O Caminhoneiro

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Ele era/é caminhoneiro e me lembrava o X-man Wolverine. E exatamente por isso não podia deixar passar assim, sem carimbar um mutante. Batemos papos por algumas semanas, mas ele estava sempre ocupado fim de semana, e eu não saio dias de semana, já tenho muito o que fazer. 

Até que em um  belo sábado ele me chama para almoçar. Aceitei. Não esperava parar em um restaurante caro na zona sul, mas também não esperava parar em um restaurante nordestino na comunidade Parque União na avenida Brasil. E quer saber? ADOREI, e iria novamente. Além do baião de dois ser maravilhoso, pela primeira vez na minha vida, vi um restaurante com mais de 70% frequentado por negros. Onde moro, os negros não chegam a 10% dos frequentadores. Isso sempre me chamou a atenção e percebo o quanto temos que mudar. Percebi que vivemos em guetos, não adianta negar, lugar de negros é na comunidade pelo que pude ver. Não vejo isso com bons olhos, comunidades em grande maioria tem esgoto ao ar livre entre outras faltas de estrutura. Isso tem que mudar!

Enfim, caminhoneiro come mesmo, e eu também, ainda mais quando a comida é boa.  Queijo coalho, filé, manteiga de garrafa, farofa e coca-cola. Ele não sabia, mas a noite anterior estive com Bruno, um vizinho, tem uma sorveteria, bebi uma garrafa de vinho, além da ressaca a fome. Senti-me uma caminhoneira diante daquele tanto de comida. Ele bebeu cervejas, umas quatro garrafas, mas não me incomodei, L era simpático, simples, um cavalheiro, embora simples. Usava um perfume que não me agradou, mas muita coisa eu não gosto. A tarde estava legal, e o time do flamengo perdeu na final, isso corroborou para uma tarde mais gostosa. Sei que sentamos naquele restaurante as 15 e saímos às 20 horas, foi ótimo, ele queria mais, no entanto, eu estava cansada da noite anterior, vai que o cara come tanto quanto come o que está em um prato?! Preferi declinar do segundo convite, mas não quer dizer que declinarei do próximo, eu com meus cabelos brancos, sou quase a Tempestade, e ela gostava do Logan, lembram?

Muitas vezes precisamos sair desse nosso universo boçal, o Brasil é muito mais que o nosso universo nos apresenta. Precisa-se entender o que se passa fora da nossa bolha. L me deu a oportunidade de ter uma tarde com pessoas que em nada são diferentes de mim. Sofrem preconceitos por suas cores, por não terem casas em bairros nobres, por causa dos seus cabelos crespos, por tudo, praticamente estigmatizados por essas coisas. De certa forma, eu me vi feliz ali, tive a oportunidade de ver pessoas não abastadas comendo o que queriam comer. Essa equidade faz bem pra caralho!

Vou retribuir ao caminhoneiro o momento prazeroso que ele me deu, mas a moeda será outra!


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