Capítulo 48

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NATALIE NARRANDO...

Como era bom estar com ela. Sentir o toque e o cheiro dela, o gosto dela o corpo dela no meu. Era a melhor sensação do mundo. Dormimos abraçadas depois de anos separadas, pela primeira vez mesmo depois de já termos transado outras vezes, a gente dormiu abraçadas como fazíamos antigamente. Acordei era as 8 da manhã tomei um banho me vesti, passei pelo quarto das meninas era sexta feira o colégio não teria aulas naquele dia, era conselho de classe. Em algumas semanas elas entram de férias. Fui pra casa fiz minha mala e voltei para a casa da Priscilla. As meninas já tinham acordado e estavam fazendo as malas, a Pri também estava. Tomamos café da manhã e pegamos estrada.

Alice: Júlia... Acorda Júlia...

Júlia: Oi o que foi? – acordou assustada.

Alice: está cortando o meu oxigênio sentada em cima da cânula.

Júlia: Ai desculpa eu estou cansada.

Alice: Dormiu cedo e está cansada?

Júlia: Passei horas tendo uma DR com a Hanna que não deu em nada, dormi mal.

Eu: Deixa a poeira abaixar filha, ela está nervosa e sabe como ela fica quando está nervosa. – ela não me respondeu.

Alice: Júlia não pode ignorar a mamãe pra sempre. Parem com isso vocês duas, que coisa chata. A gente nunca fica em paz, porque vocês duas vivem se pegando se maltratando. Isso é irritante e insuportável. Nossas mães se amam, e o que impede as duas de ficarem juntas é você, porque você é insuportável. Acaba com essa culpa ridícula que você não tem e pare de culpar a mamãe por ela ter ido embora. Experimentou pergunta-la os motivos, e o que houve? Não com certeza não, porque você é igual a dona Priscilla sua outra mãe, é orgulhosa feito uma mula. Eu não falo com mais ninguém nessa casa enquanto vocês não pararem com essa palhaçada e selarem a paz. – falou num só folego.

Pri: Ok... Isso foi pesado.

Alice: Isso serve pra você também mamãe. Enquanto não se resolver com a mama e dar umas porradas na Julia para ela parar com essa putaria eu não falo com a senhora também. – ela estava realmente irritada.

Pri: Quero tudo isso tanto quanto você filha.

Alice: Para o carro...

Pri: Pra que?

Alice: Eu não vou mais.

Pri: Para de palhaçada Julia não estou com paciência mais pra isso pelo amor de Deus. A gente já está chegando. – o resto da viagem foi em total silêncio. Chegamos, e nos instalamos. Fomos ao supermercado compramos algumas coisas e voltamos para casa. A noite a Júlia estava sentada na areia da praia nos fundos de casa. – Vai até lá...

Eu: Acho melhor não Pri.

Pri: Não custa tentar... – eu respirei fundo e fui até lá.

Eu: Oi... – ela só me olhou e voltar a olhar para o mar. Me sentei ao lado dela. – Eu tentei me matar. – ela soltou o ar que acho que ela nem sabia que estava prendendo.

Júlia: Eu não quero saber...

Eu: Eu preciso falar. Quando seu irmão morreu, eu me culpei ao extremo por isso. Desde o primeiro segundo eu me culpei por isso. Quando o sofá caiu em cima da Alice e eu estava apagada eu tomei um monte de remédio e bebi uma garrafa inteira de vinho. Eu não queria mais viver. Eu não queria mais nada. Eu entrei na minha bolha de culpa e deixei você, sua irmã e sua mãe de lado. Ai veio a assistente social e as chances de perder vocês. Eu não podia fazer isso com vocês e com a mãe de vocês. Sua mãe me mandou embora de casa e depois do natal eu decidi ir embora. Eu precisava me recuperar, eu precisava ficar bem pra ser mãe de novo e ser esposa. Eu abandonei também a minha empresa e até o que eu mais amava profissionalmente sua mãe teve que cuidar. Eu fui para o Sul e eu proibi minha família inteira de dizer onde eu estava. Minha irmã me indicou uma clinica de reabilitação. E eu fiquei lá, até poder ficar bem e voltar. Quando eu voltei você não chegou perto de mim, sua mãe não quis me ouvir e já pediu logo o divorcio. Ela só soube disso tudo recentemente, porque ela não quis me ouvir todos esses anos.

Júlia: Eu senti sua falta, desde o dia que voltei pra casa após a morte do Pedro e você estava deitada na sua cama completamente estática. Você não me ouvia, você não falava comigo a não ser que fosse para mandar ir tomar banho e me arrumar para ir para o colégio. Você simplesmente esqueceu que me tinha, que tinha minha irmã. Ai aconteceu o acidente da Alice, minha mão cortada, o natal que não passou com a gente e logo você nos acordou se despediu dizendo que precisava ir, mas que voltaria quando pudesse. Eu tinha quase 7 anos e eu lembro disso tudo como se fosse ontem. – secava as lágrimas – Eu senti sua falta. E quando você foi embora eu senti raiva, muita raiva de você. Eu sempre soube que meus avós sabiam onde estava e foi cruel da parte deles fazerem isso com duas crianças e com a minha mãe. - falava com raiva.

Eu: Filha, seus avós não tem culpa disso...

Júlia: Por Deus mãe... É claro que tem. Não tiveram o amor nem de dizer pra mamãe onde você estava. Por favor, não os defenda. – a Júlia não gosta muito dos meus pais e nem dos meus irmãos. Ela mal fala com eles.

Eu: E isso também é culpa minha.

Júlia: Sim, isso é sua culpa. Sabe por que eu tento não te amar? – me olhou pela primeira vez e a mágoa estava estampada nos olhos dela – Por que você me decepciona e eu sinceramente não consigo sentir de novo mais decepção vinda de você. Eu tenho medo de te amar e você acabar com tudo mãe então eu me mantenho a uma distância segura de você.

Eu: Eu te amo tanto – solucei – Você é minha filha. Você saiu de mim... Meu Deus Júlia eu nunca quis ferir você, eu nunca quis que você se sentisse assim comigo, que você ficasse distante de mim. Eu te amo demais filha. Eu piso em ovos com você todos os dias embora muitas vezes você dificulte muito isso pra mim, mas eu sou sua mãe. Eu sei que lá no passado eu não fui a melhor mãe do mundo, mas eu amo demais você. Quando você for mãe você vai chegar perto do medo que é perder um filho e eu perdi o meu, debaixo dos meus olhos. Eu não conseguia existir, eu não conseguia respirar. Por favor filha, me perdoa. É tudo que eu mais sonho. Com seu perdão. – chorava.

Júlia: Eu não consigo mãe – soluçava. Eu aproximei e a abracei forte. Ela me batia mesmo abraçada a mim. – Eu queria te odiar – soluçava – Eu queria odiar você por tudo isso. Por me fazer sentir culpa. – soluçava.

Eu: Você não tem culpa de nada filha, de nada... Por favor não se sinta assim mais. Eu te amo. Nunca culpei você de nada. Você não tem culpa de absolutamente nada disso filha, mas eu estou aqui, eu te amo com todo meu coração.  – ela me batia e sem se soltar do abraço. Eu deixei, eu apenas deixei que ela me batesse que ela colocasse pra fora. Ela chorava desesperadamente. – Eu te amo meu amor me perdoa...

Júlia: Eu... Eu te amo mãe... – soluçava. – Não me abandona de novo, eu não vou conseguir sozinha de novo. Não me abandona de novo - seu choro era descontrolado e de desabafo.

Eu: Eu não vou abandonar você. Nunca mais meu amor, nunca mais... – aos poucos ela foi se acalmando. Eu olhava cada detalhe do rosto dela, cada detalhe do corpo dela. A gente se parecia fisicamente, embora os olhos azuis. O gênio dela era bem parecido com o da Priscilla, era impressionante como as duas tinham o gênio parecido. – Está um pouco frio vamos entrar?

Júlia: Tá... – sussurrou. Saímos da areia e fomos pra casa. Ela foi tomar um banho pra tirar a areia do corpo e eu fui para o quarto onde a Priscilla falava no telefone. Logo ela desligou.

Pri: E ai como foi? Pela cara inchada de chorar sei que foi intenso.

Eu: Muito intenso – voltei a chorar e ela me abraçou.

Pri: Tudo bem, você abriu seu coração agora deixa ela digerir tudo isso, deixa ela no canto dela. Conhece nossa filha. – me deu um beijo. Passamos um final de semana um pouco esquisito. A Júlia não falava muito, estava introspectiva e pela mensagem que a Hanna mandou para Pri, nem com ela a Júlia falou durante o final de semana inteiro. Voltamos no domingo a noite para o Rio. A semana passou extremamente rápida. Eu trabalhei demais, fui a São Paulo para uma reunião e a Júlia estava calada. Me abraçava, aceitava meu carinho, mas estava na dela. Resolvi marcar terapia pra ela com a mesma psicóloga que tem atendido a Alice. Alice finalmente vai voltar para o colégio, mesmo com o oxigênio. Ela fez aulas online para recuperar o tempo perdido e também era muito inteligente. A Priscilla parecia um gavião em cima dela, mandando mensagem o tempo todo. Eu e a Priscilla estamos bem, a gente passa quase todas as noites juntas, saímos para jantar. Nossa vida parecia estar voltando ao normal. 

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora