Capítulo 3: Parte 4

1.4K 148 21
                                        


Maria Eduarda

Fiquei encarando as costas do folgado com meus punhos cerrados. Quem ele pensa que é? Chegou agora e já que ter moral, principalmente para cima de mim? Minha vontade mesmo era de dá uma surra nesse filho da puta!

-O que aconteceu aqui?- Bruna perguntou ao meu lado, mas nem rendi para ela.

Me virei para aquele vigia e mandei comprar três reais de pães carteira e dois de mortadela, com o sangue quente. Depois me virei e entrei em casa pisando fundo.

Já não bastava logo cedo meu pai vir com papo de ir na psicóloga e um monte de blá blá blá, quando eu falei que não precisava aí foi que ele latiu pra caralho, dizendo que eu já tinha feito ele de bobo a semana passada inteira, mas que essa não ia passar.

Um caralho!

Eu já sei tudo o que ela vai me dizer, não sei como eles ainda não entendem que não há mais jeito. Já fazem DOIS ANOS que eu vou para lá, e o que mudou depois de um ano para cá? Porra nenhuma!

-Vai abrir o bico ou não?- escutei novamente a voz da Bruna e respirei fundo.

Não desconta a raiva nela, Madu, ela não vez nada.

-O filho da puta do GM que estava falando mal do JP.- ela quis rir, sim ela quis, e começou a ficar vermelha até a gargalhada alta sair da sua boca.- Não rir de mim, ó menstruação!- taquei a almofada na cara dela, mas isso só a fez rir mais.

-Iludida eu que pensava que tu já tinha parado com isso.- disse entre risos e estreitei o olhar na sua direção.

-Não tô vendo a graça.- falei seria cruzando os braços e parecia que eu tinha virado dentista, porque ela não parava de me mostrar os dentes.

Quando pensei em jogar o controle na cara dela, o vigia que eu tinha mandado comprar meu café, entrou na sala com as bolsas na mão. Andei a até ele e peguei o agradecendo, depois fui em direção a cozinha deixando a hiena rindo na sala.

Como meu café já estava na xícara esfriando, apenas cortei o pão e coloquei a mortadela dentro junto com um pedaço de queijo, dando uma mordida logo em seguida.

Peguei meu celular enquanto comia e vi que faltava pouco para a consulta com a outra lá, por isso comi da forma calma e demorada, agradecendo por não ter ninguém em casa. Steve saiu cedo junto com o JP, parece que as coisa não estão muito boas na boca, minha mãe meteu o pé para a empresa as pressas com uma ligação do tio Maicon, o que é claro deixou meu pai de mau humor e o ciúme a mil, me pergunto quando Steve vai superar o lance que o tio teve com a mãe, qualé, já faz tanto tempo isso.

Liz foi para casa da babá hoje, o que não é muito ruim já que vou ter a manhã só minha, mesmo que terei que desperdiçar umas duas horas com a psicóloga.

-Nossa nem me esperou.- Bruna entrou na cozinha assim que terminei o meu café, colocando a mão no peito e fazendo drama.

-Se eu fosse esperar o efeito do pó do riso do coringa acabar, eu já estava morta de fome.- falei com deboche e ela riu pelo nariz se sentando na cadeira.

-O Kaíque me ligou, mas tu já não está atrasada uns dez minutos?- perguntou sem entender quando olhou para a hora no relógio. Dei de ombros como se não fosse nada.

-Sério? Nem percebi.- ela negou.

-Tua mãe vai ficar uma fera.- baixei os ombros e passei a mão nos cabelos.

-Tanto Melinda como Steve tem que entender que já não dá mais em nada essas consultas.

-Eles só estão preocupados com você, Madu.

-Eu sei.- suspirei baixinho e logo me levantei.- Vou subir.

Ela apenas concordou e a passos demorados cheguei até meu quarto. Como já tinha tomado banho, era só trocar de roupa e escovar os dentes. Entrei no closet e procurei por um short e uma blusinha fina, já que o calor está de cozinhar um. Como não estava com muita disposição em procurar roupa, optei por o casual branco com preto. Quando me sentei na cama para colocar o tênis, meus olhos foram direto para algumas cicatrizes em minhas coxas, o short cobria as mais fortes e aparentes, mas as pequenas e um pouco visíveis podiam ser vistas. Usei um pá de pomada para vê que as cicatrizes sumiam ou aliviam, mas não serviu muito, só clareou.

Respiro fundo e depois suspiro quando sinto que as lágrimas queriam aparecer. Além das cicatrizes nas coxas, haviam também na barriga e umas próximas aos meus seios, outras poucas nas minhas costas. Aqueles filhos da puta me fizerem de seu brinquedinho pessoal, e além de terem feito o que fizeram resolveram deixar marcas para eu me lembrar pro resto da vida.

Balanço a cabeça tentando tirar aqueles pensamentos e volto a atenção para o meu tênis, quando termino me olho no espelho e verifico como ficou a roupa e o calçado. Depois de declarar que não ficou ruim passo para o banheiro e procuro minha escova, assim que acho coloco a pasta e começo a escovar os dentes, ao mesmo tempo em que escuto a voz do GM no andar de baixo perguntando se eu ainda estava viva.

Cínico do caralho!

Só por deboche demoro mais ainda, quem ele pensa que é? Assim que termino pego meu celular e saio do quarto, desço as escadas e encontro o GM na sala a minha espera enquanto a Bruna digitava alguma coisa no celular.

Me despedi dela e segui o GM até moto, ouvindo ele reclamar no curto caminho sobre eu demorar demais e depois da B.O para o lado dele. Ignoro legal e espero ele subir na moto para eu poder fazer o mesmo. Mantenho o maior espaço possível entre seu corpo e o meu, me segurando no apoio ao lado do banco. Respirei fundo e tentei mandar o nervosismo para longe de mim, mas ficava difícil quando tudo o que vinha na minha mente é que ele podia me levar para qualquer lugar onde ninguém me achasse.

GM praticamente voou com a moto e em questões de minutos já estávamos enfrente ao prédio, suspiro baixinho quando fixo meus olhos na fachada e desço da moto. Lá vamos nós para mais uma consulta que não vai dá em nada, além de me deixar cansada.

🎭🎭🎭

Como eu pensei, ela me disse o que eu já sabia, ou melhor, que todos já sabem. Eu só vou conseguir voltar ao normal quando me auto libertar.

E isso era o difícil, porque todos queriam que eu agisse como antigamente, ou boa parte das vezes, mas como que eu podia fazer isso se foi justamente assim que eu cheguei onde cheguei? Foi por ser extrovertida e achar que eu podia tudo, que conheci o Leandro e deixei a gente se envolver. Foi por confiar demais nele que eu me fodi e continuo fodida.

Funguei baixinho e voltei a fazer rabiscos na areia enquanto me perdia em pensamentos olhando para o mar. Pedi para o GM me trazer para praia depois que a consulta terminou, não gostava de ver ninguém quando saia dela, porque sempre a psicóloga filha da puta me dava os choques de realidades e eu só conseguia pensar que estava perdendo minha vida aos poucos. Meu pai autorizou que eu viesse e já faz mais de meia hora que estou sentada aqui na areia com as pernas perto dos seios, sentindo hora ou outra as lágrimas deslizarem por minhas bochechas.

-Por que você fez isso comigo, Leandro?- sussurrei para os grãos de areia.- Por que me fez apaixonar por você, para só depois me acertar com um Machado pelas costas? Por que me estragou desse jeito?

Não demorou para os soluços saírem da minha garganta e as lágrimas caírem com mais força. Me encolhi ainda mais abraçando minhas pernas, e fiquei ali quietinha deixando toda a tristeza em meu corpo esvair em lágrimas.

Mais Uma Chance?[M]✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora