PRISCILLA NARRANDO...
Foram 15 minutos... 15 minutos de total silêncio. Aquela emergência nunca esteve tão quieta antes. Por alguns momentos consegui prestar atenção no som dos ponteiros do relógio de parede, a recepção vazia, sem aquele transito de recepcionistas e enfermeiros. O sangue do Rodrigo no lugar que ele caiu baleado, a enfermeira morta perto da porta com uma poça de sangue em volta. Ali na emergência só tinham as salas de trauma e algumas macas onde fazíamos os pré atendimentos e a internação era mais no fundo. Eu não sabia o que tinha acontecido enquanto eu estava em cirurgia, mas acredito que o doutor Hernandez tenha evacuado todos que estavam ali quando tudo aconteceu e logo foi fazendo os bloqueios. Eu só pensava em manter o resto do hospital seguro, principalmente as crianças na pediatria e na Neonatal, os blocos cirúrgicos. Alguns enfermeiros continuavam sentados ali no chão em total silêncio. O elevador fez barulho e logo uma movimentação e alguns tiros foram disparados e os enfermeiros gritaram. Uma pessoa foi atingida de raspão, mas o Alexandre foi contido novamente. Eu fui até a porta do hospital, eu não sentia mais dor eu não sentia nada, eu só queria que as pessoas ficassem bem. Meu celular tocou, era a Natalie eu a atendi. Minha mulher estava apavorada, e ela estava carregando meu filho na barriga, eu precisava acalmá-la. Falei com ela rapidamente. Eu queria ir pra casa, mas minha família estava segura. Logo o hospital estava tomado por policiais e peritos. Eu desbloqueei todo o hospital coloquei minha touca e fui para o andar da cirurgia. Peguei uma máscara e entrei na sala do doutor Hernandez, ele estava tentando salvar o Rodrigo.
Eu: Precisa de ajuda doutor?
Hernandez: Como está lá embaixo? Como subiu? – fazia tudo rapidamente com a ajuda de um residente.
Eu: Foram capturados. Como ele está?
Hernandez: Mal... Eu não estou conseguindo reparar a aorta dele está muito frágil.
Eu: Não é melhor coloca-lo na UTI e deixa-lo descansar? – as máquinas apitaram. – O que houve?
Hernandez: Tem sangue demais... Aspira aqui – pedia ao residente dele.
Anestesista: Doutor Hernandez, tem sangue no dreno, no cateter da mão dele, e saindo pelo nariz e ouvidos.
Eu: Não... – a voz embargou. Eu queria chegar perto, mas não podia avançar o campo estéril. - Checa as pupilas – checou.
Anestesista: Fixas e não reagentes.
Hernandez: O coração dele parece uma pedra... – parou e olhou para o teto e me olhou. Eu já estava chorando, meu coração parecia querer sair pela boca – Não dá pra fazer nada... – suspirou. Eu me aproximei o máximo que eu podia e mesmo com os choques, ele não reagia.
Eu: Rodrigo, você vai ser pai... O que eu vou dizer mãe do seu filho e pra ele? Reage, pelo amor de Deus, não faz isso. Você... Você é meu melhor amigo... – solucei. Ele parou. Um silêncio absurdo, e somente o som do monitor cardíaco ecoava pela sala.
Hernandez: Hora do óbito 21:57 minutos. – eu sai dali e chorei como nunca. Depois de uns 30 minutos vi a Luíza saindo da cirurgia do menino, ele não resistiu também. Teve hemorragia grave demais.
Luíza: O que houve?
Eu: O... O... – respirei fundo – O Rodrigo...
Luíza: O que tem ele? Ele foi baleado?
Eu: Sim.
Luíza: E como ele está? – perguntou preocupada.
Eu: Ele... Luíza, senta um pouco...
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NATIESE EM: A CULPA
FanfictionMeu nome é Priscilla Álvares Pugliese Felix, tenho 34 anos, sou médica cardiologista e cirurgiã geral, atualmente moro num condomínio na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Sou divorciada de Natalie Kate Smith de Almeida 35 anos arquiteta e engenheir...