eu não tenho segredos

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Eu acho que sou paranoico. De vez em quando, eu crio umas teorias meio estranhas dentro da minha própria cabeça. Isso me deixa estranho? Gostaria de saber. Agora, por exemplo, estou achando Mark esquisito. Hoje ele passou o dia todo sem trocar muitas palavras comigo. Passou o dia super quietinho, cem por cento na dele. Eu fiquei quieto também, porquê poderia e provavelmente é só paranoia da minha cabeça. Também não vou mentir que fiquei meio murcho quando vi o abraço que Jaehyun lhe deu.

Mas enfim, depois que todos havíamos voltado do intervalo, ele começou a escrever num caderninho separado do fichario que ele usa para anotações escolares. É um caderninho preto e as folhas feitas para reciclagem. Ai, ele é muito fofinho. Eu confesso que já tentei bisbilhotar algumas vezes o caderno onde Lee tanto escreve, só que ele sempre percebe a minha presença quando tento ver sobre seu ombro e fica na frente das folhas, me impossibilitado de ver.

— O que você está escondendo, Mark Lee?

— Nada, ué.

— Você tá, sim. Toda vez que eu chego perto pra tentar ler esse caderno você entra na minha frente!

— Ora, então não sou eu que estou escondendo. Você que está bisbilhotando, seu fuxiqueiro — aponta para mim. — Eu não escondo segredos do meu melhor amigo, ao contrário dele mesmo.

— Olha aqui, seu maluco... — lanço a ele um olhar assustador, mas volto à minha expressão normal quando penso melhor. — Espera, então eu sou seu melhor amigo?

— Claro, você esperava o quê? — faz uma pausa dramática para rolar os olhos. — Então agora você falar que eu não sou seu melhor amigo, é?

— Você é meu colorful friend, Mark.

— Não acredito que tu vai enfiar um garfo na minha ferida, mesmo.

— Desculpe, desculpe — capturo sua mão, deixando um carinho e um beijinho. — Eu só quis dizer que você sendo meu amigo colorido é mais do que ser meu melhor amigo, entendeu?

— Hm, tá bom então.

Então vira-se para frente e volta à sua postura normal. Espero muito mesmo que ele não fique chateado com o que eu falei e esteja só fazendo um drama. Caso seja a segundo opção, eu também já nem ligo mais, pois sei que de vez em quando até eu tenho umas atitudes cobertas de drama também. E assim a gente vai se aturando.

Chega mais um professor para fazer mais resumo de prova, mas esse faz uma revisão imensa. Já estamos no último tempo, então ele deveria começar a se apressar se quer passar tanta coisa. Nem tem tanta coisa assim em biologia, então não sei o que diabos ele está fazendo. Só sei que estou copiando tanto, mas tanto que já sinto calos se formarem em meus dedos. E isso quando eu sinto meus dedos, né?!

Por fim, as aulas se encerram e todos nós fomos liberados. Me despeço de Jaemin e Jeno ao mesmo tempo, com um abraço triplo. Jaemin fica de palhaçada e me dá um beijo rápido no pescoço só para me provocar, então acerto um tapa também lépido e barulhento em suas costas. Mark já está lá na entrada da escola, e ainda abaixa a cabeça quando solto o Na e vou em sua direção. Sua expressão também não é das mais felizes, o que dá a impressão de que ele está chateado. Mas o que será que já aconteceu?

Pergunto-o se ele está chateado ou bravo, porquê é o que realmente parece, mas ele simplesmente diz que não está e o assunto morreu aqui. Eu juro que tento entender o que acontece na cabeça do Mark, mas parece que ele não me deixa saber. Quero dizer, parece que ele se fecha em relação aos seus sentimentos e nunca me conta. Será que pareço tão desamparado mentalmente assim, ao ponto de nem ser confiável? Estou pensativo agora.

Pego a chave para destrancar a casa, então Mark para atrás de mim, com as mãos na cintura e uma expressão meio indecifrável. Termino de girar a chave e abrir a porta para lhe perguntar o que aconteceu, mas até eu me surpreendo com a pergunta e acabo rindo.

— E aí, você não vai me dar um beijo de despedida, não?

— Vou nada — sorrio travesso e ele ameaça ir embora, mas eu seguro seu pulso e dou início à uma proposta. — Só se você fizer uma coisa para mim... Tens algum compromisso pra agora de tarde?

— Ahm... Eu acho que não... Exceto as atividades, não tenho nada para fazer.

— Ótimo, então você vai me ajudar a fazer o almoço.

— Mas eu não sei cozinhar, Hyuck.

— Tem problema, não. Na hora tu aprende.

Arrasto-o até o meu quarto para trocar de roupa e lhe entrego as mesmas que eu havia emprestado dele no dia que fui para a casa dele porque havia esquecido a chave daqui. Informo que já as lavei e que seria melhor se ele às usasse logo. Permito que ele vá se trocar primeiro, então brevemente entra no banheiro e não demora muito para sair com o conjunto de moletom. Avisa que vai me esperar lá na sala enquanto brinca com a Maggie. Me visto com calma enquanto cantarolo uma música que não me lembro ao certo onde ouvi. Ao terminar, arrumo meu cabelo com calma vendo meu reflexo no espelho.

— Mark? Markie? Markie? — chamo conforme vou descendo as escadas, mas ele sequer responde.

Olho ao redor mas ainda não o vejo. Ele está escondido, já saquei. Ponho a mão no peito já preparado para o susto que ele vai me dar. Continuo chamado seu nome de maneira fofa quando passo pela sala, mas nada dele também. Passo pela cozinha, então ele pula em mim quando passo pelo balcão. Finjo me assustar, fazendo uma atuação muito ruim, e isso o faz montar um biquinho.

— Poxa, eu achei que ia conseguir assustar você... — comenta, murcho, com as mãos cruzadas atrás de meu pescoço.

— Foi uma ideia boa, meu bem — agora sou eu quem entrelaço os dedos em sua cintura. — Pena que eu não me assusto fácil.

Não consigo resistir vendo a sua cara emburrada e o biquinho infantil nos lábios. Eu falei que só iria beijá-lo quando fizéssemos o almoço. Mas cá estou eu, pagando com a minha própria língua novamente. Segurei suas bochechas e deixei selinhos barulhentos em sua boca por longos segundos. Consegui até mesmo arrancar um sorriso dele quando deixei um selar mais lento e estalado. Esse som que faz quando nos beijamos é meu novo som favorito.

— Argh, me larga. A gente precisa fazer o almoço — empurro de leve seu ombro.

— Mas quem me segurou foi você.

— Não interessa. Vem logo me ajudar a fazer essa bagaça aqui — finjo braveza e ele gargalha disso.

Peço para ele pegar o macarrão na dispensa enquanto eu ia enchendo a panela de água para ferver. Mark deixa o pote de macarrão sobre o balcão e me pergunta o que mais preciso que ele faça. Peço para que pegue molho de tomate e a carne moída num pote transparente que há na geladeira, então ele pega e deixa aqui pertinho de mim. Mark acha que eu não percebo, mas eu sempre noto quando ele vem chegando de mansinho atrás de mim, com a mão na minha cintura que ele provavelmente deseja transformar num mínimo abraço. Ele é bobinho demais por achar que eu sou tão lerdo assim.

— Me solta — tiro suas mãos de meu quadril. — Vou acabar queimando o almoço.

— Poxa, nem ia cair sua mão se você me desse só um abraço, seu ingrato...

— Sshhh, deixa eu fazer meu trabalho.

Quebro a porção de macarrão ao meio para caber dentro da panela e jogo-o cuidadosamente. Mark diz que pareço até um cozinheiro profissional. Meu filho, eu sou um cozinheiro profissional. O Master Chef não tem ideia de quem está perdendo. Enquanto o macarrão ferve, dou uma olhada na carne moída já cozida, então concluo que é melhor esquentar quando o macarrão já estiver pronto.

— Acho que por enquanto é só isso, meu caro ajudante — digo virando-me em sua direção. — Daqui a pouco a gente volta pra colocar o molho e a carne.

— Quanto você vai me pagar por ter sido seu ajudante?

— O total de zero pratas, gostou? — sorrio ironicamente para ele, que apenas contorce a boca.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora