Capítulo 80

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PRISCILLA NARRANDO...

Uma das coisas mais difíceis pra mim, desde que assumi a chefia de departamento e agora ficou ainda mais difícil como chefe de todo o hospital, é ter que reunir os chefes e o jurídico para discutir medidas relacionadas a pacientes e familiares. E mais uma vez eu estava nessa situação e agora como chefe.

Eu: Bom, já estão todos aqui... Alexandre Gomes Fonseca, 59 anos, está impedindo que a vontade do filho seja feita. Alex Gabriel Silva Fonseca, 30 anos tinha câncer cerebral desde os 17 anos. O câncer foi totalmente retirado e aos 20 o câncer voltou no estômago. Ele teve parte do estômago retirado e sofreu muito com a recuperação. Aos 27 o câncer voltou em diferentes órgãos. Câncer metastático. Embora parte dele tenha sido ressecada em 12 procedimentos nos últimos 3 anos, devido ao grande sofrimento físico e psicológico o rapaz, Alex, assinou uma ONR, ordem para não ressuscitar, tendo como testemunha a mãe a senhora Nadir Silva Fonseca de 57 anos, o pai o senhor Alexandre Gomes Fonseca de 59 anos e a esposa, a senhora Viviane Palomini Fonseca de 28 anos. A massa em volta do coração dele é a que piorou todo o quadro dele e caiu um grande coágulo que levou para o cérebro causando o AVC hemorrágico irreversível. A morte cerebral dele foi constatada há 6 horas, depois de dois testes realizados com 6 horas de diferença de cada um confirmando o resultado. Como ele era paciente da cardiologia devido o estado critico de seu coração e da oncologia, ele é responsabilidade do doutor Rodrigo Tardelli e da doutora Cassia Martini Costa. Enfim... Reunimos os senhores, porque o pai, que também assinou como testemunha a ONR, medida tomada nos últimos 5 anos por esse hospital, que houvesse testemunhas no caso do paciente optar por não ser ressuscitado. Ele assinou e agora está obstruindo o hospital de executar o desejo e a ordem do paciente. – todos falaram um pouco e assinaram os papeis. O promotor assinou e autenticou a ordem judicial para que assim o hospital ficasse livre de um processo e então fomos até o quarto dele, onde se encontrava a mãe dele e a esposa.

Rodrigo: Dona Nadir, dona Viviane, como eu havia dito, o conselho médico se reuniu, o jurídico também já que o senhor Alexandre estava nos obstruindo a executar a vontade do Alex então precisávamos de amparo legal para dar continuidade. Temos aqui a copia autenticada – deu uma cópia para cada uma delas. Elas estavam cientes do que precisávamos fazer aquilo, porque o pai dele estava fora de si, e não poderíamos mais postergar o que estava acontecendo ali.

Viviane: Eu te amo e eu sei que agora não vai ter mais dor. Nosso filho vai ficar bem, e eu sei que ele vai ser um homem incrível como você sempre foi – deu um beijo nele.

Nadir: Te amo meu filho. A mamãe vai sentir muito sua falta, mas você vai estar melhor agora, não vai ter mais dor. Vai com Deus filho... – o Rodrigo desligou as máquinas. A Cássia tirou os tubos, e 10 minutos depois o coração dele parou de vez. Estavam no quarto a mãe dele a esposa, eu o Rodrigo a Cássia e duas enfermeiras. O pai dele voltou.

Alexandre: Arrumei uma casa de recuperação ele pode ficar lá até estar forte o suficiente e ir pra casa, quem sabe ele acorda até lá – ele estava fora de si. – Não... O que vocês fizeram? Não... Eu não permiti...

Nadir: Chega Alexandre ele se foi, era a vontade dele, dá pra respeitar isso pelo menos uma vez na sua vida – falava nervosa.

Alexandre: Meu filho... Meu filho não... – o abraçava e chorava desesperado. – Eu vou matar todos vocês, eu vou atrás de vocês e da família de vocês, e não vou deixar um vivo – falava com ódio.

Eu: Chamem o segurança por favor... – sai do quarto e fui pra minha sala. No dia seguinte eu fui pra casa estava cansada do plantão e da noite exaustiva que tivemos, contei a Natalie o que aconteceu lá, e ela ficou preocupada com a ameaça do homem.

20 DE FEVEREIRO... UM DOS PIORES DIAS DA MINHA VIDA...

Eu acordei cedo, tinha que trabalhar, a Natalie tinha consulta de manhã então ela foi no carro dela, porque de lá ela iria para a empresa. Ela está com 12 semanas, o bebê está ótimo e ela também. Tomamos café numa padaria ali perto, já que não comemos antes de sair. Ela deixou as meninas no colégio, porque eu sai mais cedo.

Nat: Se cuida tá? Vê se chega a tempo pra jantar com a gente.

Eu: Tá. – a beijei longamente. Senti um arrepio estranho - Te amo, muito.

Nat: Eu também te amo. Bom dia.

Eu: Bom dia – ela entrou no carro dela e foi embora. Eu entrei no hospital novamente e fui para a minha sala. Trabalhei a manhã toda com burocracia, almocei com o Rodrigo e a Luíza que estão se desentendendo a cada 10 minutos por causa do bebê que é um menino e vai se chamar Gael. O Rodrigo quer que a Luíza vá morar na casa dele, e a Luíza acabou de se mudar pra casa que era da Natalie no condomínio. A emergência no fim da tarde estava lotada, tinha bastante gente lá. Estava uma movimentação bem estranha ali, eu não estava gostando daquilo. Auxiliei numa cirurgia e os celulares não pararam de apitar. – O que está acontecendo hein, alguém olha pra mim? – uma enfermeira foi olhar.

XX: Doutora... problemas na emergência.

Eu: O que houve?

XX: Aqui diz possível código preto. – eu parei o que eu estava fazendo.

Eu: Bipa a doutora Luíza pra mim e pede pra ela vir pra cá imediatamente. – não demorou cinco minutos a Luíza veio.

Luíza: Oi me chamou? Que código preto é esse? É treinamento?

Eu: Eu estou na sala de cirurgia, não teria um treinamento sendo executado enquanto eu estou aqui.

Luíza: E o que significa código preto?

Eu: Você vai se lavar e vai continuar essa cirurgia pra mim, eu ainda não cheguei nem na metade é uma laparatomia exploratória. Você e essa equipe não vão sair dessa sala enquanto eu mandar, se possível, tranque a sala. Isso é sinal de bomba ou atirador. Eu vou ver o que é.

Luíza: Meu Deus – colocou as mãos na barriga.

Eu: Doutora Luíza, presta atenção... eu preciso que faça essa cirurgia pra mim, e não saia daqui, você me entendeu?

Luíza: Sim, eu entendi – ela foi se lavar se vestiu e assumiu meu lugar. Eu sai tirando o avental me lavei, peguei meu telefone e fui checar as mensagens.

Hernandez: Corredor ala sul, e ala norte ocupados... Pediatria fechada, neonatal fechada, UTI fechada. Emergência foi evacuada, mas os pacientes não puderam sair, temos 6 médicos na emergência e temos cerca de 8 homens armados pelo hospital. – eu liguei pra ele. – Pugliese, entra no elevador da cirurgia e vem pela rampa até sua sala. – entrei no elevador, meu coração estava disparado. Cheguei na minha sala e ele estava lá.

Eu: O que está acontecendo?

Hernandez: Alexandre Gomes Fonseca, lembra dele?

Eu: Sim, aquele senhor que não queria que desligássemos os aparelhos do filho dele.

Hernandez:Ele cercou o hospital. Estão atrás de você, do doutor Rodrigo, da doutoraCássia e de mim. Ele veio para nos matar.

NATIESE EM: A CULPAOnde histórias criam vida. Descubra agora