eu não te deixaria cair

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O sol insiste em infiltrar as persianas da sala e atingir certos lugares. Atinge levemente meus fios, pois Renjun está bloqueando sua passagem e impedindo-o de atingir meu rosto por inteiro. Achei que ele estaria com raiva de mim, mas não está. Na verdade, está como em todos os outros dias. Está ficando vermelho de tanto gargalhar das palhaçadas que tanto falo quanto faço. Assim como o resto de meus amigos.

A figura de Mark se mostra passando da porta, então dou um pequeno sorrisinho para ele, que retribui da mesma maneira. Guarda o celular no bolso traseiro de sua calça e os fones de ouvido dentro da mochila. Deixa sua bolsa azul escuro ao lado da carteira à minha frente, virando-se para ficar de frente para mim.

— Por que seu nome da bio é Haechan?

Quê?

— Esse é meu apelido, Mark. Mas é quase meu segundo nome, pois meus amigos mais próximos só me chamam assim — dei de ombros e sorrio reto. — Era você que havia mandado solicitação?

— Era — sorriu divertido. — E era você que curtiu minha foto, né?

— É...

Ele ria discretamente enquanto eu coçava a nuca envergonhado, rindo de nervoso. Fico soft de vê-lo rindo com vontade, e eu nem sei o por quê. Ele ri com tanto gosto que até mesmo joga o corpo para frente e quase me acerta um tapa fraco, mas acerta-o em sua própria coxa.

Olho para meus amigos ao meu lado. Renjun está com uma cara de quem está, realmente, muito puto. Chenle me olha com deboche, divertido com a situação. Jaemin e Jeno me olham como se eu estivesse cometendo o pior crime do mundo e fosse seguir para a cadeia assim que a aula acabasse. Já Jisung, olhava-me fofo. Sua boca está entreaberta e seu olhar é de puro espanto. Sem querer, acabo por rir das suas reações icônicas, mas não tão alto para que o mais velho à minha frente conseguisse ouvir. Vai que ele pensa que eu, além de ser um stalker, sou um maluco que ri sozinho? Deus que me livre.

O professor brevemente adentra a sala, fazendo um silêncio total se instalar entre os alunos. Sua explicação se inicia e eu realmente copio tudo o que escreve no quadro, até os pontos menos importantes. Juro para mim mesmo que irei revisar novamente quando chegar em casa. O homem ia escrevendo, escrevendo e escrevendo, até ocupar todo o quadro e três páginas do meu caderno.

— Blá-blá-blá-blá — era o que eu ouvia o mais velho dizer.

Reviro os olhos em puro tédio. Olho ao meu redor, e quase nenhum de meus amigos presta atenção no que o professor diz. Isso até me faz rir um pouquinho. Às vezes, me sinto mal por não prestar muita atenção enquanto os professores explicam as aulas. Mas quando vejo meus amigos moscando também, penso "Beleza".

De repente, o som irritante toca, avisando que está na hora de sair para o intervalo. Olho para Renjun e o resto do Largados e Fodidos, mas eles me encaram como se dissessem "Escolhe!", menos Jaemin. Era como se ele me dissesse que estava tudo bem se eu escolhesse Mark dessa vez. Deixei um bico se formar em meus lábios e sussurrei "Desculpa", seguindo em direção ao Mark.

— Você vem? — toquei seu cotovelo para chamar sua atenção.

— Aham...

Digitava ligeiramente um longo texto em seu celular enquanto andávamos pela escola. Quase não sinto sua presença aqui, pois está tão silencioso que sinto como se estivesse sozinho. Vamos seguindo um caminho aleatório. A brisa gelada bagunça minha franja, mas a de Mark parece intacta. O vento bagunça até mesmo com minha roupa leve, fazendo-a se agitar e chacoalhar conforme é balançada.

Fomos caminhando, passando por todas as quadras da escola. Há um canto que gosto de ficar, que é atrás do campo de futebol. Quase ninguém fica lá, mas eu gosto de ficar na arquibancada enquanto leio justamente por ser vazio. Acho que Mark nem sabe para onde estamos indo, apenas deixa ser guiado por mim. Finalmente larga seu celular e o guarda no bolso, então cessa os passos para ver onde está e fica olhando ao redor.

Fico olhando-o por cima de meu ombro. Ele está distraído, olhando aos arredores. Ele é fofo.

— Ahm... Hyuck? — chama-me e corre para ficar ao meu lado novamente. — Onde estamos?

— No campo de futebol — digo com calma. — Veja, alí na frente são as quadras de futsal.

Ele faz um "Aaahh!" como se finalmente tivesse entendido onde está. Seguimos andando até as arquibancadas, onde eu subo um degrau, mas Mark continua lá embaixo. Há uma barra de ferro usada para segurar as redes de vôlei que fora despejada aqui atrás. Mark começa a andar por cima delas. Eu até desço para acompanhar mais de perto a queda que ele vai levar.

— O que foi? — ele me pergunta.

— Nada, ué — dou de ombros. — Só vim acompanhar tua queda mais de perto.

— Haha, tão engraçado — ele ainda riu de verdade. Que ódio dele. — Eu não vou cair.

— Vai nada — ironizei. — Vai se estabanar no chão e eu só vou rir.

Ele continua se equilibrando, de braços abertos. De vez em quando, teu tênis desliza e isso quase te faz vir ao chão, mas ele sempre é mais rápido e consegue retomar teu equilíbrio. Apenas por precaução, mantenho a mão em tuas costas, quase na cintura, para tentar pelo menos diminuir o impacto da queda.

— Ai! — diz quando teu calçado o faz escorregar mais uma vez, mas eu ainda consigo segurá-lo pela cintura. Agora ele está de pé no chão.

— Está tudo bem? — checo seu rosto.

— Sim... Eu só achei que realmente fosse cair — pousou a mão sobre o peito, sentindo o coração. — Foi só um susto.

— Eu não te deixaria cair, Mark. — disse e passei a fitá-lo o rosto, enquanto minha mão ainda estava em suas costas.

Mark sorri com todo o ar da graça. O sorriso dele é lindo. Ele é inteiro muito lindo. Nossa, o que está acontecendo comigo? Acho que estou ficando louco, só pode. Estou ficando biruta.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora