As fotos dele me chamaram atenção, merecidamente teclei no coração e o match rolou, logo começamos a teclar:
Bom dia srta, tudo bem? ( Ele)
Tudo bem. E o senhor? Como estas?
O Sr está bem, nesse dia lindo de sol, trabalhando home office (Ele)
As fotos do E me chamaram atenção, porque me levaram a dúvida, se os olhares eram ou não propositais. Ele tinha elegância ao se vestir, isso também ficou nítido e uma taça de vinho branco fechou a porta do caixão. Tudo causou hipnose visual, se é que isso existe!
Eu sempre deixo claro que procuro sexo no aplicativo, e ele disse que também. Ele me seduziu rápido nas entrelinhas. E logo estávamos combinando o tal encontro, devido ao carnaval em abril e uma visita ao filho, as agendas estavam liberadas somente na última semana de abril. E com a demora, preferi abrir a agenda na terça-feira mesmo, mas deixei claro para ele, que eu acordei quatro e trinta da manhã para pedalar, possivelmente eu ia cair no sono, na primeira ou segunda taça de vinho. E foi daí que meu interesse por ele aumentou...
Ele contou sobre a diabetes que o angustiava, e que algumas vezes, por mais vontade que tivesse, o negócio não ia, não levantava, a Torre Eiffel não reluzia...
Eu levei um susto com a confissão, mas, em simultâneo, o admirei, pela coragem e pela honestidade.
Pensei, uma mulher que dorme e um homem que não funciona, vamos de vinho, e que os orixás abram os caminhos né?
Ele delicadamente veio me pegar em casa, não sabíamos se íamos comer algo em algum bar, se íamos comer no bairro dele, Copacabana ou no meu...
Já era tarde e também pelo congestionamento das ruas, era dia do jogo do flamengo pela libertadores, estava tudo lotado em volta do Maraca, decidimos ir para a casa dele. Ele no caminho avisou estar com dor de cabeça, que poderia ser fome, levei uma laranja.
Ele um homem negro, barba bem feita, bem aparada, belo, muito elegante e cheiroso.
Ele olhava para as minhas pernas, não disfarçou, passou as mãos lisas, foi comedido...
Mostrei-lhe alguns pontos da Tijuca, entre eles o ventre da besta, o Colégio Militar, lugar de onde sai presidentes genocidas e militares necessitados de próteses penianas.
Chegamos a Copa, subimos, entrei no apartamento, pequeno e aconchegante. Fotos do filho para todos os lados. Sentei no Sofá, ele também, me acolheu nos braços, de maneira gostosa. Beijou-me, mas escorreguei, pedi o vinho.
Uma taça atraente, alta, me foi bem servida. O vinho era português, a garrafa tinha um desenho lindo no vidro, era premiado, vários selos, degustei sozinha, enquanto conversávamos sobre muitas coisas, entre elas a história de Maria Felipa, a negra heroína de guerra, da guerra da Independência do Brasil.
Fantástico!
As músicas eram as melhores, uma playlist de qualidade. Começamos pelo imenso Cartola, ele embora paulista, adorava o músico e tinha ele tatuado no braço, acreditem. Sem contar que acima de uma pequena dispensa de vinho tinha um quadro do Cartola com a Dona Zica. Uma noite de vinho, música boa e homem, isso é bom demais! E sorrindo levei a vida nessa noite tão saborosa!
Ensaboa, O mundo é um Moinho e Preciso me encontrar, músicas que contribuem para momentos inesquecíveis. Quando tocou Alvorada, disse-lhe que quando pedalo de madrugada passo pelo morro da Mangueira e muitas vezes vejo o sol nascer, os primeiros raios vão direto coroar, colorir a comunidade, sempre penso comigo, que adoraria ver aquele amanhecer em um barraco lá do alto do morro, de preferência com um negro me comendo em pé, enquanto eu admiro a chegada de mais um dia. Ele disse que a mistura de Vinícius de Moraes e Maria Padilha era incrível, tive que rir.
Vinho acabando, ele me ofereceu outra garrafa, neguei. Era terça-feira, embora muito agradável, quarta-feira era dia de trabalho, daí evito sair dias de semana!
Ele me levou para a caminha, fui tirando a roupa. E não dormi, muito menos ele deixou de funcionar, a Estátua da Liberdade, estava lá onipotente.
De madrugada também...
Mas a sinergia, como ele mesmo dizia, entre nós, não foi só o sexo, embora tenha sido bom, mas também as trocas ditas, essas chancelaram uma noite lírica, fato!
Óbvio que é impossível estar ao lado dele sem sexo, isso não aconteceria. O que ouvimos juntos, o que aprendemos um com o outro, ele tem 41 anos, mas educadíssimo, não servi minha taça em nenhuma das vezes que ela esvaziou. Isso mesmo! Ele tinha elegância! Tudo perfeito e pareceu ensaiado!
Quando a fome bateu, ele fez a tapioca mais gostosa do mundo!
E quando acordei, pediu Uber para mim, deu um tempo e perguntou se eu cheguei bem em casa, resumindo, um gentleman, além de acolhedor! Não é um homem em forma, mas o toque dele é gostoso, o abraço é gentil e macio, ele é generoso. Tudo para fazer qualquer mulher apaixonar ;)
Não me arrependo de ter quebrado meu protocolo de não sair nos dias de semana, mas escolhi a pessoa certa, ele fez valer muito a pena, em todos os aspectos. Senti-me a vontade para dividir um pouco dos meus sentimentos doloridos.
Eu estou praticamente saindo da vida que ele resolveu entrar, aquela vida de sexo sem compromisso, sem paixão, que vale a pena. E fique claro, é boa também!
Para nós cabe os versos do eterno e tão amado por nós, o grande Cartola!
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorarQuero assistir ao Sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viverDeixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrarQuero assistir ao Sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viverDeixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorarDeixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorarObrigada universo, por uma noite tão calma e poética.
Obrigada E, você foi legítimo em atender as minhas vontades, todas elas...