Capítulo 114

918 57 10
                                    

6 ANOS SE PASSARAM...

O tempo voou e hoje estou aqui no andar da cirurgia esperando os novos residentes de cirurgia do hospital. Cada chegada de novos residentes era uma boa sensação como chefe, mas agora, era mais que especial. Era o primeiro ano de residência cirúrgica da minha filha. Júlia entrou para a disputa de uma vaga em residência cirúrgica. Quem cuida disso agora é um cardiologista que entrou a 3 anos, após a morte do doutor Hernandez. Perdê-lo foi horrível para mim, ele era um grande mentor, um grande chefe e foi difícil demais saber que não encontraria com ele mais nos corredores ou na porta da frente da minha sala. Doutor Rodolfo Blummer era um excelente cirurgião. Ele ficou responsável pela seleção dos novos residentes. Ele queria minha ajuda com isso, mas eu me recusei por causa da minha filha. Não queria causar um conflito de interesses, eu precisava ser imparcial então nem a prova de admissão passou por mim. Todas as escolhas feitas, passavam por ele e mais duas testemunhas, para confirmarem que não tem intromissão minha já que minha filha era uma candidata. Ela fez a mesma prova em outros hospitais também, mas a preferência dela era no Barra Dor. A mentora dela será a Luíza. Todos os médicos do hospital usam um uniforme preto, com exceção dos chefes de departamentos, que podem usar roupas comuns ou roupas brancas. Nós chefes, usamos roupas comuns e quando vamos para a cirurgia colocamos o uniforme preto e acabamos ficando com ele o resto do dia. Os internos e residentes usam um cinza ou podem usar roupa branca. Luíza passou por mim com Maria Clara e Gabriela, foram direto para a galeria. Logo o doutor Rodolfo chegou com os internos, meu coração disparou. Logo vi minha filha com aquele uniforme. Eu entregaria os jalecos com os nomes de cada um que estavam numa bancada. Era a nossa cerimônia do jaleco.

Rodolfo: Bem pessoal, muitos de vocês fizeram estágio aqui, outros o internato começou aqui. Fizemos um tour pelo hospital todo e agora aqui será onde passarão boa parte da vida de vocês. O programa de cirurgia do Barra Dor é intenso e os professores muito capacitados. Tirem duvidas, perguntem, peçam aulas extras no laboratório, só não fiquem em dúvida. Agora vou deixa-los com a chefe de cirurgia. – eles entraram e quando vi minha filha, meus olhos até brilharam.

Eu: Bom dia a todos... Eu sou a chefe de cirurgia do Barra Dor, Priscilla Álvares Pugliese. Sou cirurgiã geral e cardiotorácica. Estou na medicina a 18 anos, e sou chefe desse hospital a 8 anos. Coloquem as toucas, vamos entrar em ambiente estéril. – todos colocaram. A touca da Júlia era com a estampa igual a minha primeira touca, era preta com arabescos prateados bem discretos. Eu não sabia dessa touca e ela com certeza fez surpresa. Notei ao olhar para ela e ela piscar para mim. – Vamos lá?
Todos: Vamos...
– abri a porta da sala de cirurgia.

Eu: Há um mês, vocês estavam na faculdade de medicina recebendo ensinamentos de médicos. Hoje... Vocês são os médicos. Os 5 anos que passarão aqui como residentes de cirurgia serão os melhores e os piores de suas vidas. Serão pressionados além do limite. Oito de vocês escolherão uma especialidade mais fácil, cinco de vocês vão se descontrolar com a pressão. Dois de vocês serão convidados a se retirar. Este é o começo... esta é a sua arena. Quão bem vão se sair? Isso depende de vocês... – eles fizeram perguntas e logo fui entregar o jaleco. – Essa entrega é bem simbólica, mas queria fazê-la pessoalmente a vocês. Hoje vocês são os médicos, temos uma equipe imensa ali na galeria e eles serão seus mentores daqui para frente. – falei os nomes e quando chegou na vez da minha filha, meu coração parecia até ter errado a batida. – Doutora Júlia Smith Pugliese – ela sorriu e veio até mim. Peguei o jaleco o abri e coloquei nela, como fiz com todos eles. Peguei o cartão de acesso, o crachá, o pager, e coloquei no bolso dela. – Bem vinda doutora – sorri emocionada.

Júlia: Obrigada chefe... – a abracei e sussurrei no ouvido dela.

Eu: Meu bebê... Eu te amo.

Julia: Eu também te amo mamãe... – sussurrou de volta. Logo os médicos desceram fizeram a chamada deles. Eram 15 residentes, então 5 médicos desceram para recebe-los, doutora Luíza, doutor Marcelo, doutora Gabriela, doutor Vinicius e o doutor Rodolfo. Eu fui para a minha sala e liguei para a Natalie.

Nat: Oi amor.

Eu: Oi amor bom dia tudo bem?

Nat: Tudo ótimo e você?

Eu: Tudo bem. Eu vou te mandar o vídeo da pequena cerimonia. Ai amor que linda que ela ficou de uniforme. E ela fez uma touca igual a que eu usei no meu primeiro dia. – falei emocionada.

Nat: Sim amor, ela fez. Ela me perguntou como era, então eu mostrei a foto pra ela do seu primeiro dia e ela conseguiu achar o mesmo tecido numa loja e mandou fazer.

Eu: Todas as chegadas de residentes são incríveis, mas sem dúvidas essa foi a melhor. Minha bebê, minha menina agora é uma médica.

Nat: Estou tão orgulhosa dela amor.

Eu: Eu também, estou muito orgulhosa dela. – conversamos um pouco e desligamos. Fui embora era 18 horas, os residentes teriam o primeiro plantão de 48 horas deles. Cheguei em casa a Natalie fazia lição de casa com o Matheus e a Zoe, a Alice estudava para prova e o Samuel brincava com um quebra cabeças no tapete da sala. Cumprimentei a todos e subi para o banho, logo eu desci a Natalie pediu pizzas para gente, e eu fui brincar com o Samuel. – Oi filhinho, o que você tá fazendo?

Samuel: Montando um quebra cabeças mamãe – me abraçou. O Samuel foi diagnosticado com autismo aos 2 anos e meio. Foi um choque para mim e a Natalie, mas com menos de 2 anos ele não era uma criança comum. Fizemos os mesmos testes com Matheus, mas ele não tinha o autismo. O Samuel é muito quieto, não gosta de brincar com outras crianças. Ele tem 3 amigos além do Matheus e da Zoe, um se chama Paulo André, o outro se chama Davi e o Gael filho da Luíza. Eram os melhores amigos da vida dele e eles tinham uma amizade muito bonita. Ele faz terapia, fono, terapia ocupacional, tudo que é necessário para que ele tenha uma vida o mais normal possível. Ele é muito inteligente também, graças a Deus o autismo dele não é severo e mesmo não gostando muito de ter muitas pessoas por perto, ele era bem carinhoso comigo, com a mãe dele, com os irmãos e com minha mãe. Ele era um menino adorável. Ele tinha os picos dele, quando se sentia frustrado ou estressado então ficava nervoso, mas fora isso ele era muito tranquilo. – Mamãe, eu comprei esse aqui pra montar com você.

Eu: Que legal filho vamos montar então? – eu abri e ficamos montando juntos. Eram 100 peças. – Como foi seu dia filhinho?

Samuel: Legal. Eu brinquei, eu fiz um montão de desenhos. A mama me levou na escola no carro branquinho dela. – ele tinha algumas falas diferentes. Ele se acalmava passeando de carro, que ele se referia ao carro branquinho da mama, o carro cinza da mamãe e o carro prateado da Juju. Sempre que ele precisava ser contido, por ficar frustrado com algo ou sair da rotina dele, o acalmávamos passeando de carro, tomando uma bola de sorvete de chocolate e montando um brinquedo. Ele ama quebra cabeças, legos, cubos. A pizza chegou sentamos para comer, conversamos bastante. A Alice faz faculdade de engenharia civil, ela está com 21 anos e falta 1 ano para formar. Zoe está com 8 anos e é uma it girl, é a criança mais vaidosa que eu conheço e muito popular na escola. Se destaca muito pela generosidade. Ela participa de vários eventos beneficentes, ama ajudar todo mundo. Nos aniversários dela, pede alimento como presente para doação e achamos isso lindo demais. Minha mãe plantou isso nela, a levando para um lar de idosos para passar o dia uma vez e apoiamos muito ela nisso. O Matheus é terrível, meu Deus. Ele é muito inteligente e protetor, mas apronta horrores também. Nos deixa de cabelo em pé. A Júlia e a Hanna estão juntas até hoje, ficaram noivas a 3 anos. Eu e a Natalie demos um apartamento para elas de presente. Natalie decorou pessoalmente. Elas se casam no fim do ano. Luiza e Gabriela se casaram a 4 anos estão planejando um irmãozinho para o Gael que é um menino adorável. A Maria Clara e a Diorio se casaram também a 2 anos e meio e fomos madrinhas. 

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora