Capítulo 15: Parte 2

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As onze da noite o tio saiu de casa todo trajado e cheiroso, dizendo que iria para o baile da penha e perguntou se eu queria ir junto, mas apenas neguei falando que estava cansada. Uma grande mentira que tenho certeza que ele percebeu, porém resolveu deixar de lado. Assim que ele passou pela porta senti um alivio passar por meu corpo com o pensamento de que não teria que sustentar mais o sorriso, mesmo que o Nicolas não fosse me pressionar ou me julgar. Contudo, em qualquer das hipóteses eu só queria ficar sozinha tendo que lidar com os pensamentos conflitantes sem ninguém ao meu lado.

Me joguei no sofá macio e espaçoso enquanto decidia se iria assistir mais um episódio de “Peaky Blindres” ou não na TV de quase 60”. Nick adora viver no luxo. Tudo na casa parecia jogar na sua cara o quanto você é pobre e olha que meus pais tem dinheiro. É tanto luxo que você chegava a duvidar se alguém realmente morava ali. Entretanto, quando se olhava para as paredes e via os diversos portas retratos do tio com os pais e a gente, qualquer dúvida era dispensada.

Estava pronta para apertar no play quando escutei uns cochichos distorcidos vindos da frente da casa. Todo meu corpo entrou em alerta e pulei do sofá, os olhos vindo e indo por toda a sala atrás de algo que poderia servi de arma, ao mesmo tempo em que lutava para que minha respiração não ofegasse. No exato momento em que me lembrei da pistola dentro da gaveta na mesinha de canto corri – tropeçando duas vezes – até ela, no entanto parei a mão no ar e forcei que meu coração parasse de bater em meus ouvidos. Quando, enfim, isso aconteceu quase chorei de alivio e me joguei no chão. Era só o Pitomba fofocando com o Gordinho.

Nenhum perigo à vista Madu, só fofoca.

Um sorriso acabou escapando dos meus lábios quando percebi que seria uma distração melhor para minha mente barulhenta do que assistir. Andei diretamente para a janela sem medo de der vista, uma vez que elas eram fumês do lado de fora, mas perfeitamente visíveis de dentro. Parei enfrente a ela e me arrependi no mesmo instante, pois dei de cara com o GM a uns cinco metros de distância olhando fixamente para o vidro, como se de alguma forma pudesse me ver. Um arrepio passou por minha coluna e encolhi os ombros em uma mistura de medo e vergonha. Mesmo sabendo de toda a verdade – ou aquela que juravam ser – não conseguia acreditar fielmente, minha mente sempre insistia em dizer que ele iria mostrar as garras, que estava mentindo para todo mundo; que na verdade o Rabiola era inocente.

Me peguei pensando nisso pelo menos umas cinco vezes só hoje. Seria mais fácil se isso fosse verdade, porque seria uma decepção a menos; menos uma pessoa que tive a infelicidade de confiar.

Suspirei e tentei me concentrar na conversa do lado de fora.

— ... era pra ele ter ido para os pneus. Não acredito em uma palavra que sai da boca desse desgraçado — o desprezo do Gordinho era tão visível que consegui escutar mesmo com uma parede abafando sua voz.

Franzi o cenho e cheguei mais perto da janela me encostando e virando um pouco de lado para escutar melhor, percebendo ao mesmo tempo que o GM não havia desviado o olhar.

— Não sei não, cria. As provas apontaram tudo pro Rabiola — respondeu Pitomba, duvidoso, como se não acreditasse de fato nas próprias palavras.

Eles estavam falando do moreno que não parava de me encarar, embora não estivesse me vendo? Estava começando a me sentir nua com a intensidade do seu olhar e que o vidro não era tão fumê assim.

— K.O isso aí, GM é inteligente, não duvido que o fudido tenha inventado tudo — Gordinho continuou ainda com o mesmo veneno.

— Ele pode até ser inteligente, mas Demo é sagaz porra. Nada passa por aquela homem por muito tempo. Ele fareja a mentira de longe.

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