eu tô aprendendo a viver assim

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— Que cheirinho de neném — Mark comenta ao me dar um beijo e um cheiro na nuca.

— Você sempre me diz isso. Eu estou repensando sobre o shampoo que uso, acho que vou trocar de marca.

— Não, eu adoro seu cheirinho de neném — agora, me abraça apertado e esconde o rosto em meu pescoço. — É meio que uma coisa única sua, que me lembra você.

— Que fofo, Markie.

— Eca, um casal — Chenle faz uma cara de nojo.

Mark ri após escutar a frase dita pelo chinês enquanto eu rolo os olhos. Nesses últimos quatro dias nós estamos bem grudentinhos, de fato. Eu confesso que ainda não acostumei, por isso meio que continuo preferindo como era antes, um beijo aqui e outro alí, quando estávamos sozinhos. Já percebi que Mark gosta quando demonstro afeto por ele em público, quando lhe abraço por trás e demoro para soltar ou quando lhe dou beijinhos discretos.

Às vezes fico minimamente desconfortável, porquê ele quer segurar minha mão em momentos que há muitas pessoas ao redor, mas eu nunca reclamo pois sei que ele gosta e terei que me acostumar com isso. Sabe, antes eu tinha dito para mim mesmo que não ia fingir ser quem eu não sou só para agradar as outras pessoas. Mas quando eu sou carinhoso com ele, quando dou o beijo primeiro, Lee fica tão feliz. Me pergunto se não vale a pena continuar assim só para vê-lo feliz, mas ainda sou indeciso quanto à isso.

— Vou dizer pro Chenle parar de falar assim pra você não ficar bravo — Jaemin sussurra em meu ouvido enquanto me abraça pelo ombro.

— Tem problema, não. Eu tô aprendendo a viver assim.

— Que milagre! Quero que você me convide para ser padrinho do pedido de namoro — sorri como se fosse engraçado.

— Haha, estou morrendo de rir.

Agora, estamos assistindo ao jogo de futebol dos hyungs. Não queria falar nada, mas fiquei pensando aqui que eles são um pior do que o outro. Em basquete eles são ótimos, mas em futebol... Não tenho nem comentários. Todos riem quando Taeyong cai dramaticamente após chutar a bola de maneira errada e não acertar no gol. Mark ri tanto que joga a cabeça sobre meu ombro e acaba ficando por aqui mesmo. Em outros tempos, eu estaria muito bravo porquê há alguém invadindo meu espaço pessoal. Mas dessa vez, eu estou super tranquilo. Não dá pra ficar bravo com o Mark, ele é muito extra.

Yuta está dando uma goleada no time adversário, onde Taeil é goleiro e sofre insultos de Johnny e Taeyong por ser baixinho e deixar passar muitos gols. Nós nos divertimos com isso porquê é realmente muito engraçado ver todos eles se batendo para tentar roubar a bola dos pés dos outros. Ficamos tristes quando o recreio acaba e temos que deixar de assistir o jogo engraçado para retornarmos à sala de aula e estudar para as provas.

— Você terminou seus trabalhos ontem, Hyuck? — Mark pergunta.

— Uhum. Chorei um pouco porquê não entendia muito de química, mas ok.

— Você é muito bebê — aperta com pouca força minha bochecha.

— Você me diz isso toda hora, Mark. Eu já falei que não quero ser bebê.

— Mas pra mim você é bebê. Meu bebêzinho — faz biquinho tentando me beijar, mas eu o mantenho afastado segurando em seus ombros.

— Você tá muito é besta, isso sim.

— Tô mesmo. Por você eu fico todo besta — abre a porta da sala para mim e ainda me deixa entrar primeiro.

— É, eu percebi.

Ainda não há muitas pessoas na sala, apenas nosso grupo de amigos e mais uns quatro ou cinco alunos. Eu e Mark ficamos fofocando, falando mal dos professores que passaram seus trabalhos de uma maneira mal detalhada enquanto esperamos o professor do próximo tempo. Meu rosto está bem perto do dele porquê estamos sussurrando e isso pode ser bem estranho para quem está em volta nos olhando, mas tudo bem. É isso aí mesmo que quem está olhando pensou.

— Se você continuar olhando pra mim assim, eu não vou aguentar e vou te tacar um beijo — solta uma risada anasalada e eu me afasto dele porquê isso não vai dar certo.

— Foi mal. É que você é tão... Tipo... Sabe? Você é tão... Você — ele ri de novo do jeito que embaralhei as palavras. — Que droga.

Ele aperta minha bochecha e demora um certo tempo para soltar novamente. Eu não reclamo mais, porquê sei que ele é assim. Sei que esse é o jeito dele de demonstrar carinho. Na verdade, ele é carinhoso até demais, mas eu não acho que isso seja um defeito. E realmente não é, certo? Creio que eu só não esteja tão acostumado ainda. Não gosto de fazer rótulos à ele, dando-o características como carinhoso, manhoso, amoroso e etc, porquê sinto que há muito mais nele do que isso. Ele é mais, bem mais do que eu consigo ver.

— Aquele nerd olhando para você está me incomodando um pouco — confessa num sussurro como se fosse contar-me um segredo.

— Deve estar desacreditado. Aposto que nunca viu dois viados tão de perto.

— Como assim?

— É que as pessoas daqui não são muito fãs de homossexuais no aspecto geral. Por ser um país tradicional e tal, as pessoas não estão acostumados a ver um casal do mesmo gênero, tipo eu e você, demonstrando afeto.

— Mas então quer dizer que, só por causa do que as outras pessoas pensam, eu não posso mais ser carinhoso com você porque serei julgado?

— Você se importa em ser julgado por apenas ser você mesmo? — ele nega com a cabeça. — Então não há com o que se preocupar. Aqui está sendo cada vez mais normal as pessoas se declararem como gay, lésbica ou bi, mas ainda não é bem visto por todos.

— Nossa, você parece estar tão acostumado com isso tudo...

— Mas eu estou. Convivi com isso durante grande parte da minha vida. Sabe, eu nunca fiz muita questão de esconder o que eu era, por mais que costumasse ligar para o que as pessoas pensam. Houve uma época em que tentei fazer novos amigos, mas nunca durou mais de duas semanas porque as pessoas se afastavam quando descobriam que eu era... Sabe?

— Uhum... — ri baixinho. — Eu queria ter te conhecido antes. Acho que eu teria conseguido te ajudar com essas coisas.

— Mas está tudo bem. Atualmente, não é mais um problema pra mim. Me considero uma pessoa muito feliz só de ter conhecido você.

— Estou sentindo minhas bochechas quentes — toca as maçãs do rosto com as palmas. — Eu estou vermelho?

— Tá igual um morango.

Ele ri da comparação que fiz entre ele e a fruta. Apoio meu queixo na palma da mão e fico lhe apreciando. Ele fica dez vezes mais bonito quando está sorrindo. Agora que falei sobre isso com ele, deixo os ombros relaxados e suspiro fundo. Já não me dói mais falar sobre isso tudo. Eu superei sozinho o trauma de me abrir para as pessoas. Falei isso para ele porque ele me passa uma vibe tão confortável e eu consigo confiar nele fácil, fácil. Mark é tão confiável que eu aposto que conseguiria contar-lhe todos os meus segredos.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora