Lembro da nossa história desde o início, um português sem arranhões, ele era perfeito, ia além da escrita, eram emoções traduzidas em palavras. Ele também era bonito, era não, continua ser.
Vamos dar um nome para ele?
Vamos chamá-lo de E, ele mora na Barra da Tijuca, bairro nobre aqui no Rio, com uma praia linda, quase quinze milhas de extensão de areia branca, considerada a mais bonita da cidade.
OE tinha uma sensibilidade linda na escrita, ele é baiano, mergulhado na música, na boa música. Também é bem entendido na literatura, isso mexeu muito comigo, conversávamos horas sobre tantas coisas, mas a arte parecia nos envolver mais, o sabre era prazeroso para ambos, era uma delícia.
Nosso papo nos conectou de imediato, química perfeita através das letras, trocas imensuráveis.
E me ligava tarde, isso foi me incomodando. Procurei saber um pouco mais sobre ele. Queria saber onde eu estava me metendo.
Questionei se ele tinha páginas sociais, me respondeu que não tinha, isso me fez suspeitar de algo, algo escondido.
Ele se ofendeu com as minhas suspeitas, isso foi péssimo.
Lembro que ele tinha me contado sobre ter conhecido uma mulher, no mesmo aplicativo que nos conhecemos. Ela saiu com ele umas duas vezes e fez algo que me deixou perplexa.
Imaginem que ela pusera um chip no carro dele para saber por onde o mancebo andava, pior, foi ela quem contou do feito.
Continuamos a conversar, mas não mais com a mesma intensidade. E como amigos combinamos de nos encontrar.
Lembro que foi no Otto, um restaurante na Tijuca, próximo a minha casa. Ele me esperava lá.
Entrei no restaurante e lá estava ele com uns livros, escritos pela filha dele, eram presentes.
Estão guardados comigo.
Pedi uma sangria, sangue del toro, uma bebida espanhola. Esta foi criada na Península Ibérica para as touradas durante o verão. Os pobres não podem comprar como cavas, que são os espumantes de lá, também excelente bebida.
Voltando como sangrias, hoje não estão no mundo inteiro com peculiaridades locais.
Pedi uma sangria de vinho branco, ele por dirigir exigiu uma água.
Conversamos bastante, foi ótimo, mas não saiu daquilo.
Continuamos com as trocas, sempre culturais, bem enriquecidas.
E me contou uma vez que podia surpreender uma mulher com uma caixa de macarrão de dente, não acreditei, porém, no meu aniversário ele me convidou para jantar ...
Ao chegar, vi E sentado à mesa, com uma garrafa de vinho, um bom reservado em um balde de inox, na salmoura, na verdade, gelo, água e sal, o tal do sal acelera o derretimento do gelo deixando a água muito gelada , o vinho no nosso clima precisa desse choque o ano todo. Adorei!
Mas não foi só isso que me surpreendeu e sim uma rosa branca que estava deitado sobre o meu prato. A peguei com a delicadeza necessária e vi umas letras pequeninas escritas à nanquim em uma das pétalas, me desejando Feliz aniversário. Lindo né?
E sempre estará em minha memória, guardado.
Foi bom, mas não evoluímos, não acompanhantes vez.
Aliás, ele jantou por lá, eu não quis, me apropriei da Bruschetta da casa, tomates (cerejas) bem escolhidos explodem em nossas bocas aromatizados pelo manjericão em natura, dando uma nota de sabor inesquecível.
E as trocas continuaram, diminuíram um pouco, mas continuaram.
Ele às vezes aparecia, mas sumia da mesma forma, como um breve relâmpago. Uma vez me contou que fora abduzido, por uma ET, senti ciúmes, mas não tenho disco voador né?
Outra vez ele acompanhou uma ao vivo que eu fizera com um artista, achei aquilo legal da parte dele. Me chamou a atenção, falou que eu induzia o entrevistado politicamente, risos.
Também seria impossível eu não fazer com uma política errada do Brasil atualmente.
Bem, ele me ligou em uma sexta-feira e me convidou para beber na casa dele.
Fui, ele me pegou em casa e fomos nós.
Ao chegar, abriu uma garrafa de vinho, um vinho bom, pediu uma pizza.
Ficamos a escutar músicas, eram essas congos, nacionais e internacionais, foi tudo bem diferente.
Ele por ser engenheiro e arquiteto, tinha um belo apartamento.
Tinha um quadro lindo, bem colorido, na sala, não estava pregado na parede, mas encostado em um imenso sofá branco.
Aquela obra era dele.
Tinha dois cachorros.
Lembro que enquanto eu bebia vinho, ele não parava de tomar pequenas doses (dizem shots) de uísque e charutava!
Eu deitei na sala, digo no sofá, ele se aproximou, fiquei muito inibida, perdida, me afastei com leveza.
Quando demos conta já era cinco da manhã, fui para o banho, no banheiro dele e sai de calcinha.
Ele estava sentado na cama.
Sentei ao lado dele, na cama dele.
Logotipo...
Transamos, mas percebi que já era tarde, éramos amigos, ali já não tinha aquele sentimento, aquele tesão inicial.
Não curto transar com amigos, não misturo esses sentimentos.
Fui pega de surpresa. Não consegui assimilar aquela situação.
Não aberto, o sexo não fluiu direito, pleno.
Fluiu perfeitamente como trocas musicais, como músicas locais do Espírito Santo que apresentei a ele, morei por anos lá e ele me mostrado como músicas de própria autoria, maravilhosas.
Nos despedimos naquele dia, digo no dia seguinte, faz um tempo que não falamos, qualquer dia ele reaparece, é sempre assim.
Ele me chama de Harry Pop de Harry Potter ...
Gosto dele e enquanto escrevo sorrio, lembrando de um homem tão agradável quanto qualquer brisa delicada e primaveril que passam nos envolvem nas boas sensações do passado.
#saudadesdele