Capítulo 12: Parte 3

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Dias atuais

Acordei de novo sonhando na porra daquele dia. Puta que pariu cara, eu devia ter percebido que alguma coisa não estava certa, será que a ela tinha percebido que algo ia acontecer com aquelas macumbas delas? Porque a mina estava toda estranha no dia.

Olhei ao redor e vi que já estava de dia. Porra! Quanto tempo passei dormindo? Vacilo demais. Me levantei rápido e acabei soltando um gemido quando meu braço começou a latejar e me lembrei que tinha levado um tiro. Mais isso nesse caralho! Apertei o braço trincando os dentes e comecei a andar na calma em direção a porta dos fundos. Até porque se alguém me pegar aqui vou tá fodido. Olhei para dentro da casa e fiquei em silêncio tentando escutar algo e ver. Quando não vi nada virei a maçaneta e entrei devagar, atento a qualquer a tudo. Logo a cozinha chegou até meu campo de visão e na pia havia uma xícara. Porra mano, quem quer que more aqui era só ter saído e aí sim minha vida ia pelo ralo. Passei pelos outros cômodos e quando percebi que não tinha ninguém soltei um gemido de dor que estava guardando.

- Vamos logo fiote, tem tempo pra tá sentindo dor não - murmurei e caminhei pro banheiro.

Tomei um banho rápido e peguei uma roupa no quarto que tinha entrado. Peguei o pano de prato e amarrei no meu braço que estava começando a infecionar. Se não morri com a porra do Medo, vou morrer por causa de um ferimentozinho de bala. Amarrei o bagulho com os dentes trincados, vou nem mentir, caralho tava doendo demais. Aproveitei para encher o "bucho" e revirei os armários atrás de qualquer remédio para dor, quando achei engoli logo três. Antes de meter o pé toquei fogo nas minhas roupas e levei um relógio junto com um boné. Sai da casa de cabeça baixa e apressei o pé o máximo que eu conseguia, tentando levar a mente para qualquer lugar longe da dor do meu braço.

Depois de andar mais ou menos uma hora tive que parar e me sentar um pouco, olhei para dentro do moletom e vi que o pano antes branco estava quase todo vermelho. Fechei os olhos com força e respirei fundo, olhando ao redor logo depois, percebendo que faltava pelo menos meia hora até chegar no Alemão e mais quinze minutos até chegar onde iria entrar.

Engoli em seco sentindo sede e me levantei na força do ódio. Verifiquei o relógio e vi que ainda tinha três horas antes da troca de turno de uma das saídas. Tomando uma respiração profunda comecei a andar, de vez em quando tendo que piscar os olhos várias vezes quando uma tontura me batia e as coisas iam desaparecendo. Não passou nem quinze minutos até que tudo ficou preto por alguns instantes e meu corpo pender para o lado, me fazendo esbarrar o braço fudido em alguém que ia passando. Assim que recobrei meus movimentos vi que era uma mulher que logo apressou o passo indo para longe de mim. Respirei fundo e voltei minha caminhada, hora ou outra as pessoas me olhando estranho e o suor descendo pelas minhas costas e testa. A sede só aumentava e sentia um liquido descer pelo meu braço. Não sei muito como consegui chegar ao Alemão, já que estava mais preocupado em não tropeçar nos próprios pés, ficar com os olhos abertos e não esbarrar em ninguém. Fui andando pela lateral me escorando nas casas e piscando os olhos mais vezes que o necessário. Quando cheguei no lugar onde tinha quase certeza que era a saída, olhei para o relógio vendo os números embaçados e lutando para focar a visão, para ver que ainda faltava dez minutos para o almoço e depois a troca de turno.

Me joguei em uma viela atrás de uns tijolos e soltei outro gemido de dor quando bati o braço. Olhei para ele e percebi que o próprio moletom já estava com uma mancha escura. Limpei o suor da testa com a outra manga e esperei.

- Qualé filho da puta? Nem brinca com um baguí desse, JP leva pra vala sem nem piscar - acordei no susto olhando para os lados no medo e xinguei assim que percebi que tinha caído no sono.

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