Capítulo 18

1K 65 11
                                    

Era fim de tarde quando a babá me ligou - Oi Cintia?

Cintia: Dona Priscilla, as meninas não estão no colégio.

Eu: Como assim Cíntia? Como elas não estão no colégio? – apavorei.

Cintia: Vim busca-las e o porteiro disse que elas saíram mais cedo com a mãe delas.

Eu: Natalie. – suspirei.

Cintia: Possivelmente.

Eu: Eu vou ligar pra ela – desliguei e liguei pra ela.

Nat: Oi Priscilla?
Eu: Que historia é essa de pegar as meninas mais cedo no colégio e não me avisar? Você raptou nossas filhas. Está ficando Louca? Quer que eu peça uma medida protetiva conta você Natalie? Porque não é de hoje que você está dando indícios de que você quer isso.
– eu estava irada.

Nat: Priscilla, elas são minhas filhas também. Eu queria passar um tempo com elas, eu sai do trabalho mais cedo e fui busca-las. Eu tenho direito de estar com elas, tanto quanto você – falou nervosa.

Eu: Sim você tem, é claro que você tem e eu nunca neguei seus direitos, mas existe uma coisa chamada AVISAR, sabe como isso funciona? Vou te explicar...

Nat: Priscilla...
Eu: Cala a boca e escuta... Você pega o seu telefone procura meu número ou o número da Cíntia que é a babá das meninas e me ligou desesperada, porque chegou na escola e as meninas não estavam, e fala, "hoje eu vou sair mais cedo do trabalho e vou pegar as meninas para passar um tempo com elas, tomar um sorvete, ir a um parque tudo bem?" é assim que se faz Natalie. Você não vai escola e simplesmente as pega e não avisa ninguém. Se a Cíntia não tivesse me ligado primeiro, ela teria chamado a policia e você seria considerada sequestradora, já que as meninas são responsabilidade minha.

Nat: Priscilla não precisa desse show todo. Estamos sentadas na grama de um parquinho tomando um sorvete, não estamos fazendo nada demais, por favor, para com esse escândalo. – tentava manter a calma.

Eu: Não Natalie, eu não vou parar com o escândalo não. As coisas não são mais como você quer, como você pensa. Tem limites, tem regras, para com isso. Você quer ir na justiça? Nós vamos, e você vai perder e sabe disso, e quem vai sofrer são as meninas, é isso que você quer? Você já as abandonou por 9 meses, quer que agora elas sejam tiradas da casa delas enquanto a gente briga na justiça por elas? Pelo amor de Deus, faça um pouco de sentido, você está perdendo a razão faz muito tempo. Tragam-nas para casa agora. Você tem 30 minutos. Se em exatos 30 minutos elas não estiverem aqui, eu vou chamar a policia e te acusar de sequestro. – desliguei na cara dela. Isso estava saindo do controle, não era nem para estar acontecendo. 20 minutos depois ela chegou com as meninas, com os uniformes sujos de sorvete. Pedi a Cíntia que ainda estava lá em casa para dar um banho nelas.

Nat: Elas são minhas filhas Priscilla não pode fazer isso comigo. Não é justo. Eu as amo, eu só sai para tomar um sorvete com elas, nada demais. Eu não iria machuca-las. Você está me tratando como uma criminosa, pelo amor de Deus o que é isso? – falou incrédula e tentando controlar porém não estava conseguindo. Eu a olhei por um tempo sem dizer nada e me aproximei dela. Eu queria beijá-la, mas eu estava com tanta raiva, porque ela causou tudo isso, ela nos colocou nessa situação ridícula e eu precisava pelo bem das meninas, nos blindar de qualquer situação que pudesse sair do controle.

Eu: Você é a mãe delas, assim como eu... Eu não vou repetir tudo que eu já falei. Não custava nada você ter mandado uma mensagem avisando que as pegaria na escola. Tem noção do susto que a Cintia levou? Essa discussão toda não teria acontecido se você tivesse mandando uma simples mensagem dizendo que as pegaria. Era só isso Natalie. Não precisa pegar as meninas as escondidas não. Você não está proibida de entrar nessa casa, você não está proibida de vê-las e sair com elas quando quiser, de pegá-las na escola quando quiser, você não está proibida de absolutamente nada, mas PRECISA me avisar quando for fazer qualquer coisa relacionada a elas, para eu não ficar preocupada, desesperada. É SÓ ISSO... Eu sinceramente não aguento mais repetir as mesmas coisas pra você. As meninas que são pequenas não precisam ficar ouvindo as mesma coisa sempre porque entendem de primeira, mas você não. Você tem que repetir centenas de vezes e isso é cansativo. Eu voltei para os plantões do hospital, vou precisar que cuide delas, nos meus plantões que fique com elas quando a Cintia não puder, vai passar finais de semanas com elas, você está se comportando como se eu tivesse te proibindo de tudo. Pare de fazer de vitima. Não me faça te odiar, porque eu realmente não quero chegar nesse ponto e você está fazendo o impossível pra isso acontecer... – sai da frente dela e subi.

E assim foi o longo período de trevas na minha casa, desde a morte do meu filho até o meu divórcio. Os anos seguintes não foram fáceis para mim. A Júlia e a Natalie sempre em conflito, o que dificultou muito a adaptação da Júlia em passar noites na casa da Natalie quando eu estava de plantão. Ela iniciou crises de ansiedade e depressão por isso. As terapias ficaram mais frequentes, mas ela se esquivava de qualquer tipo de carinho vindo da mãe. A Alice vendo tudo aquilo ficava triste e as vezes ia mal no colégio, e quando algo mais sério acontecia ela se recusava em falar português com a gente e só falava em inglês. Natalie teve dois relacionamentos que deram muito errado graças as meninas. Embora a Júlia não tivesse ou apenas não demonstrasse afeto à mãe, ela não aceitava nenhum relacionamento dela e declarava guerra a todos eles, e pensem numa criaturinha obstinada a destruir um relacionamento, essa criatura era a Júlia e a Alice não ficava atrás. Eu comecei a chama-las de sementes do mal por causa disso, e não foi só a Natalie que cortou um dobrado com isso não, porque os poucos relacionamentos que eu tive embora não fossem sérios, as meninas fizeram o mesmo... Doía ver a Natalie com outra pessoa, afinal ela era o amor da minha vida, reformulando a frase, ela é o amor da minha vida. E de acordo que o tempo passa, nada parece ficar mais fácil, porque agora depois de anos e a Julia uma adolescente, até eu sou inimiga dela as vezes. Ela tem um gênio forte, ela é decidida, é inteligente demais, ama o vôlei, e apronta mil coisas, que meu Deus, as vezes eu duvido que ela saiu da Natalie, porque ela é capaz de nos surpreender de maneiras inimagináveis. Ela é muito oposta a mãe dela, e talvez pela convivência ela se pareça mais comigo no gênio, na maneira de ser e de agir, de falar. Apesar de tudo isso, e dela nos enlouquecer as vezes, a Júlia é uma menina extremamente humilde. Ela tem um coração de ouro com todo mundo. Eu chego a me emocionar com a humildade dela desde pequena. Todos os aniversários dela desde os oito anos ela pediu doações como presente, para asilos, para orfanatos, para comunidades carentes. Ela não gosta nem de falar muito sobre isso, porque ela se sente como se estivesse se vangloriando das boas obras dela e ela não quer que ninguém pense isso sobre ela. Ela é como uma adolescente qualquer. Ama roupas, maquiagens, vai ter a festa de 15 anos tradicional e dos sonhos de qualquer menina da idade dela, mas nunca perde aquele carinho dela com as pessoas. Ela não chega perto da família da Natalie também. Essa é uma mágoa que ela ainda não conseguiu limpar do coração dela também. Ela não fala com os avós e com os tios. Isso é bem raro de acontecer. Ela ama a grandma, a tia Alisson, que são muito presente na vida dela, mas os pais da Natalie ela evita ao máximo e isso deixa a Natalie extremamente triste. As duas continuam no mesmo colégio no EARJ. Embora seja uma fortuna, o inglês das duas é melhor que o meu em disparada e o espanhol também. A Júlia está no primeiro ano, ela entrou um pouquinho adiantada, e a Alice está no oitavo ano também um pouquinho adiantada e sou muito orgulhosa delas. São muito estudiosas. A Júlia não é de ter dezenas de amigos. Ela passa boa parte do dia no colégio e a maioria dos alunos daquele colégio são filhos de políticos, de atores, de jornalistas, de pessoas famosas no geral e pouquíssimos deles são humildes, são pessoas boas de se conviver, e se tem algo que a Júlia odeia é gente esnobe. Fui chamada no colégio quando ela tinha 12 anos, porque ela quebrou o nariz de uma colega com um mega soco, porque a garota foi rude com um garoto bolsista do colégio. Tive que pagar pelo cirurgião plástico pra consertar o nariz da garota, mas sinceramente, eu achei bem feito. Na verdade, o colégio todo achou. Ela tem uma amiga, ela fala bastante dela, mas nunca a levou lá em casa, se chama Hanna. Nunca a vimos, mas diz ela que nós a conheceremos na festa dela. Algo me diz que ela é mais que amiga, mas não tirarei conclusões precipitadas. A Alice gosta de todo embora as vezes seja um nojinho de pessoa. Ela tem duas amigas que eu não suporto e acho que agora ela percebeu que as duas só são amigas dela por status e começou a se afastar delas por isso. Ela foi diagnosticada aos 5 anos com uma Asma gravíssima, então ela faz uso diário de bombinha além de acompanhamento médico, então temos que estar sempre de olho. A Júlia tem hipoglicemia, quando cai muito ela desmaia, mas está controlando super bem agora, tem um ano que ela não desmaia mais no colégio, ou no shopping ou em casa graças a Deus. O ultimo desmaio dela rendeu dois dedos quebrados da mão esquerda, porque ela estava descendo as escadas e rolou igual a uma bola e ainda 3 pontos acima da sobrancelha. Depois disso ela ficou mais cuidadosa, tem sempre um docinho na mochila uma barrinha de cereal, uma balinha para repor o açúcar no sangue antes que ela apague em outra escada ou jogando vôlei o que seria desastroso se acontecesse. Um fato engraçado sobre ela, é que antes de jogar, ela tentou ser cheerleader e ela detestou então tirou aquele uniforme e pediu ao técnico pra jogar e surpreendeu a todos e hoje é capitã do time.

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora