eu já estou surtando

94 15 3
                                    

Nossa professora entra na sala com um um ar de suspense, não sei se proposital ou não. Mas que está estranho, está. Ela carrega em mãos dois grandes envelopes de papel, aparentemente pesados por estarem bem preenchidos.

— Vocês sabiam que ia ter prova surpresa? — Jisung pergunta sussurrando.

— Se a gente soubesse que ia ter não seria surpresa, idiota — Chenle responde e ainda dá um estalado peteleco na testa de Jisung, que recua com a palma sobre o lugar atingido.

Mark estava bebendo água, mas lhe deu vontade de rir e ele acabou se engasgando. Depois de muita tosse e algumas lágrimas — isso porque ele começou a lacrimejar de tanto tossir —, ele magicamente se alivia quando passo as mãos sobre suas costas.

— Poxa, se eu soubesse que era só passar a mão em você, teria feito isso antes — ele me chama para mais perto de si e cobre a boca com a mão.

— Se você tivesse me dado um beijo, tinha passado na hora — sussurra no meu ouvido e eu não consigo deixar de rir.

Mas que canadensezinho sem vergonha e descarado, rapaz! Nunca vi um igual. Ele ainda ousa me olhar com um sorrisinho travesso e eu cubro o rosto com as mãos porque sinto as bochechas esquentarem. Provavelmente estão corando. Por que ele faz isso comigo? Nossa, Mark faz até eu ficar nervoso.

— Enfim, os papéis que eu trouxe hoje são, na verdade, cronogramas avaliativos — a professora avisa e toda a turma se manifesta de uma forma barulhenta. — Eu sei que vocês não queriam, crianças, mas é o que temos para hoje. As avaliações começam só mês que vem, mas a escola prefere que vocês dêem uma olhada no assunto desde já.

Quando o papel finalmente chega até mim, fico boquiaberto com o tanto de conteúdo que há aqui. Nossa, matemática está até o talo de tanto assunto. As provas são só mês que vem, mas o estresse de todos começam agora mesmo. Respiro fundo tentando não pirar, passo as mãos entre os fios, massageio as têmporas e suspiro mais uma vez.

— Eu já estou surtando — Mark diz ao se virar para mim.

— Relaxa, é assim mesmo — tento tranquilizá-lo, mas pela sua expressão, parece que só o deixei mais desesperado.

Ele faz uma careta engraçada numa mistura de desespero com tristeza e eu fico rindo disso. Nossa, ele me deixa besta. Credo, Deus me livre. Copio os tópicos deixados no quadro e, quando acabo, noto que ainda faltam uns dez minutos para essa aula acabar. Parece pouco tempo, eu sei, mas para mim parece que são duas horas. Para passar o tédio, abro meu estojo e retiro canetinhas coloridas para enfeitar o resumo de revisão que acabei de fazer.

Desenho estrelas, corações, aspirais e alguns rabiscos nos espaços em branco. Depois, anoto quais os níveis de dificuldade dos assuntos de acordo com as cores. Isso pode parecer coisa de criança, mas eu não ligo. Também sei que não vai me ajudar em absolutamente nada quando for estudar, mas tudo bem. Passo marca-texto amarelo pastel sobre as coisas que já aprendi, azul pastel sobre as que sei um pouco e rosa pastel sobre aquelas que ainda preciso aprender.

— Você é muito bebê — Mark sussurra enquanto olha os desenhos que fiz ao longo do resumo.

— Shiu, não fala do meu desenho!

— Mas eu não falei nada — ergue as mãos.

— Falou, sim. Você disse que é coisa de neném.

— Não, eu disse que você é neném — aponta para mim.

— Eu não sou neném. Já sou quase adulto. Não me chame de neném.

— Você é muito bebêzinho, eu não aguento mais — faz um biquinho e aperta minha bochecha sem muita força.

Reviro os olhos por alguns segundos e isso faz ele sorrir. Mark sorri com toda a graça do mundo. Antes de voltar à sua postura normal, passa a ponta dos dedos de minha bochecha até o queixo e me dá outro aperto nas maçãs do rosto. Não sei se ele sabe, mas ele é muito bebê também. Meus olhos caem em Jaemin sem querer, e ele está me olhando de uma maneira engraçada. Olha para mim, depois olha para Mark, para mim de novo e então levanta uma sobrancelha. Rolei os olhos bem na hora que entendi.

Por fim, fomos liberados para ir ao intervalo. Eu e Mark estamos indo ao cantinho onde normalmente vamos e ficamos sozinhos. Na verdade, não sei por que os outros nunca vêm conosco. Só sei que estou irritado porque Mark não tira o olho de alguma coisa que está vendo no celular e isso já o fez tropeçar mais de três vezes, só pelo que eu já contei. Quando estávamos subindo os degraus da arquibancada, ele tropeçou de novo. Se eu não estivesse aqui, ele já teria caído e se quebrado todinho mais uma vez.

— O que você tá vendo, Markie?

— O time de basquete que eu torcia quando morava no Canadá está jogando hoje — fala tão rápido que quase peço para ele repetir.

Me aproximo de si para tentar assistir um pouco também e ver do que se trata. Ele bate os pés no chão e resmunga quando seu time erra uma cesta por pouco. Ele parece criança. Quando vejo no placar, o time dele já está perdendo. A Live trava vez ou outra pois estamos afastados da parte da escola onde o sinal de celular é bom. Ele comemora quando finalmente alguém do time que ele torce acerta uma cesta.

Estou entediado. Estou com muito tédio. Cansei de ouvir Mark resmungando do meu lado toda hora porquê ele torce pra um time ruim. Mas não estou nem maluco de falar isso pra ele, porquê senão ele vai me deitar na porrada e eu ainda sou novo demais para morrer.

— Mas que porra é essa?! A merda da Live caiu — até me assusto quando ele bate os pés no chão com força.

— Nunca te vi soltar tanto palavrão antes. Estou chocado.

— Argh, desisto de torcer pra esse time também. Não quero mais — tem as sobrancelhas juntas quando finalmente olha para mim, que tenho a cabeça jogada para o lado pouco atrás de seu ombro. — Nossa, mas você é tão lindo...

Gargalho algo do tom que ele usou para falar isso. Não sei se ele queria ser engraçado ou se foi sem querer, mas eu rio tanto dele e nem sei por quê. Até ele acaba rindo, não sei se é de mim ou se é dele mesmo. Parando para pensar, eu acho que nunca encontrei ninguém igual à ele. Mark é muito diferente das outras pessoas que conheci. Sabe quando encontramos alguém que tenha totalmente a mesma vibe que nós? Então, é isso que sinto quanto à ele. Sei que temos personalidades diferentes, mas no final, somos um tanto parecidos.

Nós estamos muito perto. Mas muito mesmo. Não sei o que ele está esperando para acabar com o restinho dessa distância que há entre eu e ele. Já posso até mesmo sentir sua respiração leve contra meu rosto. Fica olhando no fundo dos meus olhos o tempo todo, mas vai descendo o olhar e dá um sorriso nada discreto quando parece chegar em meus lábios.

— Eu posso?

— Sempre, Mark.

Finalmente corta toda o espaço que ainda sobrava entre nós. Se antes minha temperatura era baixa, agora posso dizer que estou super aquecido com o beijo que Mark me dá. Os lábios macios roçam contra os meus e a mão desliza com lentidão sobre minha coxa. Tento trazê-lo impossivelmente mais para perto ao puxá-lo pela nuca, onde arrasto as pontas dos meus dedos e lhe deixo arrepios. Acabo suspirando durante o beijo quando ele deixa um fraco aperto na minha coxa.

Só o que posso ouvir agora são os estalinhos dos selares que Lee me deu. Também escuto-o tentando recuperar o ar que lhe falta enquanto ainda mantém o rosto perto do meu, com os olhinhos fechados. Faço um leve carinho em sua bochecha com meu polegar, e isso lhe faz sorrir. Mark me dá um último selinho, este um pouco mais demorado do que os anteriores. Eu me derreto todo nisso aqui. Eu me derreto todo por causa dele.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora