Capítulo 20

728 84 19
                                    

Maria Eduarda – Madu

Acordei ofegante com o coração acelerado, sentindo gotas de suor molharem minha nuca e testa depois de ter sonhando com o homem da viela terminando o que começou. Olhei ao redor ainda assustada do sono, como se ele fosse aparecer a qualquer momento. Tentei me levantar para conseguir me situar quando percebi que um braço forte me prendia pela cintura. Engoli em seco, minha mente me sabotando das piores forma possíveis. A ação não me ajudou muito, porém, já que a sensação que tive foi de como estivesse engolindo agulhas.

Segui o braço até o rosto do seu dono e a segurança juntamente com o alívio invadiu meu corpo assim que percebi que se tratava do Tatá, que aos poucos foi abrindo os olhos negros e lindos, enfeitados com meias luas escuras.

— Qual foi? — perguntou preocupado, a voz saindo mais rouca que o normal enquanto se sentava para segurar meu rosto com as mãos. — Tu tá branca demais, Loira. Vou chamar o médico, não sai da...

— Não precisa. Só tive um sonho ruim, me passa a água?

Ele me encarou, semicerrados os olhos como se decidindo se acreditaria ou não em mim. Abri um sorriso de canto, apontando para a jarra. Suspirando o moreno me soltou e encheu um copo me entregando. Observou cada movimento meu, os olhos levemente arregalados e o corpo rígido, como se estivesse pronto para qualquer coisa.

— Eu tô bem, Tatá. O pior já passou, pode relaxar um pouco.

Ele negou fazendo careta.

— Tu deve me achar muito bobo. Tô vendo na tua cara que não tá nada bem!

Fechei os olhos respirando fundo, porém, os abri logo em seguida quando a imagem do porco apareceu em minha mente.

— Eu… — engoli em seco. —, eu matei os dois?

— Não. A menina foi atingida de raspão no braço, levou uns 3 pontos, mas já tá bem. O filho da puta uma hora dessa deve tá dentro de uma vala. Não enche tua mente com isso, Loirinha, o porco desgraçado mereceu — neguei me afastando um pouco dele.

— Não é isso. O problema é oposto. Gostei do que fiz, da sensação de atirar e ver o sangue escorrendo. Gostei de ver ele morrendo, GM — o olhei assustada, tentando acalmar minha respiração. — E se eu começar a gostar disso? Na minha família matar é  tão normal que meu pai e tios já perderam as contas de quantas vidas tiraram. Não quero isso para mim, não quero ter sangue nas minhas mãos assim, Guilherme, e mesmo assim senti satisfação em matá-lo. Foi como se tirassem um peso enorme das minhas costas. Eu vi o Leandro e Cerol nele, era como se estivesse matando os três em uma cajadada só, me libertando enfim da maioria dos meus demônios e q...

— Calma, Madu. Respira um pouco pra não ser gatilho pra tua asma.
Obedeci e só então percebi que havia prendido a respiração enquanto jogava palavras uma atrás da outra.

— Agora me escuta morô? — assenti. — Tu agiu no impulso, loira. Encontrou um homem com o dobro da tua altura e peso que despertou diversos gatilhos teus. A ação mais rápida que pensou foi proteger alguém que divide uma dor parecida com a tua. Se não fosse você a puxar o gatilho seria eu, ou qualquer outra pessoa do envolvimento. Tu sentir satisfação por isso depois de toda a tua trajetória é compreensível, Eduarda. E só de tu pensar nisso, de não querer ser uma assassina, já mostra que o bagulho não é pra tu. A tua fofoqueira pode até jogar o lero que matar é errado e essas merdas, mas se ele não morre, consegue fugir e depois faz pior. Fica sussa — chegou mais perto e me deu um selinho demorado.

— Tá fedendo a suor, Geme — afastei dando uma risadinha quando vi a careta dele.

— Minha culpa que não é, né fia? E não sou o único fedendo não, abusada. Tu tá o próprio gambá.

Mais Uma Chance?[M]✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora