Não lembro ao certo como ela caiu para a direita. Afinal, eu não sou o que se considere uma figura visualmente apetitosa no aplicativo... geralmente eu o usava mais por diversão do que propriamente com algum propósito concreto em mente. Era mais mesmo o lúdico de deslizar para a esquerda ou para a direita, numa brincadeira tipo como quando alguém está escolhendo carros num aplicativo. Escolhe os Rolls-Royces e Mercedez-Benzs sabendo que nunca irá andar num deles mesmo, e se diverte com isso. Assim, vamos deslizando para esquerda dizendo ... esse não, para direita, esse sim... e vai-se.Não sei em que momento eu a deslizei para a direita, nem esperava um contato, mas ele acabou acontecendo. Começamos claro um contato escrito, em meias-palavras, que evoluíram para meias intenções e depois em intenções inteiras. Ela escrevia bem e isso dizia muito dela, mesmo nas meias palavras. Na realidade, também tenho a mania de fingir que sou poeta... metafórico. E acho que foi essa a isca que ela mordeu. Ms. P. gosta de mistérios, do inusitado. Gosta que estimulem sua mente, à mesma medida do prazer de estímulo do seu corpo. Então, nesse bolinamento mental, fomos ao WhatsApp, onde as orgias textuais são bem mais confortáveis. E nesse espaço, mais plástico e amplo, fomos apalpando a mente e o espírito um do outro... roçando os pensamentos, dedilhando as fantasias, provocando e reprovocando as retinas até ficarem completamente molhadas (e não somente elas), que sem aguentar mais essa exploração e auto-exploração constantes, de dar inveja à Onam, resolvemos nos orbitar pelo menos, no campo da realidade.Ms. P. é uma mulher intimidadora. Morena, com um sorriso de criança prodígio, de uma virtuose! Numa mistura de inocência e robusta autoconfiança, porque sabe do que é capaz de impactar ao redor. Juro que tem cheiro de canela, ou de maçã com caramelo, mas isso deve ser só minha imaginação. De qualquer forma, ela tem ainda um par de olhos penetrantes, inquiridores, perscrutadores. Junte-se a tudo isso uma voz ressoante, e algumas vezes irritante, e temos uma vênus de caramelo. Dessa forma, fomos nos encontrar em um bar delicioso no meio da tarde – eu fugindo do serviço – cujo nome não me recordo mais, mas ela com certeza sim. A vi chegando depois de alguns minutos de ansiedade, num vestido inteiriço que ia até os joelhos, usando uma echarpe, vestindo um sorriso delicioso... e só. Exatamente... ela estava usando só o vestido e mais nada. Tínhamos passado das picardias provocativas virtuais para as concretas, tridimensionais, com texturas, sabores e cheiros. Foi um encontro palpitante, com mãos escorregando por sob panos, disfarçadamente, num café no meio da tarde.Preciso dizer que nosso novo encontro precisou ser logo... urgente.Semana seguinte nos devoramos. Foi tudo intenso, desde o encontro no carro até o final. Começamos o banquete dentro do carro na garagem do motel, estava tudo muito incontrolável. E fomos... fomos muito e tanto... fomos na cama, na banheira, no chuveiro, em pé... fomos muito. E entre uma ida e outra, nos intervalos permitidos ao descanso dos corpos, descobria seus orgasmos intelectuais, sua trepada cultural... Ms. P. está sempre excitada intelectualmente. Sempre com o córtex cerebral lubrificado, pronto para o gozo. E isso é o mais encantador dela. Essa capacidade de se manter em ereção intelectual, cultural e política quase todo o tempo. Num priapismo antropo cênico de fazer inveja a Sileno, instrutor de Dionísio.Ms. P. tem uma cicatriz grande no braço esquerdo, atrás... e eu nunca tinha reparado. Porque todo o resto sempre chamou mais atenção. É difícil ver imperfeições se as atenções estão voltadas para sua bunda linda, seios encantadores, olhos penetrantes ou para o seu pensamento instigante.E como somos? Acho que nos descreveria como seres simbióticos... adoramos dar um ao outro o que gostamos e precisamos, conservando nossa individualidade. Nos ordenhamos e nos revigoramos prazerosamente, tanto no campo intelectual como em outros, aproveitando nossas gravidades para continuarmos ao redor.Ao final, Ms. P. me encanta e, encantadoramente, adoro que ela continue adensando meus espaços.