Capítulo 79

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JÚLIA NARRANDO...

Eu entrei em coma hipoglicêmico, era ridículo isso. Quando acordei do coma tinha um tubo na minha garganta e era horrível aquilo. Não demorou muito eu fui para o quarto, e logo chegou uma visita, a Hanna. Conversamos e ela disse que viajaria a noite, mas se quisesse ficaria mais uns dias comigo. Eu a mandei ir, afinal ela tinha terminado comigo. Ela tentou me explicar, e eu não quis ouvir e então foi embora. Eu tive uma crise de ansiedade depois disso. Ela foi embora chorando muito. A noite me medicaram e eu dormi até de manhã. Acordei com a minha mãe lá. Eu passei o resto do mês ignorando as mensagens e as chamadas da Hanna. Afinal ela queria um tempo então não ia ficar atendendo ninguém. O dia que ela chegou, ela me mandou mensagem. Eu não estava em casa, eu tinha ido a papelaria comprar material escolar com a minha irmã. De lá pegamos um taxi e fomos pra casa. Minha mãe estava de folga então ela estava em casa. Quando subi entrei no meu quarto e dei de cara com a Hanna sentada na minha cama.

Eu: O que faz aqui?

Hanna: Oi... Como você não responde minhas mensagens a 15 dias eu resolvi aparecer e arriscar você bater a porta na minha cara.

Eu: O que quer?

Hanna: Conversar e dizer que eu te amo e estou com saudade, senti sua falta cada dia que estive fora.

Eu: Hum... Já disse, agora pode ir.

Hanna: Qual é Júlia, vai ficar me tratando assim mesmo? – veio até mim – Eu te amo, e a gente precisava ficar afastada um pouco. A gente passou o ano todo grudada e a gente só brigou no final do ano pra cá, isso não é bom.

Eu: E você pediu um tempo, eu estou dando o tempo que você pediu. Quem está aqui quebrando o tempo pedido é você Hanna. E como foi sua viagem? Como está sua família? E os passeios alegremente marcados com os primos como foram? – falei de costas pra ela tirando as coisas da sacola.

Hanna: Foi tudo ótimo. Matei a saudade dos meus avós, dos meus tios, dos meus primos. Saimos bastante, fomos ao cinema, ao shopping, devo ter engordado uns 10 quilos de tanta besteira que eu comi, mas ficamos muito na casa dos meus primos também, jogando, vendo filmes, pedindo pizzas e sanduiches. Essas coisas que pessoas simples fazem. Sentamos na calçada, conversamos sabe como é? – ela parou um pouco – Ah não, você não sabe... Você mora num condomínio e sua vizinha de cima é empresária e vive viajando não tem filhos adolescentes e de baixo é a Giovanna Antonelli - falou irônica.

Eu: Vai embora Hanna... Sai da minha casa, sai da minha vida e não volta nunca mais. – ela assustou.

Hanna: Júlia...

Eu: JÚLIA É O CACETE... Pra mim já chega... Eu te amo de verdade, mas eu não suporto mais você fazendo isso, me colocando como uma riquinha mimada e idiota, me ridicularizando por eu ter dinheiro. Se você quer se fazer de Maria do Bairro isso é problema seu e olha que nem pobre você é. Você tem uma vida muito confortável por sinal, a diferença entre nós é que você é bolsista num colégio americano e eu não. Pra mim JÁ CHEGA essas suas indiretinhas ridículas e sempre voltando no assunto de onde eu moro, do que eu faço ou deixo de fazer. Porra eu moro num condomínio, todo mundo aqui quando se encontra é na pracinha quando vão caminhar, ou quando estão saindo de casa. Agora me diz que você desce do seu prédio e senta na calçada e conversa com os outro sua hipócrita sem noção? Vai embora Hanna, e não volta mais, esquece que eu existo, porque pra mim já chega. Se você não pode aceitar que eu tenho dinheiro, se isso é um problema pra você procura alguém que se encaixa nos seus padrões aceitáveis para um relacionamento, porque definitivamente eu não passo no seu critério. – abri a porta do quarto pra ela sair e ela saiu rapidamente e chorando. Eu comecei a chorar também, mas era de raiva. Logo minha mãe veio.

Mãe: Júlia o que foi? A Hanna saiu daqui chorando... O que aconteceu?

Eu: Acabou mãe. Não dá mais. Do jeito que está, não dá pra ficar. Meu dinheiro, minha casa, minha vida é um problema pra ela, porque ela sempre volta nessa merda de assunto, então não dá mais eu não quero mais. Eu não vou viver uma relação onde isso vira pauta todo santo dia. – solucei e ela me abraçou.

Mãe: Ok filha tudo bem, calma...

Eu: Que raiva mãe, eu estou com raiva. Com muita raiva...

Mãe: Eu te entendo amor... Eu te entendo... Desabafa vai, coloca isso pra fora, não fica sufocando não.

Eu: Tudo ela volta nessa droga de padrão de vida mãe, tudo gira em torno de dinheiro, tudo ela coloca no meio pra instigar uma briga eu não aguento mais isso. Não tem necessidade uma coisa dessas. – chorava.

Mãe: É filha não tem mesmo. – minha mãe ficou ali comigo até que eu me acalmasse. Eu mudei todos os meus status de redes sociais, bloqueei as nossas fotos juntas, e a bloqueei do whatsapp também. Não dava mais pra continuar assim. Passei uma semana terrível. Sentia falta dela, mas a mágoa era grande. No dia 8 de fevereiro as aulas começaram. Acordei um pouco sem vontade, mas tinha que ir. Tomei banho, prendi o cabelo num rabo de cavalo um pouco mais alto e bem preso, coloquei um shortinho preto por baixo da saia, a camisa social, a bota, a gravata e o casaco. Mesmo sendo primeiro dia, tínhamos que ir de uniforme. Desci do carro da minha mãe e entrei no colégio eu fiz solicitação pra trocar de sala, mas não me mudaram e quando entrei na sala soube que a Hanna havia mudado de unidade. Ela estava agora na unidade mais próxima da casa dela. Ela ia na unidade da Barra, porque a mãe dela trabalhava lá então era fácil, e a unidade perto do prédio dela é a cinco minutos a pé. Doeu, mas era o melhor para nós. 

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora