eu tenho uma fobia

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Estou cansado de tanto jogar a bolinha vermelha de borracha para Maggie ir buscar, só que ela parece não estar nem um pouquinho cansada. Acho que já fazem uns quarenta minutos que estou aqui, sentado na grama verde e baixa do quintal de casa, brincando de jogar a bolinha lá longe e ela trazer de volta para mim. Até que eu corria com ela antes, mas me cansei depois de um tempo e fiquei sentado aqui.

— Você não cansa, não? — pergunto quando consigo capturar seu rosto e deixá-lo entre minhas mãos. — Ah, Maggie, eu já vou entrar. Tchau.

Realmente me levanto assim que o digo, mas fico olhando-a e ela apenas fica parada, como se quem esperasse meu retorno e mais horas de brincadeira. Quando chego ao meu quarto, pego direto meu celular que exibe notificações de mensagens na tela de bloqueio. A maioria são dos meu amigos, parece que Jaemin e Chenle estão discutindo para saber se a bunda é uma ou duas. Nem respondo, porque não tem motivo, então apenas os deixo discutirem sozinhos. Mas há uma mensagem de Mark, perguntando se estou em casa, então respondo que sim e pergunto por quê ele quer saber.

Largo o celular por um tempo, porque fiquei com vontade de ver televisão. Nunca tem nada de interessante nos canais, então sempre pulo pra Netflix, nem sei por qual motivo ainda tento checar os canais. O celular continua vibrando ao meu lado, então pego novamente e vejo que ainda eram mensagens do Mark. Diz que está sentindo minha falta pois não nos vemos há dois dias. Mesmo sabendo que ninguém verá, sorrio meio reto lendo a mensagem onde pergunta se pode passar aqui em casa para me ver.

Fico olhando pela janela pois ele diz que já está chegando, e logo posso vê-lo ao fim da rua. Desço os degraus da escada sem pressa, vendo minha mãe na sala assistindo uma série sobre a família real britânica.

— Você está esperando por alguém?

— Sim, o Mark — digo com calma, logo destrancando a porta.

Assim que me afastei um pouco para apagar uma das luzes da cozinha que deixei acesa, ouço a campainha tocar e vou andando com pressa até a porta. Quando abro, ele está vendo alguma coisa no celular, provavelmente o horário, mas logo ergue a cabeça e sorri para mim. O cumprimento e peço para entrar, então ele o faz. Também cumprimenta minha mãe ao se curvar, e ela sorri para ele.

— Vem, vamos lá pra cima — seguro sua mão momentaneamente, pois solto no meio da escadaria.

Assim que entramos no quarto, nos deitamos à cama e eu o cubro com um cobertor pois estava frio lá fora, então imagino que ele também esteja.

— Obrigado — diz e eu aperto sua bochecha com pouca força, o que o faz recuar e reclamar de dor dramaticamente.

— É que você é fofinho — passo a mão em carinho no lugar onde havia apertado.

Também me cubro pois até eu estou com um pouco de frio, mesmo vestido à base de moletom. Olho para Mark de relance e seu nariz está um pouquinho vermelho na ponta. Ele é fofo demais, não consigo lidar.

— Por que faltou a escola ontem?

— O quê? — arregalo os olhos pois sua fala veio num tom tão direto e sério que até me assusta.

— Digo, você não foi à aula ontem. Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, é que eu estava me sentindo meio mal ainda por causa daquela...

— Da sua crise? — diz repentinamente.

Eu jurei para mim mesmo que não ia contar nada pro Mark, porque gosto muito dele e ele vai me achar estranho se eu contar. Só que tá difícil, pois ele parece me conhecer bem até demais. Arqueio uma sobrancelha em curiosidade para perguntá-lo: — Talvez, acho que sim. Mas como sabe que era uma crise?

— Não sei, falei por falar...

Após isso, um silêncio estranho se instalou pelo quarto e entre nós dois. Ele mexe em alguma coisa no seu celular, pois vejo de canto seus dedos digitado freneticamente. Mas isso também não dura muito tempo, pois logo larga o aparelho e fica me olhando de um jeito que me deixa com pontos de exclamação no rosto.

— O que foi? — pergunto risonho quando meu olhar encontra o dele.

— Tem alguma coisa que você talvez tenha para me contar?

— Parece que você sabe de alguma coisa que não era pra saber — sorrio porque, realmente, parece que não dá pra esconder as coisas dele.

— Sabe, se você quiser me contar, eu vou estar aqui pra ouvir — ele devolve o sorriso de um jeito tão lindo que quero bater sua cabeça na parede só de ódio.

Meio que congelo quando vejo uma de suas mãos subindo em direção ao meu rosto, mas que apenas ajeita minha franja para o lado, já que estava caindo nos olhos. Não sei reagir a carinho repentino.

— O que você tem com o escuro, Hyuckie?

— Eu tenho uma fobia — suspiro longo e fico encarando-o, mas ele está agindo totalmente diferente do que imaginei.

— Desculpe ser invasivo, mas como você a adquiriu?

Ele ainda fica passando as pontas dos dedos contra minhas bochechas e queixo, mas de um jeitinho tão carinhoso que me faz querer pegá-lo no colo e ninar igual bebê.

— Posso te contar outro dia, por hoje já falei demais.

Até tento sorrir aberto para ele numa tentativa de parecer mais gentil. Me apoio no cotovelo sobre o colchão e passo a encará-lo de cima. Ele tem os olhinhos brilhantes, como quem me olhasse com preocupação. Lhe peço que agora me conte mais sobre si mesmo, pois sinto que já lhe contei bastante sobre mim.

— Não tenho nada pra contar, sou uma pessoa normal. Tampouco sou interessante como você.

— Você me acha interessante? — rio baixo e acho que isso o faz sorrir.

— Claro! Você parece ser um diário cheio de segredos, e eu confesso que adoraria saber todos eles.

— Sabe, Mark, acho que mais pra frente você saberá cada parte deles...

A verdade é que não são vários, é apenas um. Mas esse único segredo na qual tanto evito falar sobre parece estar quase nas mãos de Mark. Não quero ter que contá-lo agora, mas Lee aparenta estar tão curioso que talvez em breve ele descubra por si só.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora