2 DE ABRIL...
Era quinta feira, acordei as 14 horas, tive plantão até as 8 da manhã. A Babá levou as meninas para escola e eu tomei café da manhã tomei um banho e dormi. Dormi mais 3 horas e acordei com a minha casa pegando fogo de gritaria, as meninas chegaram da escola super agitadas. Minha mãe pedindo silêncio no fundo que eu tava dormindo e logo elas ficaram quietas. Continuei no cochilo quando sinto alguém subindo na cama e me dando um beijo. Eu sorri ainda de olhos fechados apreciando aquele carinho que logo virou um abraço.
Júlia: Oi mamãe, ainda tá mimindo?
Eu: Oi meu amor, já estou acordada a um tempinho. – abri os olhos e virei de frente pra ela a puxando pra um abraço. – Que cheirosa que delicia filha – a beijei. – Como foi na escola hoje?
Júlia: Foi legal. Olha a minha prova eu tirei 10. – me deu a prova dela.
Eu: Uau filha que legal, parabéns. – a beijei.
Júlia: A gente pode jantar pizza hoje? Por favor? – fez aquela carinha pidona dela.
Eu: Podemos sim. – me levantei fui ao banheiro e logo desci. Pedi 2 pizzas e refrigerante pra elas, não gostava de dar refrigerante, mas as vezes eu deixava. Fiquei vendo um filme com elas e comendo. Logo escovaram os dentes e foram dormir. Entrei no grupo do whatsapp do condomínio e pedi indicações de transporte escolar para as meninas, meus horários eram complicados. Logo recebi alguns contatos liguei para os transportes e contratei um que na próxima segunda as meninas passarão a ir e voltar. Eu levei as duas pra escola, contei que não as levaria mais que seria transporte escolar, falei o horário que ele passaria para busca-las. Logo as deixei na escola e fui pra casa. Minha mãe tinha ido pra Niteroi de manhã voltaria na segunda feira.
Eu sentia muita falta da Natalie, eu amava muito aquela mulher e eu sentia falta dela todos os dias. Eu queria que ela estivesse comigo nesse momento que me dissesse que tudo ficaria bem, mas ela foi embora. Eu sentia falta do meu filho a cada dia. Eu trabalhava muito, mesmo tendo diminuído minha rotina para cuidar delas, já que a Natalie não estava mais aqui.
NATALIE NARRANDO...
Eu fui embora. Eu deixei para trás minha família, os amores da minha vida. Minha esposa e minhas filhas. Eu não podia viver daquele jeito. Os pensamentos de suicídio rondavam minha mente, eu não conseguia trabalhar, não conseguia cuidar das meninas não conseguia ser a mulher que minha esposa precisava. Minhas filhas se feriram comigo em casa. A culpa me consumia a cada dia, o desespero daquele dia me sufocava, me colocava contra a parede e me socava o estomago 24 horas. A culpa... Por mais que todos dissessem que eu não era culpada eu não conseguia sentir diferente. Eu sentia culpa. Eu sentia uma dor na alma que eu não sabia explicar. Minha irmã é médica, e no natal na casa da minha avó conversamos muito sobre tudo o que eu sentia. E naquela noite eu decidi que eu tinha que fazer o que era melhor para minha família.
Dizer adeus... Não foi fácil dizer adeus... Não foi fácil partir sem contar a verdade... Apenas fui. Chorei o voo inteiro. Ver a tristeza e o desespero no olhar das minhas filhas me matou, mas por elas eu precisava fazer isso. Eu sou fraca, e sempre fui e não conseguia admitir isso pra ninguém e muito menos para a Priscilla... Priscilla, meu amor minha riqueza, minha inspiração. A pessoa que me ser a mulher mais feliz do mundo... Como eu a amo. Cheguei no Sul depois de algumas horas, meus pais me esperavam no aeroporto. Um tempo depois já estávamos em casa. Saudade do meu quarto antigo, mas a saudade das minhas filhas e da minha mulher era muito maior. Mandei uma mensagem para o Rodrigo, um áudio deixando um carinho para as minhas crianças. Eu não conseguiria encarar a Priscilla por mais que quisesse ligar pra ela e contar tudo o que estava acontecendo de verdade. No dia 02 de janeiro era o primeiro dia da minha mudança... Eu prometi que voltaria para as minhas filhas, para a minha mulher, mas eu precisava me recuperar para isso.
Mãe: Tem certeza que é isso que você quer fazer filha? Sabe que podemos ajudar você sem precisar disso.
Eu: Eu tenho certeza mãe, é o melhor, vai ser melhor assim. Eu não consigo sozinha, eu preciso de ajuda e infelizmente ninguém pode fazer nada por mim sem ser preparado pra isso. – deixei cair uma lágrima.
Mãe: Liga pra ela, conta tudo filha.
Eu: Não mãe – falei angustiada e chorando – Eu não posso... E por favor, não diga nada, faça o que combinamos. Quanto antes eu for, mais rápido eu volto, por favor mãe me ajuda com isso. Só isso que eu peço.
Mãe: Tudo bem filha... Seu pai e eu prometemos e vamos cumprir. Não gosto de mentir pra ninguém, menos ainda pra minha mãe, pra minha família e agora pra minha nora e minhas netas, mas eu vou fazer isso por você, pra te ter de volta e bem. – me abraçou.
Emily: Natalie, vamos? Tá na hora.
Eu: Vamos... Eu te amo.
Mãe: Eu também te amo. Fica com Deus. – me abraçou.
Pai: Eu te amo filha, vamos rezar por você, vai ficar tudo bem.
Eu: Te amo pai... – o abracei, entrei no carro e pegamos estrada. Uma hora depois chegamos no meu destino. Fui recebida por Dulce, uma senhora de uns 60 mais ou menos, muito simpática. Ela me mostrou onde seria meu quarto. Minhas malas passariam por uma revista, eram regras do lugar enquanto eu passaria por uma conversa com a psiquiatra e psicóloga. Minha irmã já tinha ido embora. Me sentei numa sala bem bonita e aconchegante e uma mulher de uns 45 anos entrou e se sentou.
XX: Natalie Kate Smith Pugliese?
Eu: Sim. – sorri de leve.
XX: Muito prazer, Heloisa Torres Vilela, sou psiquiatra e psicóloga. Bem vinda a Renascer. – sim... Eu estava numa clinica psiquiátrica e não em Portugal como fiz todos pensarem. Conversei muito com a Emily sobre meus pensamentos desde que meu filho morreu e eu não estava sabendo lidar com isso mais. Contei tudo a Heloisa. – Natalie, no dia que suas filhas se machucaram e você dormiu... Você tentou se matar? – me olhou nos olhos. Eu suspirei abri a boca para responder várias vezes e cai no choro novamente...Eu: Sim... Eu não suportava mais. Meu filho morreu por minha culpa...
XX: Natalie, você não tem culpa do que aconteceu. Foi inevitável, não carregue esse fardo...
Eu: Foi muito rápido. Eu tirei os olhos dele por dois minutos e sai para procurar. Eu não sei se foi eu que deixei o portão aberto eu não sei explicar.
XX: Você primeiro precisa parar de se culpar. E o primeiro passo é entender o que aconteceu aquele dia. – eu não havia entendido o que ela quis dizer naquele momento. No dia seguinte na nossa terapia, ela fez algo que me fez chorar como um animal ferido. – Natalie, a ultima coisa que falamos foi sobre a culpa e que o primeiro passo, era entender o que aconteceu aquele dia. O que você entendeu daquele dia de maneira geral?
Eu: Que eu descuidei do meu filho, não fechei o portão direito quando entrei e ele saiu e tudo aconteceu muito rápido. Um carro sem controle invadiu a calçada e o atropelou. – doía falar aquilo.
XX: Você procurou entender o que de fato aconteceu aquele dia de maneira técnica, pericial? – eu não havia entendido.
Eu: Como assim?
XX: Você leu o laudo da perícia sobre o que aconteceu aquele dia?
Eu: Não. Eu não tive coragem de ler de saber detalhes.
XX: Mas sabe que isso é muito importante em maioria dos casos? É o primeiro passo para cura.
Eu: Eu não quero ouvir. Eu não quero saber detalhes por favor – levantei e sai da sala dela. Fui para o jardim, lá era lindo muito verde, muitas árvores. Me sentei embaixo de uma delas e chorei. Não tinha percebido que do outro lado da árvore tinha alguém sentado.
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NATIESE EM: A CULPA
FanficMeu nome é Priscilla Álvares Pugliese Felix, tenho 34 anos, sou médica cardiologista e cirurgiã geral, atualmente moro num condomínio na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Sou divorciada de Natalie Kate Smith de Almeida 35 anos arquiteta e engenheir...