Agostinho Carrara

12 0 0
                                    

Esse cara era uma figura. Não tem como esquecer o A. Por que Agostinho Carrara? Ele não era brega, não morava no subúrbio, não era taxista e longe de ser um homem sem caráter. E era bonito, tinha porte.

Eu o chamava de Agostinho, não lembro o motivo, acho que o cabelo dele lembrava o do ator Pedro Cardoso que interpretava o personagem do programa A Grande Família.

E o chamei de Agostinho mesmo, era divertido.

As fotos dele no aplicativo eram lindas, chamavam a atenção.

O pai dele tinha uma empresa, não era nada grande, ele trabalhava com o pai. 

Tinha uma filha que amava, ela foi para a Europa naqueles dias que começamos a conversar, lembro que tentei amenizar a tristeza dizendo que o Brasil nunca ofereceria a filha dele um terço do que um país daquele continente poderia dar.

Ele entendeu bem, trouxe ao conhecimento dele, a cultura, a educação e a saúde que ela teria por lá. Não posso entender o sentimento dele, mas percebi que ele não foi egoísta quanto a isso, assimilou bem.

Achei bem bacana. Passando os dias Agostinho começou a ficar muito atrevido, muito mesmo. Os papos eram sempre os mesmos, não que eu não curta conversar sobre sexo, mas quando eu puxo o assunto, quando eu abordo, vindo da outra parte, isso passa a me irritar. 

Estranho, eu sei...

E Agostinho quando eu menos imaginava estava praticamente gemendo no meu ouvido.

Achava aquilo chato, eu brigava com ele e seguia um bloqueio. Ele mandava inúmeros torpedos com pedidos de desculpas, eu perdoava e desbloqueava o Agostinho. 

Uma vez fui para outra cidade com um amigo, Agostinho entrou em crise de ciúmes. Eu disse a ele que iria arrumar alguém lá e ele não teria nem como saber. Ele me encheu tanto o saco que o bloqueei no whatsapp novamente. Agostinho me ligou, meu amigo quase teve uma síncope de tanto rir.

Agostinho mandava fotos de toda família, ele era uma boa pessoa, tinha cachorros também, eram bulldogs, lindos!

Agostinho vivia bebendo com os amigos nos finais de semana, após o futebol. 

Mandava algumas fotos também, nunca sumia, estava sempre ali, não lembro por qual motivo demorei tanto a conhecê-lo.

Um dia o convidei para assistir o espetáculo Macunaíma da diretora Bia Lessa, em um dos teatros mais antigos do Rio de Janeiro, o Teatro Carlos Gomes, mas ele jogou uma gracinha que acabei desistindo. 

Continuamos a falar e nos entendemos novamente, o convidei para assistir o espetáculo O Som e a Sílaba, um texto belíssimo do Miguel Falabella, no teatro XP na Gávea, localizado dentro do Jóckey, lindo! 

Meu amigo Ro e um primo dele também foram.

Quando vimos Agostinho, afinal Ro também já o conhecia de foto, comentamos sobre o rapaz. Bíceps e peitoral lindíssimos, atura perfeita e cor de pele sedutora.

Agostinho era grandão, forte, ABRIDOR DE APETITE...

Aliás, é impossível não fazer uma menção a esse espetáculo, tudo nele é lindo. Cenário, iluminação, trilha sonora, figurino e as atrizes, tudo harmoniosamente perfeito.

Dueto das flores ao vivo foi perfeito...

Durante o espetáculo Agostinho simplesmente passou as mãos nos meus braços quando me emocionei, sempre choro. Ele tentou me dar as mãos, mas preferi segurar a onda. Ro já fazia piadinhas da cena presenciada em meu ouvido, discreto como sempre. 

Um dia estávamos assistindo um espetáculo no Sesi Firjan no centro do Rio e ele conversava comigo antes do sinal que iniciava a peça tocar, disse em um tom de voz diferente: que ao sairmos do teatro íamos beber um suco, eu achei estranho, nunca saímos para um suco. Em seguida complementou dizendo ser suco porque fofoqueiros com ouvidos em pé não tinham que saber que íamos tomar uns drinks. Inesquecível!

Saímos da peça em estado de graça, de lá fomos beber no bar da Marlene na Tijuca, no capítulo um disse que já comemorei um aniversário lá.

O bar mais esquerda da Tijuca. Sinuca e videoquê que toca Chico Buarque all the Time.

Adoro essa galera "subversiva", geralmente são mais criativos, soltos, espontâneos. Curto!

Ro vai lá somente para me agradar, a dona do bar, não oferece comanda, somos obrigados a comprarmos no balcão os tickets, meio arcaico, admito. Toda vez ela não utiliza a forma de pagamento que Ro a orienta quando passa o cartão... 

Chegamos lá!

Agostinho se mostrou extremamente educado, simpático. Todos gostamos dele. Ele bebeu direitinho. Rodrigo percebeu que ele olhava para onde meus olhos pousavam. Em uma certa altura Rodrigo já dizia para eu arrastá-lo. Agostinho viu um cara passar vendendo umas empadas do lado de fora do bar, ele comprou e pôs na mesa. Achamos aquilo uma atitude cheia de empatia (estávamos bebendo muito tempo e sem comer) e ficamos felizes por isso.

Voltamos para casa, Agostinho me fez cia, nos beijamos, mas confesso que algo em mim não foi tocado, não rolou nada para o próximo passo, mas adoro esse cara!

Uma pessoa humilde e de uma grandeza perceptível. 

Às vezes ele me chama para um papo, esta tudo bem, tudo indo.

Mas não nos encontramos mais!

#valeuapena










DEU MatchOnde histórias criam vida. Descubra agora