Comecei o papo com um homem que visualmente me chamou a atenção no aplicativo. Ele escrevia bem, muito bem. Tinha um papo interessante, maduro. Me contou ser professor de uma universidade federal aqui no Rio de Janeiro. Me contou também suas dificuldades para achegar onde chegou, a família era simples, não tinham condições para ajudá-lo na sua formação. Era doutor em botânica. Durante a conversa disse que terminara um relacionamento pouco tempo. Já com essa informação preferi já amornando em minha cabeça qualquer aproximação que me levasse a admirá-lo mais que necessário. Mantive o papo, não lembro o nome dele, mas lembro dele por conta das conversas.
Evito mesmo me envolver com pessoas que saíram de relações a pouco tempo. Não acho bacana ficar ouvindo histórias de ex namoradas, ex mulheres, acho um saco, não curto participar desse enredo. Tudo é chato, brigas por conta de filhos, brigas por conta de animais domésticos, brigas por conta de bens, brigas por tudo!
Mas isso não é uma característica só da mulher, basta abrir os jornais para ver a quantidade de mortes de mulheres por não aceitação do término de uma relação por parte do cônjuge. Que fique claro, não é CONGE!
Mas sempre fomos as ex sufocantes, acredito que seja resultante do patriarcado, machismo e vaidade do homem e como caracóis temos que levar nas costas mais essa!
Ele uma vez viajou para fazer parte de uma bancada fora do Rio. No caminho parou para comprar um vinho e me ligou pedindo orientação. Foi bem legal, lembro que falei com o dono de uma casa de vinhos. E foi rápido, um carmenere chileno premiado foi a compra lá.
Continuamos a conversar, ele sempre me convidava para beber uma cerveja, o que não aprecio de jeito nenhum, pode ser Paulaner, Erdinger Weiss ou a mais cara do mundo Antarctic Nail Ale.
Eu me recusava, não curto sair dia de semana, evito mesmo, sou inflexível quanto a isso.
Os finais de semana ele não aparecia, eu também não o procurava.
Eu adorava quando ele me chamava pelo nome, gosto bastante de ouvir Patrícia, em certos momentos então...
E assim seguimos, ele saía da faculdade e me ligava, os papos eram sadios.
Até que um dia resolvemos sair, era uma sexta-feira, fazia frio, ele me apanhou em casa e fomos para a Feira de São Cristóvão, essa feira era conhecida como a feira dos paraíbas, porque foi e é um centro de cultura nordestino na zona norte do Rio de Janeiro. Palanques de forrós e culinária nordestina. Naquele mês era festa de São João, me permitir ir.
Ao chegar lá procuramos um restaurante para bebermos e comermos a carne de sol, aipim frito e queijo coalho com manteiga de garrafa. Os restaurantes de lá são bem característicos, com muito tecido Chita sobre as mesas, madeiras e chapéus de couro, casaco de gibão, moringas de barro, tudo se transforma em peças decorativas.
Pedi uma caipivodca de caju, foi aí que conheci o homem botânico explicando o caju. Ele explicou que o acaiu (na língua tupi), é dividido em duas partes, a castanha e a flor. Contou também que o cajú era alimento dos índios antes dos portugueses chegarem. Inclusive o nativo caju foi para Ásia e África.
A noite parecia ser boa, até eu notar que ele bebia rápido demais e em abundância.
Me assustei quando percebi que seus olhos já não focavam muito em nada, estavam perdidos.
Dançamos forró, o que ele fez muitíssimo bem. Eu sou filha de nordestino, desde criança que a dança faz parte da minha vida, ainda lembro das chinelas (como ela dizia) arrastando pelo chão de cimento queimado vermelho. Boas lembranças...
Ele tentou me beijar, não quis, me incomodei com ele, com o comportamento que o álcool o deixara.
Tive vontade de ir para casa, ele quis me levar, mas não aceitei, fiquei com muito medo, peguei um táxi e voltei sozinha mesmo.
Ele falou comigo algumas vezes, mas perdi o tesão, não pela pessoa, mas sim pelo receio que aquilo acontecesse novamente e fiquei muito sem graça de falar.
#amoalceuvalença