Capítulo 56

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Nat: O que houve? Está distante, pensativa.

Eu: Eu... – suspirei – Eu fiz uma cirurgia no coração que era do nosso filho ontem. – ela travou e me olhou.

Nat: O... O que?

Eu: Ontem teve um acidente bem grave. A família foi levada para o Barra Dor e o menino teve inúmeras paradas cardíacas, estava com hemorragia interna também. Eu e o doutor Afonso fizemos a cirurgia e eu cuidei do coração dele. Eu pedi para levantarem dados dele se ele tinha passagem pelo hospital e se ele era alérgico a alguma coisa e ele tomava remédios anti rejeição desde os 2 anos. Ele tinha um coração transplantado e o transplante dele aconteceu a 8 anos na madrugada do dia 11 de outubro ali no Barra Dor... Eu fiz a cirurgia toda pensando nisso. E quando eu fui para o meu consultório, eu abri a ficha dele e olhei os históricos daquela madrugada. O único transplante de coração que teve naquela madrugada foi o dele e o doador era o nosso filho. – limpei a lágrima que caia. – Eu coloquei as minhas mãos naquele coração. O coração do meu filho. – ela estava em silêncio, e olhando fixamente pra mim.

Nat: Eu... Eu posso conhece-lo?

Eu: Não Natalie, isso é antiético. Eu não podia nem ter olhando a ficha dele mais a fundo eu não poderia nem ter tocado nele sendo que o coração dele era do nosso filho.

Nat: Priscilla, é o coração do nosso filho – falava entredente segurando o choro.

Eu: Eu sei... Como você acha que eu trabalhei o plantão inteiro sabendo que o coração do nosso filho esteve nas minhas mãos e estava num quarto dentro daquele hospital? – falei nervosa. – Não vamos brigar por isso Natalie. Reparou que todas as nossas brigas tem a ver com o nosso filho? E nosso casamento acabou por causa disso. Então não vamos brigar de novo. – deixei a taça na mesa da sala e fui para o meu quarto. Fiz minha higiene e deitei. Acabei dormindo rápido estava com dor de cabeça. Acordei com a Natalie deitando ao meu lado e me abraçando. Fechei os olhos novamente e logo dormi. Eu fui trabalhar na tarde do dia seguinte. Fui passar minhas visitas e fui na UTI ver o menino. Ele estava bem, já tinha saído do coma induzido, mas ainda inspirava cuidados. Ele estava dormindo quando o vi. Passei pelo quarto dos pais, era minha responsabilidade aquela hora cuidar deles. – Oi, boa tarde.

XX: Boa tarde – sorriu de leve.

Eu: Eu sou a doutora Priscilla Pugliese, como está se sentindo?

XX: Muito prazer, Ângela. Eu estou bem, estou dolorida, mas estou bem. Como está meu filho?

Eu: Ele está bem, está dormindo, acabei de examiná-lo. Ele vai permanecer na UTI por alguns dias ainda, mas está fora de perigo. – sorri pra ela.

XX: Obrigada. É a segunda vez que cuida do meu filho. – não entendi.

Eu: O que disse?

XX: É a segunda vez que cuida do meu filho. Quando deu o coração do seu filho pra ele e agora. – sorriu.

Eu: Como... Como você sabe... disso? – segurei o ar.

XX: Eu estava lá, no corredor da cirurgia, quando você e sua esposa se despediam dele para dar ao meu filho um coração. Eu fui até lá escondida, eu sabia que não podia fazer aquilo. Mas eu queria estar lá de alguma maneira. Eu sou mãe, eu era uma mãe desesperada pra ter o filho salvo e você e a sua esposa, eram duas mães perdendo um filho. Queria estar presente de alguma forma. O filho de vocês estava partindo e isso trouxe a vida ao meu. – deixei cair uma lágrima que sequei rapidamente.

Eu: Eu soube no meio da cirurgia que aquele coração que eu estava segurando era o coração do meu filho. Depois eu só confirmei. – respirei fundo pra controlar o choro. – Eu contei pra minha mulher ontem a noite o que aconteceu, e ela ficou assustada. Nunca pensei que um dia esbarraria com quem carregava o coração do meu filho.

XX: Gostaria de agradecê-la também e temos um presente para vocês. – achei estranho – Pedi minha irmã pra trazer quando ela vir hoje. Fizemos esse presente há 3 anos. E gostaria de entregar a vocês duas.

Eu: Claro, vou ligar pra ela e pedir para vir até aqui.

XX: Minha irmã vem as 19 horas.

Eu: Ok... Obrigada. – sai do quarto fui para minha sala me recompor. Mandei mensagem para a Natalie pedindo para ir até o hospital as 19 horas. Atendi o resto do dia até as 19 horas. Ela chegou.

Nat: Oi – me deu um beijo.

Eu: Oi.

Nat: O que eu estou fazendo aqui? Não disse nada.

Eu: A Ângela, mãe do Gabriel o menino que recebeu o coração do nosso filho quer nos dar um presente – ela segurou o ar. – Vamos?

Nat: Vamos – seguimos silenciosamente até lá. Bati na porta e a irmã dela abriu. Eu entrei em seguida a Natalie.

Eu: Ângela, essa é a Natalie.

Nat: Muito prazer – sorriu emocionada.

XX: Muito prazer... – sorriu. – Sueli, me dá a caixa. – ela deu a caixa a ela. – Quando fomos para os EUA, nos mudamos para lá 1 ano depois do transplante. Morávamos em Boston, então o Gabriel fez todo o acompanhamento lá. Antes de voltarmos para o Brasil a 3 anos, ele passou por uma consulta e no mesmo hospital, eles faziam, para familiares que perderam os filhos e doaram o coração esse presente, então pedimos que fizessem para vocês e quando a gente se esbarrasse, porque eu acreditava que isso aconteceria, eu entregaria para vocês duas. – me deu a caixa. Eu abri era um bicho de pelúcia bem fofinho e lindo. – Aperta no coração – eu apertei e eram batidas fortes de um coração. Eu já tinha entendido. – Essas são as batidas do coração do filho de vocês.

Nat: Oh meu Deus – soluçou e abraçou o urso. Eu a abracei e dei um beijo na testa dela. – Obrigada... Muito obrigada... – a abraçou devagar por conta dos ferimentos.

XX: Eu que tenho que agradecer pelo altruísmo de vocês.

Nat: Meu Deus é perfeito... Ângela, eu posso vê-lo? Só quero vê-lo.

XX: Claro que sim – sorriu. Conversamos mais um pouco com ela e fomos até a UTI. A Natalie colocou a mão no peito dele, depois deu um beijo na testa dele. E logo saímos de lá. Fomos para a minha sala. Eu fechei a porta e a abracei. Nós duas choramos, como naquele dia, mas era um choro de saudade. E agora ter uma lembrança do coração do nosso filho era de grande valor pra gente.

Nat: Que sonho...

Eu: Eu sei...

Nat: Que saudade do meu menino...

Eu: Eu também sinto e muita saudade, todos os dias.

Nat: Tem um tempinho para jantarmos?

Eu: Sim, tenho 1 hora – avisei na recepção e fomos jantar ali perto.

Nat: Desculpa por ontem.

Eu: Tudo bem, não vamos falar disso. – jantamos falando sobre a suspensão da Júlia, a próxima ela é expulsa. Recebemos o e-mail da direção do colégio dando esse aviso. As chances dela ser expulsa eram bem reais. Terminamos o jantar, tomamos um sorvete, ela foi embora e eu voltei para o hospital. 

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora