Cheguei lá tinha muita gente e muitos estavam revoltados com o ocorrido. A atmosfera, a energia dali era muito diferente, tinha um peso muito maior do que costuma ter nesses lugares. Eu: Oi, desculpa quem é a mãe do menininho?
XX: É a Neide, ela está sentada ali na copa de blusa branca. – uma senhora me respondeu. Eu acho que eu estava chamando um pouco de atenção pelas roupas, pelo carro que cheguei. Fiquei um pouco desconfortável com os olhares alguns meio que ameaçadores para mim, como se eu de alguma forma fosse uma ameaça ali e todos pareciam querer entender quem eu era e o que eu fazia ali. Cheguei primeiro onde o garoto era velado e me senti arrastada a quando meu filho estava sendo velado. Eu sabia exatamente a dor daquela mãe. Logo fui até a copa onde ela estava com mais duas mulheres. Ela estava desolada.
Eu: Dona Neide? – ela me olhou.
Neide: Quem é a senhora? – perguntou baixo.
Eu: Priscilla... Priscilla Pugliese...
Neide: A coroa... A coroa do hospital foi a senhora que mandou não foi? O seu sobrenome tá nela.
Eu: Sim, foi eu sim. Sei que não está entendendo nada, mas eu vim aqui prestar minha solidariedade a senhora, dizer que eu sei exatamente – a voz embargou – O que a senhora está sentindo, porque eu também perdi um filho por causa de um irresponsável. E vim também te agradecer, pelo ato de bondade em meio a tanta dor em salvar outras 5 crianças. Eu passei essa noite e a virada do ano, transplantando o coração do seu filho, numa garotinha de 5 anos – ela chorou e eu me sentei ao lado dela e o meu instinto foi acolhê-la num abraço – Obrigada por salvar mais 5 crianças e sinto muito, de todo o meu coração, por ter perdido seu garotinho.
Neide: Ele só tinha 5 anos. E a gente nem sabe quem foi... Isso não é justo... – falava desolada.
Eu: Não... Não é justo – muitas pessoas estavam ali já, em meio a curiosidade, tentando entender o que eu estava fazendo ali e o que eu queria com a mãe daquele menino.
Neide: Como que faz? Pra chegar em casa e passar? Quando passa essa dor que parece que vai me matar?
Eu: Demora... Estou sendo muito honesta – sequei a lagrima que caia insistentemente – Quando eu perdi meu filho, eu me senti impotente 3 vezes. Uma por não estar lá na hora e ter impedido de alguma forma que aquele acidente acontecesse, mais uma vez por ser médica e não poder fazer nada para reverter o quadro dele que também era de morte cerebral e mais uma vez por ver meu filho ali tão pequeno 2 aninhos na minha frente e nem esse amor de mãe que é tão forte e capaz de milagres através de uma oração poderia trazê-lo de volta. Eu ali queria ser médica e não podia, eu era mãe e a dor era insuportável como essa que está sentindo e a indignação me corroía por dentro. Eu e minha esposa doamos os órgãos dele, no dia seguinte o velamos o enterramos, ainda tínhamos duas filhas de 6 e 4 anos para cuidar. Minha esposa morreu para o mundo, o rapaz foi condenado está pagando até hoje, pegou 25 anos e é pouco. Está a 8 anos preso. Meu casamento em poucos meses acabou tudo mudou na minha vida e doeu e doeu muito por muito tempo. E doi, no aniversario dele, no dia da morte, a gente revive o dia. Mas com o tempo a gente vai aprendendo a transformar aquela dor insuportável em saudade da risada, da voz, para não sucumbir a raiva ao ódio e a indignação. E a gente vive, um dia de cada vez, chora, ri, chora de novo, não perca a fé em Deus, a fé nas pequenas coisas, isso nos mantem vivas. – ela pegou minha mão e deu um beijo.
Neide: Obrigada. Obrigada por se importar...
Eu: Não tem que agradecer.
Neide: E a sua ex mulher? Não fala mais com ela?
Eu: Vamos nos casar em 4 dias, e ela está grávida, fizemos inseminação – sorri e ela sorriu também.
Neide: Isso é bom.
Eu: É... Temos duas filhas adolescentes que nos enlouquece todos os dias, mas são nossos amores. Tem mais filhos?
Neide: Sim, uma menina de 13 anos, um menino de 7 e uma menina de 2.
Eu: Idades bem diferentes e complicadas de lidar ao mesmo tempo né? As vezes dá vontade de se trancar no banheiro e não sair de lá nunca mais né? – ri e ela riu também.
Neide: A pequena parece um projeto do Bin Laden se não desligar o botijão de gás, ela põe fogo na casa – rimos.
Eu: Minhas filhas tem dois anos de diferença, 15 e 13 anos, Júlia e Alice. Tem dias que dá vontade de soltá-las na estrada. Mas ser mãe é divino. Essa é a dor e a delicia de ser mãe.
Neide: Sim... – suspirou. – Será que algum dia vou saber quem fez isso com meu filho? – me olhou nos olhos.
Eu: Creio em Deus que sim. Uma pericia está sendo feita com certeza. Ele vai ter a justiça, ele não vai ter partido em vão. Tenho fé que não.
Neide: Assim espero.
Eu: Eu preciso ir, fiz um plantão de 24 horas, sai do hospital e vim pra cá. – a abracei forte. – Fica com Deus.
Neide: Vai com Ele também e obrigada por tudo isso.
Eu: Imagina. Toma, esse é meu cartão. Tem meus telefones, promete que vai ligar se precisar de qualquer coisa?
Neide: Prometo.
Eu: Me dá seu numero?
Neide: Dou – dei meu celular pra ela e ela salvou.
Eu: Qualquer coisa me liga.
Neide:Tá... –levantei e fui embora. Meu coração estava em paz. Eu precisava daquilo. Nocaminho liguei para o doutor Palhares e pedi indicação de um advogadocriminalista o melhor que pudesse me indicar para pegar o caso. Ele me indicouuma mulher chamada Giovana Mendes. Entrei em contato com ela enquanto dirigiapra casa, ela me disse que soube do caso e disse que pegaria sim o caso e fariaquestão de botar quem fez isso na cadeia. Passei o numero da mãe do menino praela, e disse que honorários não deveriam ser mencionados a ela, somente a mim.Eu precisava der esse conforto a essa família. Cheguei em casa abracei minhamulher, minhas filhas como era bom tê-las.
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NATIESE EM: A CULPA
FanficMeu nome é Priscilla Álvares Pugliese Felix, tenho 34 anos, sou médica cardiologista e cirurgiã geral, atualmente moro num condomínio na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Sou divorciada de Natalie Kate Smith de Almeida 35 anos arquiteta e engenheir...