Capítulo 17

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Dedico esse capítulo a Ana Luiza prima da Isabela que está lendo a fanfic. Recebi seu recado, muito obrigada pelo carinho. Bjs :)

PRISCILLA NARRANDO...

Tudo acabou... E com dor... Por mais frieza que eu tentasse demonstrar através do meu olhar e de palavras, eu era apenas ruínas por dentro. Meu coração estava em milhares de pedaços. A aliança numa caixinha na gaveta. Nosso álbum de casamento guardado numa caixa no closet. Tudo acabou. Mas eu precisava continuar. Eu precisava continuar pelas minhas filhas, pelo meu trabalho, pelos meus amigos, pela minha família. Se eu amo a Natalie? Com todo o meu coração, mas eu não tenho condições emocionais e mentais para lidar com a instabilidade dela sendo que ela não me deixou ajuda-la em nenhum momento e fugiu, enquanto eu estou sofrendo como um inferno e nem posso me dar ao direito de sofrer, porque tenho duas crianças dependendo de mim e tenho todo um trabalho que requer muito da minha atenção. Eu não consigo compreender as atitudes dela. Sempre fomos companheiras, sempre fomos parceiras em tudo. Dividíamos problemas sobre o trabalho e nossas famílias. Ela passava horas me ouvindo falar de cirurgias difíceis e até vendo vídeos de procedimentos que ela dizia ser nojento, mas amava me fazer companhia e me encher de perguntas, assim como eu passava horas vendo-a desenhar, fazer plantas de casas, fazer tudo que ela sempre amou fazer. Ela teve todas as oportunidades do mundo de me falar que precisava de ajuda e que não conseguiria sozinha, mas ela não fez isso. Eu ofereci ajuda, mas ela não me deu ouvidos, ela recusou. Ela criou a bolha perfeita e impenetrável dela e ninguém entrava lá. Ela excluiu dessa bolha, a mim, as filhas e o trabalho dela. No começo achei que fosse por alguns dias afinal estava sentindo insuportavelmente aquela dor toda de não ter nosso filho correndo e espalhando brinquedos pela casa. Eu aos poucos sumia com algumas coisas que eram mais intimas dele para que ela e eu não sofrêssemos ainda mais do que já estávamos sofrendo, como as mamadeiras, o pratinho dele, alguns brinquedos que ficavam no cantinho da sala, mas a Natalie não saia daquele mundo que ela criou pra ela. Não dava mais... A partir do momento em que as meninas começaram a correr riscos ficando sozinhas com ela, não dava mais... No dia seguinte eu levei as meninas para tomar sorvete e contar o que estava acontecendo.

Eu: Juju, vem senta aqui com a mamãe preciso falar com você e com a Lili... – elas se sentaram ao meu lado no gramado do Jardim Botânico. A gente sempre passeava lá nos meus dias de folga. – Sabe aquela casa na esquina da nossa que a mamãe levou vocês para decidirem a cor do quarto de vocês?

Julia: Sim. O que tem?

Eu: Então... – suspirei – A mamãe Natalie vai morar lá agora.

Julia: Eu não quero morar com ela mamãe – me abraçou.

Eu: Você não vai morar com ela filha, ela só vai morar la, mas você e sua irmã vão morar comigo, mas vão passar algumas noites com ela, alguns dias também. Sempre que possível. Ela é mãe de vocês e amam vocês.

Alice: Você é casada com ela mamãe eu não entendo.

Eu: A gente não é mais casada filha. Ontem a gente assinou um papel que diz que não somos mais casadas.

Julia: Você não ama mais a mamãe?

Eu: Amo filha, amo sim. Mas a mamãe está num momento difícil e só dela, e a gente não pode ficar juntas, porque ela me afastou disso tudo. Então achamos melhor ficarmos separadas. Vamos conviver, participar de tudo relacionado a vocês, mas vamos ficar em casas separadas – passei cerca de 1 hora explicando tudo pra elas. Era bem tarde da noite, estava frio aquela noite e chovendo. Acordei por volta de 1:40 com a Julia me chamando.

Julia: Mamãe...

Eu: Oi filha – acordei no susto.

Julia: Posso dormir com você hoje? Eu estou com medo.

Eu: Pode amor, vem – ela subiu na cama e deitou se aconchegando em mim. Dei um beijo nela e ela logo dormiu de novo. Depois da mudança definitiva da Natalie parece que tudo ficou mais difícil com relação as meninas. A Júlia desenvolveu uma aversão a Natalie que ninguém muda. Quando ela vai passar o dia com a mãe, ou o final de semana, diz a Natalie que ela nunca quer brincar de nada, nunca quer fazer nada. Relatei isso a psicóloga dela e ela trabalharia isso com ela. Alguns dias depois recebi a visita da assistente social Márcia. Ela já estava indo a casa da Natalie também e passou por lá antes de vir a mim. – Entra Márcia, bom dia – era sábado.

Márcia: Com licença... Espero não estar atrapalhando nada.

Eu: Não, imagina. Só estou estudando um caso tentando uma maneira de salvar uma criança, mas sinceramente está impossível.

Márcia: E o que ele tem?

Eu: Ele tinha um sopro quando nasceu, e com o tempo esses pequenos sopros diminuem, mas ele já está com 2 anos e só piorou. O menino fica azul, o lábio dele escurece, chega a ser assustador até para nós médicos. Analisamos e ele tem um buraco no coração. Um buraco que se fosse um tiro não seria tão grande. Estamos tentando evitar um transplante, nossas possiblidades estão esgotando. Sente-se, aceita um café, uma água, um suco.

Márcia: Uma água por favor – fui até a cozinha peguei água pra ela. – Como tem sido para você a separação?

Eu: Dolorosa. Eu amo a Natalie Márcia, mas do jeito que as coisas estavam seguindo não tinha mais condições. Eu precisava colocar a minha vida em ordem, dar estabilidade para as meninas. Eu estava cuidando do meu trabalho que não era nada fácil e ainda cuidando da empresa dela que eu não entendo absolutamente nada, da casa, das meninas, das lições de casa. A pergunta diária de "quando a mamãe volta". Não nego que está difícil.

Márcia: Te entendo. As meninas estão lá, a Alice está muito adaptada, conversa com a mãe brinca, a casa é bem agradável, e já tem toda a segurança para elas. Os quartos delas são lindos. A Natalie disse que as meninas vão e voltam da escola de transporte escolar o que sente sobre isso?

Eu: Sim, vão. Particularmente eu não gosto. Eu e a Natalie revezávamos muito bem quanto a isso, mas quando ela virou uma ostra, era tudo por minha conta, as vezes minha mãe ou a tia dela me ajudava quando estava em alguma cirurgia, então a babá as coloca na van e as pega todos os dias na porta de casa. A Alice a uma semana chegou com uma marca de mordida no braço disse que foi um menino da van e ela ficou extremamente chateada. A babá Cintia é um amor de pessoa cuida muito bem delas, e ela dirige, então essa semana vou providenciar um carro pra uso das meninas, assim ela leva e busca pra mim com mais segurança.

Márcia: Isso é muito bom. A Júlia tá meio reticente à mãe ainda. Ela não abraça, ela mal conversa, ela não chega muito perto. Ela interage muito com a irmã, mas não interage com a Natalie a menos que seja necessário. Ela está fazendo terapia, mas tem sessões em que ela se fecha como uma ostra pelo que a Natalie falou.

Eu: Sim. Eu já tentei falar com ela, de todas as maneiras, mas ela não aceita a aproximação da mãe e realmente as vezes ela vai a terapia e só desenha, ou só chora, mas não fala nada e quando fala é sempre com muita mágoa de tudo isso.

Márcia: Priscilla, eu fiz a mesma pergunta para a Natalie e vou fazer para você. Está acontecendo aqui alienação parental? – eu assustei com a pergunta.

Eu: Não Márcia de maneira alguma. Eu nunca falei mal, ou fiz insinuações ruins com relação a Natalie para nenhuma delas. Quando eu percebo que a Julia tá mais triste, eu converso com ela, digo que não é pra ela ficar guardando mágoa no coraçãozinho dela, que a mamãe estava doente quando a gente perdeu o Pedro, mas que ela a ama muito e agora ela está bem. Eu reforço isso sempre. Eu amo a minha ex mulher, mas nesse momento não podemos ficar juntas para o nosso bem estar e por tudo que aconteceu.

Márcia: Você a culpa pelo que houve?

Eu:Uma única vez eu joguei na cara dela, mas num momento de raiva apenas. Eu nuncaa culpei de coração e essa vez que joguei isso na cara dela foi a única eultima vez. –conversamos longamente nesse dia. Logo chegou agosto e as aulas retornaram. Euvoltava aos poucos minha rotina no hospital. 

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora