eu não curto muito o escuro

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As aulas já estavam quase terminando e eu sinceramente estou morrendo de vontade de ir para casa. Por mim, nem tinha levantado da cama hoje para vir para este diabo de escola, sério. Mas, felizmente, o alarme toca estrondosamente exagerado, indicando o horário da saída.

— Jaemin-ah, você já vai para casa agora? — pergunto assim que se aproxima de mim.

— Não, vou passar na casa do Jeno primeiro — deu um sorriso reto e sem graça, então logo nos despedimos.

Fui andando meio distraído em direção ao portão da escola. Os corredores estão cheios devido o horário, está tudo meio abafado. Até acabo por esbarrar em alguns outros alunos que caminham pelo espaço um pouco apertado. Ao longe, vejo a luz do ambiente lá fora e sinto o vento gelado, um pouco forte. Meu cabelo chega até a se agitar um pouquinho.

Assim que paro em frente ao portão, vejo o quanto está chovendo e ventando. O pior é que nem sequer tenho guarda-chuva, apenas tenho um casaco que pode servir para cobrir-me a cabeça. Resolvo esperar um pouco para ver se a chuva não ficaria mais fina.

— Nossa, tá muito forte — fala Mark, referindo-se a chuva. Nem percebi que ele estava aqui. — Donghyuck-ah, sua casa é perto daqui?

— Dá uns sete minutos andando. Por quê? — quase junto as sobrancelhas numa expressão confusa.

— Ah, então você vai chegar mais rápido — fitou os próprios sapatos. — É que a minha está muito longe. Tipo, uns quinze minutos andando.

Confirmo com a cabeça e fico ainda fitando a água cair lá fora. Chove tanto que parece que o mundo vai se desfazer em água. Respiro fundo, sentindo esse vento forte e gelado invadir-me as roupas e deixar-me arrepios de frio. Acho que não vai parar agora, então pego o casaco para proteger-me a cabeça.

— Ahm... Mark — toco seu ombro e o mesmo se vira. — Quer ficar comigo lá em casa só até a chuva passar?

Ele parece pensar um pouco. Encara o chão, depois a chuvarada lá fora, até que por fim me responde — Acho que pode ser.

Ele sorri simples, mas me pede para esperar um minutinho. Abre sua mochila, procurando alguma coisa que até eu me pergunto o que é. Ele puxa um guarda-chuva preto e o abre assim que estende o braço para frente. Sua mão em meu ombro me traz um pouquinho mais para perto dele, pois seu guarda-chuva não é tão grande para andarmos mais distanciados.

Nossos braços se encostam, até roçam um no outro de vez em quando. Nossos sapatos afundam seus solados em rasas poças d'água presentes nas ruas por onde passamos. Sinto algumas gotinhas baterem contra meu ombro e infiltrarem meu casaco, então acabo com o pequeno espaço que restava entre Mark e eu, me unindo totalmente a ele.

Andamos assim, meio espremidos um contra o outro, quando avisto minha casa ao longe. Aviso ao Lee que já estamos quase lá, então ele confirma num movimento com a cabeça. Assim que chegamos em frente a casa, passamos correndo pelo carro na garagem e fomos direto para a cobertura em frente a porta.

— Mark, segura o guarda-chuva, por favor? — digo e ele segura pela parte de ferro, mas logo o deixa aberto no chão para secar. Reviro toda minha mochila até que encontro a chave.

Entro em casa e puxo o mais velho que olhava distraído para a chuva lá fora. Rio do jeito que ele se distrai facilmente. Quando entra, ele fica parado olhando ao redor. Acendo as luzes da sala e ele também olha os pequenos lustres. Lhe chamo para ir até a cozinha comigo, onde tomamos um copo d'água.

- Donghyuck, onde posso deixar minha mochila? - pergunta calmamente, mas num tom que achei extremamente fofo.

- Vem, deixa lá no meu quarto - sorrio com sua fofura.

Subo as escadas cobertas com carpete, guiando Mark. Abro a porta do quarto e espero por ele, que entra logo depois de mim. Toco levemente seus ombros, retirando sua mochila e deixando-a junto a minha, ao lado da cama. Enquanto ele fitava os pôsteres (capas de álbuns) na parede, eu o observava disfarçadamente por trás. Ele é bonito até de costas.

— Wow, têm estrelinhas brilhantes no teto — disse boquiaberto quando viu os adesivos azuis. — Elas são lindas.

— É, eu também gosto delas... — sorrio de leve ao ver o quanto ele está maravilhado. — Elas me ajudam a dormir. Eu não curto muito o escuro escuro.

— Você precisa de ajuda para dormir?

Estava tão distraído no celular que nem percebi o que estava falando, tanto que me xingo internamente e sacudo a cabeça em tentativa de ficar mais atento ao que falo para Mark. Ainda não está na hora de lhe falar sobre isso, preciso ficar quieto. Não há motivos para eu lhe contar, sequer somos próximos.

— Não, não é isso — sorrio nervoso. — É só que... Sabe... Ficar olhando pra elas me deixa mais calmo, é isso.

— Entendi — disse simples, então sentou-se a cama junto comigo.

Disse que iria enviar mensagens para sua mãe, avisando que iria voltar para casa um pouco mais tarde, mas que estava seguro. Após fazer isso, ele ficou mexendo no Instagram, já eu usava o Kakaotalk. No chat, Jaemin diz que está na casa de Jeno sendo muito mimado, então Renjun envia um emoji revirando os olhos e Jeno apenas diz que era pra ser segredo. Isso até me fez rir um pouquinho.

— Tá rindo sozinho, besta? — Mark pergunta com um sorriso divertido no rosto.

— Mais ou menos. É que meus amigos estão discutindo — explico.

— Ah... — ri baixo. — Por quê teu amigo não gosta de mim? Sabe, o chinês?

— Acho que não é isso, Mark. Por que acha que ele não gosta de você?

— Sei lá — rola os olhos e deita sua cabeça ao lado da minha. — Ele me olha torto e isso é muito estranho.

Explico que talvez Renjun apenas não vá muito com a cara de Mark, mas logo ele se acostumaria com a presença do canadense e talvez até o deixasse andar junto com a gente.

— Mas ele não fica bravo quando você está comigo, Hyuck? — o apelido me faz ficar bobinho.

— Acho que ele nem liga, hyung — assim que terminei a frase, Mark sorriu.

Ouvimos barulhos de unhas arranhando a porta do quarto, então logo entra a pequena figura de longos fios pretos e cor-de-mel. A pequena yorkshire entra no quarto e fica pulando do meu lado da cama, pedindo para subir.

— Esqueci de te falar, mas essa é a Maggie — digo assim que ponho a cadelinha na cama.

Mark senta-se para falar com ela, que já estava querendo pular do meu colo para cumprimentá-lo. Ela o cheirava e o lambia, enquanto ele fazia voz fofa para falar com a Maggie. Rio do tom forçado que ele faz, e ele me acompanha brevemente. Deitou-se mais uma vez quando a cadelinha ficou mais calma e passou apenas a se aninhar para dormir entre meu corpo e o de Mark. Ele ainda fica passando a mão pelas costas da pequena enquanto ela fecha os olhinhos lentamente.

— Ela gostou mais de você do que eu esperava — digo ainda encarando a tela do celular.

Apenas ouvi a risada satisfatória do canadense mais uma vez, então sorri. Sorri sem nem ligar se seria estranho deitar na mesma cama que uma pessoa na qual conheci há umas duas ou três semanas. Sorri pois não me sinto estranho com Mark, e ele aparentemente também não.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora