eu sempre falho

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Vou quase saltitando de alegria até a casa dele. Dou três batidinhas na porta e espero que alguém abra para mim. Coincidentemente, quem abre é o pai dele. Então faço questão de cumprimentá-lo com formalidade, me curvando e usando honoríficos. Informo que sou amigo de Mark e vim visitá-lo, então ele pede que eu suba e encontre-o em seu quarto. Subo as escadas com empolgação e sigo direto ao quarto dele, pois já sei onde é.

— Oi, Markie! — digo com voz fofa mas que não serve para nada, pois ele sequer está olhando para mim.

Está deitado em sua cama, de cobertor e com as pernas enroladinhas. Quando me vê, põe as mãos no rosto e se vira para o lado da parede para que eu não o veja. O que diabos está acontecendo?

— Meu bem? O que foi? — tento retirar as mãos de seu rosto, mas ele insiste em cobrir a própria face. — Mark, você está me assustando. Poderia fazer o favor de olhar para mim?

— Não, eu estou muito feio.

— Me ajude a te ajudar, Mark. Me diga o que aconteceu.

— Não vou falar. No fucking way. Você vai me xingar, dizer que estou errado e se afastar de mim... — retira o cobertor que havia usado para cobrir o rosto, mas ainda não me olha. — Eu já estou todo errado mesmo, então foda-se.

— E aí, vai me contar ou não?

— Promete que não vai ficar bravo comigo? — eu detesto promessas, mas confirmo com a cabeça e estendo a mão. — Olha, vou ser direto e espero que você não fique bravo comigo. Fiquei com muito ciúmes de você com Taeil-hyung. Fiquei muito bravo naquela hora, tanto que passei muito tempo no banheiro pensando em que caralhos eu estou fazendo com a minha vida e acabei perdendo a noção do horário.

— Tá, mas você foi embora do colégio por causa disso?

— Não, estava me sentindo mal de verdade. Eu ia te contar, mas quando olhei pra você, achei que talvez estivesse ocupado demais com outra pessoa.

— Ah, então é culpa minha, de novo?

— Não, Hyuck. É minha. Sou o culpado por sentir ciúmes de alguém que não possuo, que não é meu. Sou o culpado por ter ficado enciumado por alguém que não é nem meu namorado. Mas eu não tenho a coragem e muito menos o direito de brigar com você por causa disso, pois eu sei o que você iria falar.

— Eu não ia falar nada. Eu ia apenas te ouvir, do mesmo jeito que estou fazendo agora. Eu faria de tudo para não brigar com você, mas você parece que está querendo arrumar discussão.

— Não quero brigar, apenas preciso desabafar com alguém e fico feliz que seja logo com você. Não tenho coragem de pôr nas tuas costas o fardo de carregar todo o peso dos meus ciúmes, porque sei que não é culpa tua. Sou apenas eu, com minha sensibilidade e sentimentalismo de merda estragando tudo de novo. Sabe, ainda não entrou na minha cabeça o jeito que funciona a nossa relação...

— Me desculpe por ter imposto tudo isso no nosso relacionamento. Me desculpe, de verdade — tento fazer carinho em sua bochecha, mas ele segura minha mão ainda longe de seu rosto.

— Não, eu que peço perdão à você. Eu nem ia te falar tudo isso, porque sabia que ia dar briga. Por favor, entenda que não é culpa sua dessa vez. Eu já deveria ter entendido como é a nossa relação ao invés de achar que você é meu.

— Eu juro que não farei mais isso, Mark. Me dê mais uma chance, só isso — junto as mãos, implorando à ele. Isso faz eu me sentir tão baixo.

— Não, meu bem, não faça isso. A última coisa que eu quero é que você deixe de fazer seus costumes para me agradar. Não quero nem pensar em te prender à mim. Eu peço, com muita sinceridade, que você não deixe de fazer as coisas que você gosta só por minha causa.

Me sinto rebaixado. Estou sendo ridículo em implorar seu perdão. Eu sou patético. Há vermelhidão e inchaço em seus olhos pouco úmidos e eu só pude perceber isso agora, porquê ele finalmente olhou para mim. Há um imenso nó em minha garganta que parece ser feito de arame farpado de tanta dor que me causa. Uma dolorida e demorada onda com um mix de sentimento me espanca o peito, numa dor insuportável. Eu só quero me desculpar, mas ele não deixa. Eu só quero que pare de jogar bombas e mais bombas na conversa para que possamos dialogar em paz, mas sua erupção de mágoas parece não cessar nunca.

— Acho que esse negócio de não sermos totalmente assumidos vai demorar pra entrar na minha cabeça. Honestamente, ainda acho isso um tanto confuso. Não estou te culpando, você não faz nenhum mal à mim. Pelo contrário, eu gosto muito de você. Estou disposto a furar todos os meus dedos tentando chegar à linda rosa plantada no seu coração. Às vezes me sinto um maluco por te amar tanto, mas sei que sou um baita de um sortudo por ter você na minha vida. Ahm... Sabe... Eu tinha tantos planos contigo. Queria te apresentar como meu namorado ao meu pai, à minha mãe e minha irmã, por mais que elas nem morem comigo, e à toda a minha família que ainda está no Canadá.

Dobro as pernas sob a cama e encosto a cabeça sobre o joelho. Tudo apenas para não ter que olhá-lo. Suas palavras já me atingem como facas pontudas e afiadas, mas olhar nos seus olhos levemente marejados me machucam mais ainda. Acho que estou no auge da autossabotagem. Sinto como se eu mesmo tivesse me apedrejado. Mas tudo bem, eu disse que iria aguentar ouvir as palavras do canadense até o final. Nem que eu tenha uma crise de pânico daqui a alguns minutos, mas eu irei ouvi-lo até o fim.

— Mas então, você me disse que nós não estávamos namorando sério, de verdade. E pra ser sincero, aquilo me doeu muito, doeu tanto que não esqueci até hoje. Eu realmente pensei que pudesse encher o peito de orgulho para de chamar de meu namorado, meu amor, meu bebê. Porém, depois de um tempo, eu pude ver que não era bem assim que as coisas funcionavam.

— Veja, Mark, eu não tenho o que dizer. Você tem toda a razão. Então só me resta pedir desculpas á você. Me desculpe, tá? — mal posso vê-lo, pois minha visão está turva de tantas lágrimas, mas me encorajo o suficiente para pedir perdão, mesmo que com a voz embargada e as mãos trêmulas. — Me desculpe por não ser o que você esperava de mim. Me desculpe por não ser o que você merece. Me desculpe por ser tão defeituoso. Me desculpe por não ser recíproco com você em todos os mínimos aspectos. Me desculpe por não ser muita coisa, por ser pouco e insuficiente para você. Enfim, me desculpe por tudo e por pedir muitas desculpas, sei que você não gosta.

— Não, Hyuck, também não é assim. Deita aqui comigo pra gente conversar, rapidinho — tenta me abraçar, mas eu não tenho coragem nem de retribuir. Ponho a mão em seu peito para impedi-lo de chegar mais perto e mantenho a cabeça abaixada, pois não sou digno de falar com ele agora.

— É melhor eu ir. De novo, me desculpe por tudo. Por favor, não fique bravo comigo, juro que estou tentando melhorar...

— Meu bem, por favor! Me escute e fique um pouquinho, por favor — tenta segurar minha mão, mas vou me soltando aos poucos.

— Eu preciso ir, meu anjo — lhe dou um beijo com gosto de lágrimas em sua bochecha. — Me mande mensagens caso queira. Vou estar aqui se você precisar.

Limpo o rosto na manga do casaco e me despeço dele com um sorriso triste, choroso. Digo ao seu pai que fiquei satisfeito em lhe conhecer e espero poder encontrá-lo de novo quando vier aqui da próxima vez. Vou andando distraído para casa neste fim de tarde. Mal consigo cessar os soluços e as lágrimas. Meu peito dói, a imaginação martela os pensamentos mais cruéis. Me sinto assolado pela sensação de culpa e solidão. A ansiedade me traz lembranças na qual não quero reviver. Acho que todo esse choro é medo. Medo de perder alguém de novo. Medo de deixar Mark ir e não poder fazer nada pois já é tarde demais. Eu preciso de colo, pois me sinto como uma criança chorona.

Acho que estou destinado a falhar. Não importa a situação ou com quem seja, mas eu sempre vacilo. Eu sempre erro. Eu sempre falho. Dessa vez, concordo que não foi culpa minha, pois não mando nos sentimentos dele. Mas se ele está inseguro, creio que seja por causa daquilo que falei há cerca de um mês atrás. Se ele está confuso com a nossa relação, eu também entendo, devo ter inventado tudo isso de um jeito incompreensível. Eu sou incompreensível. Não o julgo por não entender o que eu quero.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora