Capítulo 19: Parte 2

908 100 19
                                        

GM – Guilherme

Congelei assim que alcancei a Loirinha.

Havia um corpo de um homem com o dobro da minha idade e do meu tamanho jogado no chão com dois tiros certeiros na cabeça e outros pelo corpo. A parede a sua frente foi decorada com mais alguns e encostada a ela havia uma criança de no máximo 14 anos, encolhida, abraçando os joelhos e escondendo a cabeça entre eles, enquanto o sangue escorria por um dos braços e chorava baixinho. A blusa levantada até o limite do seio e o short mostrando o quadril. Travei o maxilar com força, as mãos se fechando em punhos, a raiva se alojando na minha nuca e descendo por minha coluna.

Arrombado do caralho!

O som de ossos e carne se chocando no chão, junto com o som abafado da arma caindo, me tiraram do estupor. Virei a cabeça rápido para a Madu vendo-a ajoelhada no chão, o corpo caindo para frente lentamente. Corri até ela, conseguindo segurá-la antes que encontrasse o chão por completo. Seu corpo inteiro tremia com força e quando segurei seu rosto em minhas mãos, a loira chorava silenciosamente, os olhos fixos no corpo a frente.

— Madu? — sussurrei balançando levemente o rosto dela, ganhando sua atenção depois de segundos torturantes.

— Eu matei ele... Mate... — antes que pudesse continuar uma tosse forte e seca a fez se curvar para frente.

Cada pelo do meu corpo se eriçou em pânico quando percebi que quando mais Madu tentava respirar, mais tossia. Puxei a bolsa que estava jogada ao seu lado e comecei a procurar desajeitadamente pela bombinha, colocando no seu rosto assim que a encontrei segurando seu corpo mole com o outro braço. Porém, para meu desespero, ela só tossia ainda mais.

— Eduarda, Loirinha, cara, volta a respirar, mano!

— Cadê minha filha?

A voz do Demo ecoou pela viela e não demorou muito para o mesmo aparecer correndo, o mancado do joelho mais acentuado.

A Loirinha já se agitou toda quando escutou a voz do pai, tentando se mexer, mas antes que ela pudesse fazer muita coisa ele terminou a distância e a pegou do meu colo como se não pesasse nada.

— Tu vem comigo dirigindo a porra do carro! — gritou enquanto corria de volta e me levantei rápido, seguindo ele.

— A pive...

— Sarah é patroa pra essas merdas, agora cala a porra da boca e entra no carro!

Obedeci rápido e mal esperei ele fechar a porta antes de sair cantando pneu, vendo pelo retrovisor JP, Sarah e alguns soldados entrando por onde tínhamos saído.

— Aguenta mais um pouquinho, minha princesa. O pai tá aqui contigo, como da última vez. Respira comigo, meu amor... — ele sussurrava passando a mão por seus cabelos, os olhos fixos no rosto dela enquanto dos próprios desciam lágrimas.

Encarei o rostinho da minha branca e o desespero me fez afundar ainda mais o pé no acelerador, percebendo, agora, que era dos meus olhos que saiam lágrimas.

Ela estava branca pra um caralho, não havia um pingo de sangue em seu rosto, os lábios roxos e o corpo ficando mole a cada segundo. Os espasmos da tosse continuavam a curvar seu corpo.

— ACELERA, CARALHO!

Respirei fundo, concentrando minha frustração e medo apenas na rua a minha frente, para não descontar em alguém que estava tão desesperado como eu.

O celular dele começou a tocar insistentemente por longos minutos, que só atendeu quando começamos a ver a fachada da UPA mais próxima que encontrei, falando o endereço para a pessoa e pulando do carro com a Loirinha dos braços. Não perdi tempo e o segui.

Mais Uma Chance?[M]✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora