O inesquecível macumbeiro

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Olhei a foto e me apaixonei, ele era alto, musculoso, um olhar penetrante e uma barba bem tratada, tudo me levava aos pensamentos profanos.

Dane-se, estava ali para isso mesmo.

Deu match e ele rapidamente começou a escrever, achei estranho, aliás esmola demais sempre desconfio.

Senti que o papo era sete um, algo nada embasado, principalmente profissionalmente.

Mas aquilo não era uma entrevista de emprego, dei corda, aliás dei mais que a corda.

Passamos aquela noite a conversar, ele se ofereceu a ir ao meu encontro, neguei com dificuldade, era tarde.

Que voz meus caros leitores, que voz...

No outro dia obviamente tive que conhecer o mocinho.

Antes tirei algumas informações, uma delas foram as páginas sociais. Falei com uma amiga que ia ao encontro dele, mandei as páginas, logo ela tinha um amigo em comum, entrou em contato e por incrível que pareça, tive boas recomendações.

Sai de casa, parei na esquina, entrei em um bar, comprei um chiclete e uma Budweiser.

Combinei com ele em um posto na esquina da minha rua, ele era suburbano, não conhecia muito a Tijuca, por isso atrasou um pouco. Não vejo isso com maus olhos, afinal eu não conheço a Champs Elysées em Paris.

Ao chegar ele estava lá com duas coleiras nas mãos. Segurava os cães para um senhor que entrou no posto de conveniência. Que fofo (odeio essa palavra, fofo, me sinto uma adolescente idiota)!

O reconheci, estava bem-vestido, com um jeans lavado, uma camisa de botão branca com mangas dobradas no cotovelo e um sapatênis. Uma cor dourada lindíssima e uma altura excelente.

Ele fazia parte da minha cadeia alimentar, como fazia...

Quando me aproximei ele me deu um beijo daqueles que tiram o ar, foi arrebatador.

Ele entregou as coleiras para o dono dos cachorros e seguiu em direção do carro, abriu a porta para eu entrar, deu a volta no carro, abriu a porta do condutor, sentou-se e pôs os óculos de grau. Aí me quebrou total.

O cara conseguiu ficar mais bonito do que já era.

Me deixei levar, claro!

Perguntou para onde eu queria ir, lógico que respondi que para qualquer lugar.

E ele me levou para Ilha do Governador, um bairro mais distante, chagando lá parou em um deck super bacana, que mais tarde apresentei para uma pessoa que namorei e morava lá, depois conto essa história.

A vista era linda, estava uma noite quente, a lua era nova, eu estava uma loba, se não, ao menos certamente correria com eles ou uivaria.

Conversamos um pouco ali, até que ele resolveu me levar para um lugar mais íntimo. Para minha alegria!

Antes de continuar vou dizer o que esse moço me fez. Ele foi para Ilha usando o caminho mais perigoso, a tal Avenida Brasil, passei pela Faixa de Gaza, é aquilo, no pain, no game né?

Sigamos, porque aí começa a história.

Eu entrei no carro e seguimos, eu não sabia se estava em uma das crônicas do Nelson Rodrigues ou Plínio Marcos em Navalha na Carne

Paramos em uma praia que não lembro o nome, na frente dela era o hotel.

Não tinha elevador, subi a escada e me vi entrando em um corredor com portas que não viam tintas muito tempo.

Tinham portas que eram amarradas com arames, e quanto mais eu andava mais esses dramaturgos eram injetados em minhas veias.

Chegamos ao quarto, uma cama com um colchão envolvido no plástico azul, a  cama era redonda, um ar-condicionado que só ventilava e uma cortina que despencou quando fui observar a tal lua.

Sem frigobar nesse verão carioca.

Se a visão era tão subversiva daquele lugar, o homem compensou de outra forma.

Tudo tão Rodriguiano...

Ele me pegou de um jeito que até hoje lembro.

Era suor, era calor, era tesão, era aquele frenesi incessante, uma volúpia, luxúria para dar e vender, que maravilha!

E fomos assim a noite inteira, naquele corpo tatuado tinha, caveira, Zé Pelintra, Tranca rua, cigana, flores, tudo...

Era tudo rabiscado!

Naquele corpo tinha disposição, não era fechado para o prazer...

Ao acordar de um leve cochilo, fomos para o banheiro, lá as louças não casavam com os azulejos, tudo colorido e com cores muito distantes.

Fomos para a ducha, que ducha?

Era um cano com água gelada, disso não posso se quer reclamar, no verão a água aqui em casa vem quente logo cedo.

E debaixo daquele cano, obtive mais prazeres...

Sai destruída daquela noite, daquela manhã.

Voltando, olhei para um colar no pescoço dele que portava uma aliança, fui discreta, mas fiquei curiosa.

Ele dirigindo perguntou se eu queria saber de quem era a aliança do cordão, não respondi, ele mesmo assim disse ser de uma cigana.

Gelei.

Depois dessa noite, preferi me afastar, ele tinha um filho pequeno, isso não me agrada.

Depois saberão o porquê desse posicionamento.

Vi algumas fotos de orixás em uma de suas páginas, nada contra, mas sério que bolei (termo de centro) com a tal cigana, imagina se ela é ciumenta?

Sumi.

#amonelson 

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