Nat: Alô?

Eu: Natalie? É Maria Clara tudo bem?

Nat: Oi, tudo bem e você?

Eu: Bem. Natalie pode falar agora? – ouvia uma movimentação no fundo.

Nat: Claro eu estou saindo de uma reunião. Só um segundo que estou indo pra minha sala – ouvi os passos dela e logo ela falou. – Pronto aconteceu alguma coisa?

Eu: Natalie – suspirei – A Priscilla não se sentiu muito bem numa cirurgia.

Nat: Ai meu Deus...

Eu: Ela teve um sangramento e infelizmente perdeu um dos bebês.

Nat: Não – começou a chorar.

Eu: Eu sinto muito. – suspirei – Pode vir pra cá?

Nat: Posso... só vou desmarcar o resto dos meus compromissos. Como ela está agora?

Eu: Fisicamente está bem, mas ainda não chorou, deixou cair duas lágrimas apenas, está em choque acredito eu.

Nat: Estou indo. Obrigada.

Eu: Por nada... – desligamos. A Luíza veio e sentou do meu lado.

Luíza: Tudo bem?

Eu: Não. – encostei. – A Priscilla perdeu um dos bebês.

Luíza: Ai meu Deus... E como ela está?

Eu: O corpo dela tratou de expulsar o bebê sem grandes problemas e sem causar nada com os outros dois. Graças a Deus eles não estão ocupando o mesmo espaço não compartilha placentas senão seria o mesmo que tentar conter um deslizamento com o dedo. E minha preocupação com ela agora é o no emocional. Ela ainda não desabafou, está parecendo uma rocha. Isso me preocupa.

Luíza: Isso não é bom mesmo. – eu entrei no quarto de novo ela estava dormindo por causa da medicação que passei pra ela. logo que sai do quarto encontrei a Natalie no corredor.

Nat: Oi, como ela está?

Eu: Dormindo. Os bebês estão bem, não teve problemas em eliminar o feto. Se ela continuar assim, amanhã ela vai pra casa de manhã. O feto está no laboratório passando por exame para detectar se havia alguma má formação. Se quiserem fazer um enterro no jardim de casa porque no cemitério não conseguirão enterrá-lo.

Nat: Sim, vamos querer. – ela entrou no quarto.

Eu: Observa as emoções dela. Dê espaço, mas fica de olho ao mesmo tempo. Ela está firme como uma rocha e não sei se isso vai ser bom pra ela. – expliquei mais algumas coisas e sai do quarto as deixando a sós. Aquela noite Natalie foi pra casa dar de mama a filha mais nova e voltou para dormir com a Priscilla. E a Priscilla? Bom... Não falava uma só palavra nem mesmo com a Natalie. Na manhã seguinte a examinei cuidadosamente, e estava tudo bem. Dei a Natalie uma pequena caixa branca com o feto para que elas fizessem uma despedida delas. Como era muito novinho não haveria um enterro em cemitério então eu aconselhei a fazer como muitas mamães fazem quando sofrem um aborto dessa maneira, que é enterrá-lo numa roseira. Ela não quis vê-lo, não queria ficar impressionada. A preocupação agora era com o emocional. Eu pedi uma semana de repouso pra ela. Não ia precisar de tudo isso, mas como eu a conheço, ela com certeza ia querer trabalhar feito uma maluca pra esquecer então a obriguei a ficar em casa 7 dias.

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora