Estava chegando perto de casa quando engoli em seco, encolhendo levemente meus ombros.
Tinha decidido continuar a caminhada, até porque não queria subir em bagageiro de moto nenhuma e a minha já estava em casa a essas horas. Porém, se tornou uma péssima ideia a partir do momento em que as ruas que ainda restava um pouco de movimentação foram ficando para trás. Cada vez mais que subia o morro, as ruas iam ficando mais esquisitas e consequentemente eu ficava com mais medo.
O que também me deixa extremamente irritada. Já estava tão cansada de sempre estar sentindo medo de tudo, só desejava voltar a ser a velha Eduarda, que só arrumava problemas. E embora estivesse mais confiante do que antes, tendo como principal agente o Tatá com o Raiola – porque, querendo ou não, o moreno com cabelo de gema tinha conseguido minha confiança, mesmo que não merecesse –, ou todos os psicólogos, psiquiatras e terapeutas que estavam descidos a fazer com que entrasse em minha mente que eu não era a culpada por confiar nas pessoas, e sim elas por virem na maldade comigo, além de sempre deixar claro que era uma garota forte, ainda me sentia amedrontada.
Mas, oras, eu havia aguentado dias de sequestro, havia sido destruída de forma física e mental, e ainda assim tinha sobrevivido, ainda estava viva, de uma forma ou de outra eu era uma mulher forte, não? Era isso que sempre me lembravam todas as vezes que eu dizia que não aguentava mais. Falavam para olhar o espelho todos os dias e dizer as simples palavras:
"Eu sou forte, aguentei tudo isso e não vou cair agora, depois que o pior já passou".
Talvez pareça uma frase qualquer, mas querendo ou não me impediu todas as vezes que peguei a maldita gilete para cortar a parte interna das minhas coxas ou os pulsos. Porque, caralho, chegava uma fase em que tudo parecia demais. Entrando, eu queria mudar, não aguentava mais o papel de fraca, quando na verdade não era.
Havia perguntado aos três profissionais se o Tatá ou Rabiola tinha alguma coisa haver com toda essa "força de querer" a mais, cacete, havia até perguntado se o próprio Cerol estava envolvido. A resposta foi a mesma, todos tinham sua parcela de culpa, mas que isso vinha inteiramente de mim. Se realmente não quisesse mudar, não teria um Tatá ou Cerol que fizesse o contrário.
Escutei um barulho a minha esquerda de algo caindo e virei minha cabeça rapidamente me deparando apenas com o escuro sem fim da viela. Meus sentidos se aguçaram quando o medo penetrou minha corrente sanguínea e podia jurar que estava escutando passos vindo daquela direção. Abracei meu corpo com força, sentindo cada pelo eriçar e me perguntando onde porra estava os meus vigias/seguranças. Engoli em seco outra vez e suspirei de alívio quando vi que era apenas um gato. Praguejei baixinho e parei no meio da calçada, minhas pernas estavam levemente instáveis e eu precisava de um pouco de ar a mais nós meus pulmões.
— DG? — chamei, mas minha voz saiu mais baixa que o normal. — Douglas! —aumentei o tom de voz o bastante para ele escutar aonde estivesse, já que eu só sabia onde dois deles ficavam que era atrás de mim há uns 10 metros.
Nem a pau iria dar mais um passo sem ninguém ao meu lado e sabia que podia confiar no DG. Ele já ajudou muito minha mãe, né?
— Solta o papo, confusão — ele disse descendo de uma laje e semicerrei os olhos.
Hum, eles ficam nas lajes então?
— Já tá sabendo da treta? — franzi a testa e ele soltou uma risadinha.
— Tu sabe como o complexo é, tem até vídeo de vocês duas circulando — tirou o celular do bolso e com poucos toques me mostrou. Fiz careta. — Teu irmão tá puto.
— Não devo nada ao JP.
— Aí é bagulho teu e dele. O que tu que comigo? — mordi o lábio inferior e encolhi os ombros me sentindo tímida de repente.

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Mais Uma Chance?[M]✔️
JugendliteraturSpin off de "De Patricinha a Patroa". Sua vida estava arruinada. Viver e morrer andavam em uma linha tão tênue que bastava apenas um pequeno deslise para que tudo viesse a ruir, para que aqueles pequenos pedaços restantes do castelo enfim desabassem...