vi que estás sozinho

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Bom, hoje é mais um dia normal e um tanto entediante para mim. As férias de meio de ano já se esgotaram, obrigando-me a retornar para a escola. Não é que eu não goste de ir, mas se eu puder escolher entre ir e não ir, certamente escolheria a segunda opção.

Mas, felizmente, tenho Jaemin para não deixar-me sozinho nessa vida infernal de estudante. Somos melhores amigos e vizinhos há uns oito anos, mais ou menos. Neste momento, estou o esperando na porta de sua casa, mas parece que ele está vindo o mais lentamente possível. O sol raia, atinge meus fios e couro cabeludo, quando o Na finamente resolve sair de casa.

— Caraca, achei que tava escolhendo o melhor vestido, a princesa — digo com as mãos na cintura enquanto ele tranca a porta. — Mas aí você me vem só de uniforme escolar padrão.

— Cala essa boca, mano — ele ri e passa o braço sobre minha nuca, praticamente enforcando-me enquanto sou arrastado.

A escola fica a pouquíssimos quilômetros daqui, tão poucos que dá até para ir andando. Desde que conheço Jaemin, sempre fomos andando até a escola enquanto fofocamos sobre o pessoal da nossa sala. Não somos fofoqueiros, apenas muito bem informados, até mais do que deveríamos ser.

Brevemente nos encontramos com Winwin na frente do colégio, então seguimos junto até nossas salas. O chinês precisou separar-se de nós, pois não somos da mesma turma. Eu e o Na finalmente adentramos nossa sala também, vendo todo o nosso grupo de amigos sentados lá no fundo.

— Nossa, Haechan. Acho que você cresceu uns três centímetros, né? — disse Renjun, fazendo todos os outros olharem-me esperando por minha resposta.

— Haha, o hyung está tão engraçado hoje, né gente? Acho que enfiou o patati patata bem no meio do...

— Sem palavrões, Haechan — disse Jaemin, segurando-me pelo ombro. O resto dos meninos riram.

Reviro meus olhos e fico encarando o Na afastar-se para ficar perto de Jeno, seu namorado. Por meio de comunicação labial, o digo que irei esculachar com ele na hora do intervalo por deixar o melhor amigo para ficar com macho. Ele parece nem ligar, porquê fica apenas boilando com o Lee. Que ódio, cara.

Do nada, uma figura diferente se mostra ao passar da porta, alguém que eu nunca havia visto antes. O garoto não era tão alto, vestia preto e sua franja da mesma cor que as roupas beijava-lhe a testa. Ao entrar na sala, ele olha por todo o espaço, e decide ficar no lugar a minha frente. De longe, posso sentir teu perfume doce e cheiroso. Parece perfume de bebê.

— Você conhece ele? — Renjun sussurra após cutucar-me o ombro.

— Não, nunca nem vi. Mas ele é mó bonitinho — digo com um sorriso sarcástico no rosto e Renjun ri.

Discretamente, chamo Jaemin, Jeno e Chenle, perguntando se eles haviam já visto o garoto em algum lugar, mas todos dizem que não. Estranho pois raramente entram alunos novos no penúltimo ano do ensino médio, o que faz do garoto um caso especial e novo para mim e meus amigos. Dou de ombros e volto a conversar com meu amigos.

O chato do professor de biologia entra na sala com seu semblante irritante, limpa a garganta e senta-se à mesa. Reviro os olhos ao vê-lo, pois sei que ele não gosta de ninguém daqui dessa sala. Relevo, pois nenhum de nós gosta dele também. Ele retira de sua bolsa o seu caderno de chamada, logo começando a chamar de um por um. Demoro um pouquinho para confirmar presença quando me chama, pois fiquei distraído com a borboletinha no teto.

— Ahm... Mark Lee? — diz e olha pela sala, parando o olhar sobre o garoto novo. — Você não era daqui, certo?

— Sim, senhor.

Sua voz não era tão grossa, mas nem tão fina. Ele parecia ser legal, pelo menos ao meu ver, sim. Fico prestando atenção em nada, distraído até mesmo enquanto fito meus sapatos. Acabo por olhar para o tal do Mark e seu jeito ágil de pegar a caneta que quase caiu. Nossa, ele tem um reflexo muito bom. Fico reparando no movimento do material usado para escrita e das veias pouco aparentes localizadas na parte superior de sua mão.

Quando vou perceber, outra professora já entrou na sala, dessa vez a de coreano. Me pergunto por que preciso aprender na escola uma matéria que eu já sei. Acho desnecessário, mas enfim. No início, até a metade da aula, presto atenção nos tópicos passados na lousa e também trasnfiro-os para meu caderno. Fico com sono ao ouvir a mulher falando, então apenas abaixo a cabeça e fico em busca de cair no sono até a terceira aula.

Quando finalmente acho estar num sono profundo, Renjun me cutuca, avisando que já estava na hora do intervalo. Ficamos encarando aquele que terminava de guardar seus materiais e usava seu celular para digitar algo ligeiramente.

— Eu queria ser amigo dele... — faço um biquinho ao olhá-lo. — Vem comigo, Renjun? Não quero ir sozinho.

— Eu não, ué — deu de ombros. — Se quer ser amigo dele, você que deve ir lá.

— Mas você não pode ir comigo só dessa vez...? — ele me vira de frente para o de cabelos negros e eu faço força para resistir, mas seu empurrão foi mais forte. Acabo quase esbarrando em Mark, mas finjo que tropecei e ele me olha por ter feito um barulho alto.
— Ahm... Oi, Mark - sorrio nervoso. - Vi que estás sozinho. Gostaria de vir comigo?

— Pode ser — sorriu um pouco forçado, mas formou lindas marquinhas em suas bochechas.

Fui mostrando-lhe cada parte da escola, cada sala e quadra. Não deixo de reparar no sorrisinho que dá quando olho para si e acabo por sorrir bem de leve também. Quando terminamos o tour pelo lugar, ficamos sentados à quadra enquanto assistíamos o jogo do time de basquete da escola, na qual era formado principalmente por alunos do terceiro ano. Mark parece prestar bastante atenção no jogo, assistindo os garotos e ouvindo o barulho da bola se chocando contra o chão.

Olho para ele de vez em quando, o mais disfarçado possível. Posso ver-lhe com um brilho nos olhos enquanto assiste o jogo, atentamente torcendo para que a bola passasse do aro.

— Você parece gostar bastante de basquete, hyung — digo e ele finalmente tira a atenção do jogo para olhar em meu rosto.

— Gosto. Costumava assistir muitos jogos antes de me mudar para cá, quando ainda morava no Canadá — explicou calmamente, e eu faço que entendi.

Ficamos conversando durante o dia inteiro, no tempo livre. Meus amigos até mesmo se questionavam sobre o quanto havíamos virado amigos rapidamente. Sou de fazer amizade rápido quando quero, mas nunca virei amigo de alguém tão rápido quanto fiquei amigo de Mark. Algo nele me chamou atenção, então eu gostaria de conhecê-lo melhor.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora