R mora em Portugal, ele é aposentado e a qualidade de vida lá não se compara com a daqui do Brasil. Educação, saúde, violência, tudo parece ser melhor que aqui, também no Brasil onde programas de televisão, altamente desqualificados são campeões de audiência, o que esperar?
Portugal é um lugar bonito, mas as pessoas são bem estranhas. As portuguesas diferem de nós brasileiras. Elas parecem não ter o calor e não são sensuais como somos, por natureza.
Também somos mais vaidosas e temos curvas invejáveis.
Conheci R no início da pandemia, ele estava no aeroporto de São Paulo tentando voltar para Portugal.
Tivemos um papo legal, acredito que como eram muitas horas de espera para o voo, ele viu em mim uma forma de passar o tempo. O papo foi leve. Depois não mais falamos. O mundo estava de cabeça para baixo, eu não tinha como pensar em Portugal, se nem na esquina eu podia ir.
Ao chegar a primavera em Portugal R me adicionou uma bela poesia em vídeo de lá. Algo que dizia que a beleza da primavera chegara, mas ela (a primavera) não sabia o que vivendo vivendo. Lindo aquilo!
Mas não continuamos a falar.
Nesse espaço de tempo era o Covid que matava, era minha mãe e um laudo que diagnosticava um câncer na medula óssea e perda dos rins seguindo de hemodiálise. Foi uma merda.
Lembro que estressada do convívio com meus pais por não quererem respeitar a quarentena, fui para Saquarema, onde na década de oitenta era o ponto dos surfistas do Rio de Janeiro no verão de dezembro, com grandes campeonatos nacionais e internacionais.
Lá eu ficava longe das pessoas, de aglomerações e foi lá que eu e R começamos a nos aproximar virtualmente. Ele acompanhou tudo que me aconteceu em dois mil e vinte. Ao acompanhar a primeira quimioterapia da minha mãe no hospital (longa internação), ele estava comigo, era virtual, mas estava.
Foi um parceiro.
Em duas semanas sabíamos da vida um do outro, papos quentes também aconteciam.
Trocamos receitas, dicas culturais e às vezes ficávamos horas conversando.
Falávamos sobre filmes, algo que ele adora, filmes que ganharam oscar. Era uma maneira gostosa de passar o tempo e eu ficava bem quando falava com ele.
Ele também tinha com quem dividir seus problemas pessoais que não cabe comentar aqui. Sei que nos apegamos. Ele planejava vir em setembro, mas a pandemia parecia não ajudar o meu encontro com R.
Um belo dia ele surtou e achou estranho conversar com alguém tanto tempo, se irritou e parou de falar.
Senti falta, pois também fazíamos chamadas de vídeos antes de dormir, às vezes a filha entrava no quarto dele e me mandava um tchauzinho de longe.
Eu e R nos falamos ainda, sempre brincamos, procuro saber dele, o ano de dois mil e vinte não começou bem em Portugal, pois a pandemia esta pior por conta de uma variante do vírus, estão em isolamento total.
Também deveríamos estar, mas como disse, aqui o que vale é o BBB, é comprar os políticos do centrão e gastar milhões em leite condensado!
Ainda aguardo R por aqui, mas sem data prevista.
#amopasteldebelem