Fiquei alguns dias no meu ostracismo, tentando entender o que aconteceu e tentando deixar sair do meu corpo a vibração do A e acima de tudo respeitando escolhas alheias com dignidade.
Deixar ir.
Deixar ir é uma prática do desapego do caralho, e não é fácil passar por esse momento. O rapazinho do colégio militar realmente me derrubou, fiquei sem interesse nenhum de sair com outras pessoas, me recolhi aos abraços dos amigos, encarei a ausência, a saudade de um sexo anormalmente bom. E esse momento de segurar a onda sozinha foi muito bom, me calar, diante de uma entrega vazia. Não seria uma tarefa fácil dar as costas a um cara que estivemos juntos na festa de 15 anos de uma das minhas melhores amigas, e aos 47, a porra do universo me traria ele de volta, como se dissesse, tenho algo para vocês!
E assim amarguei alguns dias, mas é aquilo, se não regar a flor, ela morre, e morreu, para minha sorte!
Voltei ao interesse da caça, e lá estava eu toda faceira.
Conheci o J, de Jacarepaguá. Nas fotos me mostrava ser um homem bonito, tinha um metro e oitenta e cinco de altura, personal trainer. Com algumas tatuagens que chamaram minha atenção. J escrevia bem, o que é muitíssimo raro entre os profissionais do meio. Sempre muito delicado nas conversas de WhatsApp. J era diferente. Uma mistura de ta tudo bem, to na minha e quero comer você! Exatamente isso!
E eu fui curtindo o jeito dele, todas as perguntas que eu fazia, ele respondia de boa, e fui me sentindo tranquila. Ele deu aula para um artista que apresentou um espetáculo virtual extremamente politizado durante a pandemia, super curti. Falando em politizado, j também é de esquerda e isso me deixou também mais animada, quanto a conhecê-lo.
Marcamos na minha casa no sábado, ele atrasou, mas chegou, e ao chegar me assustou, ele era mais interessante do que eu observei nas fotos. Ele é alto, com um tom de pele lindíssima e também com uma energia que foi possível sentir rápido, algo alegre.
Entramos, ele trouxe cerveja, não foram poucas, meus amigos sabem que não curto cevada, mas de alguma forma, a noite de sábado estava tão gostosa que até a porra da cerveja desceu bem! Ele fumou a erva dele, sim, ele gosta de maconha, pedi para ele trazer o incenso, n suporto cheiro de mary huana, ele trouxe um defumador de sal grosso, segundo ele, aquilo ia tirar todas as coisas ruins da minha casa, para ser mais certo ele disse ingrisia. Figura!
Ele queria transar, me chamou algumas vezes, mas eu tive vontade de conhecer aquela pessoa, e não me arrependi, tivemos crises de risos na namoradeira da varanda. A temperatura daquele dia estava uma delícia, e ficar lá fora foi prazeroso. Foi bom rir com ele, eu esqueci o relógio, não sei falar sobre as horas, o senhor do tempo, aquele que se acha senhor do tempo, o relógio foi esquecido naquela noite. Abrimos a oportunidade de florescermos, isso foi imenso, porque J era muito mais do que eu imaginava.
Escutamos, Roberta Sá e Maria Betânia, ele me chamou muito atenção. Soube falar de uma peça que assistiu de Bertolt, mas não sabia quem era esse homem, e tive a oportunidade de ensinar. Ele também me ensinou, e fiquei surpresa, confesso que adorei.
A música Reconvexo do Caetano é significativo ao extremo para qualquer brasileiro, fala muito implicitamente. Eu não tinha ideia da grandeza da canção e o J me fez atentar aos detalhes.
"Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá, Gogóia
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo"E quem era Bobô? Um jogador de futebol da Bahia, e eu imaginava ser a elegância sutil de Godot, já que inicialmente ele faz referência de Roma, e agora estou ciente que a menção foi feita pelo simples fato do artista compor de lá, da Itália.
Aprofundei-me mais na música que é repleta de referências e aborda as múltiplas facetas da Bahia. Fantástica!
J me desafiou lindamente e eu logico que fui na carona do aprendizado como sempre faço na minha vida. Esqueci de dizer que J tem 42 anos e também quem me conhece sabe que nunca saio com homens mais jovens, mas esse menino, eu sairia novamente, pela alegria, pela humanidade, pela simplicidade que não é tanto quanto mostra ser, ele carrega experiência profissionais de outros países e pelo que percebi não faz questão nenhuma de mostrar...
E partimos para o sexo, se foi bom? J é forte, estou um pouco dolorida, confesso, mas, em simultâneo, estou satisfeita. Dificilmente gozo nas primeiras relações, mas rolou, ele me deixou a vontade, tranquila, não cobrou nada. Soube se satisfazer com doçura e também com a temperatura alta e não parava, descansava uns minutos e volta como se nada tivesse acontecido, sensacional!
No outro dia foi embora, tranquilo, dizendo que se eu não o procurasse, eu não saberia mais dele, mas mandou uma foto bebendo com um amigo...
J é um cara que vale a pena ter na agenda, não só pelo sexo, até porque não tenho contatos para isso, mas pela pessoa gostosa, desafiadora, pela simpatia, pela inibida inteligência, pelo menino que de menino nada tem, sei bem disso...
A vida é esplêndida, uma pena que nem todos queiram abrir os olhos e vivê-la como ela merece ser vivida, tive um sábado gostoso, cheio de risos e aprendizados, também recheado com sexo, mas posso afirmar que o conjunto me fez bem e isso me ajudou a respirar, tomar as rédeas novamente, a guerreira sem nenhum tipo de ressentimento ou sentimento triste, cavalgando como uma amazona, indo buscar felicidade em qualquer final de arco-iris, sonhar os sonhos impossíveis, voar, fazer absolutamente tudo que acho que devo fazer. Valeu muito a pena!!!