Ele um marciano e eu só queria transar

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Não sou Elis Regina, mas aqui quem fala é da terra...

Não sei bem por onde começar, desenvolver um texto onde o protagonista ou antagonista é um doutorando em direito é meio complicado, tenho que fazer valer a pena a porra do encontro. 

Escrever era um dom que ele tinha, tinha sapiência em tecer através das palavras seus pensamentos. 

Ele não era verde, mas me abduziu, me jogou na sua nave espacial e demos uma volta ao espaço, sem roupa de astronauta, porém vestidos, infelizmente!

O homem tinha uma visão hipoteticamente perigosa, pois parecia me conhecer, parecia...

Depois de muitas horas teclando, muitas trocas culturais, pessoais e opiniões, marcamos de nos conhecer no Otto, um restaurante na Tijuca.

Tudo com João (esse foi o nome que o caráter adâmico dele escolheu para o aplicativo) era permitido, todas as verdades eram postas na mesa com ele, não tive medo de ser julgada, aliás, isso não combinava com ele, ao menos foi o que ele transmitiu. João se preocupava com seus negócios e o resto era diversão.

Após dias e dias de bate-papo, ele disse que eu era honesta, despirocada e às vezes deliciosamente grosseira, isso foi antes de me conhecer pessoalmente e após ter me  encontrado com o ET, me tornei doce e indescritivelmente agradável para ele.  

Mas não transamos...

Ele morava no céu, trigésimo nono andar em Niterói, a nave espacial dele parecia interessante, mas isso não era o mais importante nele. O mundo dos negócios era irrelevante, ele tinha uma simpatia mega envolvente.

Tinha uma fluência em inglês que me deixou boquiaberta, era gostoso ouvir.

Cheguei mais cedo e fiquei teclando com a redatora do jornal que escrevo. Ele esporrento chegou gritando:  reconheci pelo cabelo (a juba do Rei leão é uma marca)!

Foi ali que percebi quem era ele, solto e meio eu, parecido comigo.

Ele era alto, cabelos brancos, ele era lindo, um olhar intenso, uma voz com um timbre forte, uma alegria que o completava e que também emanava. Ele tinha borogodó. 

Pedimos um Gim com tônica, pedimos uma sangria com vinho branco, pedimos espumante Casa Valduga, um hi-fi e chope. Excelente companheiro de copo.

Comemos croquetes de carne e um palmito assado com manteiga e ervas, o carro chefe da casa. Pude perceber que ele gostou do prato, o saboreou com vontade, a mesma vontade que eu tinha de saboreá-lo. 

Mas uma frase gritava em meu inconsciente: hold your horses darling!

Na verdade, permeamos de um assunto ao outro sem titubear. A inteligência e o olhar do João eram inteligentes e bem embasados, incrível isso, por mais que não concordasse com certas teorias, ele me fazia pensar, ele era bem provocador em relação a isso. 

Em alguns momentos me fazia ressignificar achismos que carrego. Algumas coisas tive que discordar, uma delas era que estávamos politizando a pandemia, entender que no auge de mortes e milhares de cidadãos infectados, um presidente causar aglomeração e sem máscara desfilar pelos estados, já com índices altíssimos de contágio, fica em evidência a culpa do estado na tragédia brasileira em relação ao Covid-19, outrora tragédia já anunciada pelo próprio Ministro da saúde que defendia o isolamento, lógico que afastado por isso.

Um presidente que anda na contramão dos índices mundiais, que comparou o vírus a uma gripezinha, face a quase trezentas mil mortes, continua a manter uma postura nada diplomática.

Impossível não culpar um presidente que em agosto do último ano não se aliou a ciência, que evoluía na descoberta da vacina, mas gastou milhões ao comprar aliados em um momento que lutávamos por vidas. 

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