Capítulo 17

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— Fica meczinha que o pai tá com um olho na boca e o outro em tu, bandida — fiz cara de tédio parando na frente dele.

— Tu devia era tá com um olho na camisinha e o outro no preço da fralda, Playboy.

— Toda engraçada tu né? Só falta o palco, porque a plateia e a palhaça já tem — semicerrei os olhos na direção dele.

— Enzo, Enzo. Vou trocar uma ideia com o tio sobre aquele relógio que apareceu quebrado do nada.

— Tu não cansa de me ameaçar com essa porra de relógio, não? Carai, cópia da Annabelle, o bagui já faz um ano — disse todo emburrado e eu estalei a língua.

— Mas era o relógio do coroa dele, Enzo. Teu avô deve tá revirando no caixão pra eu soltar o verbo.

— Tu é cínica pra porra, Madu. Soltar o lero pro tio que ele te ensinou direitinho — e então chegou mais perto de mim, abrindo um sorriso triunfante. — Mas se liga que o pai aqui tá sabendo de um conjunto de prato aí que era pra ser de porcelana portuguesa, mas é uma réplica bem feita — minha boca se abriu em um perfeito "O" e senti meus olhos se arregalaram, para a alegria dele.

— Como porra tu sabe disso? Mano, não sabia que o Demo era tão fofoqueiro.

— Foi o WL, gatinha. Meteu com a língua nos dentes lá em casa e soltou bonitinho.

— Que isso gente, Tio Wallace? Logo ele? Eu não tô acreditando.

— Tu sabe como Débora é, consegue descobrir até de bagulho de dois anos — O filho da puta estava cheio de sorrisinho.

O bendito jogo de louça de porcelana apareceu exatamente em um momento de crise de meia idade de Melinda, que decidiu trocar toda a louça da casa, alegando que já estavam velhas e feias. O conjunto de 30 peças de porcelana portuguesa legitima cheia de frufru com bordados nas laterais em dourado e platinado, foi nada menos que dez mil reais a dinheiro vivo, que ela deu com gosto. O terror veio três dias depois, quando fui secar os malditos pratos e quebrei um. A sorte foi que dona Melinda não estava em casa e meu drama e horror foram tão grandes que tio WL, meu pai e eu fomos no asfalto comprar uma cópia de 30 conto.

— Tá mó tardão, né Enzo? Hora te meter o pé pra casa, a tia deve tá preocupadona contigo — falei com o cu na mão e o cara de puta gargalhou alto.

— Tu é mó vacilona, Dudinha. Mas fica mec é só ficar pianinha no bagulho do relógio que eu esqueço até o que é um prato — soltou um beijo e ligou a moto descendo a ladeira como se fosse o dono do mundo.

Loirinho desgraçado. Pior que é igualzinho a mãe. Soltando um suspiro, entrei em casa e fui direto para a cozinha. Tô varada de fome.

Abri a geladeira na esperança de ter algo gostoso e fácil de fazer até que meus olhos brilharam quando encontrei uma pizza pré-assada. A peguei e comecei a ler o modo de preparo, percebendo como era fácil e que eu não acabaria colocando fogo na casa. Bastava apenas colocar no forno por 20 a 30min.

Liguei o forno do fogão, tirei a pizza da embalagem e a coloquei lá dentro, marcando 25min no meu celular. Enquanto o forno preparava minha comida decidi ir tomar um banho rápido. Porém me detive mais do que pretendia quando percebi que por minha pele está muito seca as cicatrizes espalhadas por minha barriga e coxas estavam mais expostas. Engoli em seco, sentindo um nó se transformando em minha garganta enquanto pegava o frasco do hidratante, dizendo a mim mesma que tudo ia ficar bem, embora não conseguisse acreditar muito. Me demorei em casa pequena elevação, tratando cada uma com muita atenção, lutando contra as lágrimas que teimavam em invadir meus olhos. Tudo piorou quando peguei um short no closet e assim que o vesti, ele desceu por meus quadris, mostrando o quanto estava magra. Olhei na direção do espelho sentindo lágrimas de angústia descendem por minhas bochechas. Porém, para minha própria felicidade ele estava coberto como os demais existentes na casa.

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