eu não aguento isso

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Acabei de encerrar a primeira prova do dia. Estou apenas esperando dar a hora do intervalo para que eu possa entregá-la. Para ser honesto, não consigo ficar sentado aqui por mais vinte minutinhos sequer, minha bunda ficará quadrada em breve. Será que canadenses gostam de bundas quadradas? Gostaria de saber. Estou brincando, não me leve tão a sério. Reviro os olhos, faço um baixo batuque na mesa com a ponta da caneta, fico contorcendo os lábios mas esses minutos não parecem acabar nunca.

Sussurro uma frase de glória quando ouço o som ridículo de alto tocar, indicando que já podemos entregar as provas e sair para o intervalo. Deixo minha avaliação sob a mesa do professor e levo comigo duas folhas de papel onde fiz um breve resumo sobre geografia, matéria da próxima prova. Fico aqui fora com alguns dos meus amigos que já saíram, esperando apenas Jisung e Mark.

— Você vai esperar ele? — Jaemin pergunta após a saída do Park e eu confirmo com a cabeça. — Nós vamos estar na biblioteca.

Digo que entendi com um sussurro, então recosto o ombro na parede e fico esperando meu pedacinho de estresse. Também estou brincando quando digo isso. Mark é meu amorzinho. Sabe, é chato que ele seja o último da chamada mesmo que hajam nomes que, seguindo a ordem alfabética, sejam depois do seu. Ele apenas é o último porque chegou depois, mas acho que seu nome poderia ficar no lugar certo. Enquanto lhe espero, vou lendo um pouquinho do resumo que fiz. Está demorando tanto que não há mais ninguém no corredor. O professor sai de sala, mas Mark continua lá pois foi buscar seu caderno, aquele que tenho uma curiosidade do caramba em abrir e ver o que ele tanto esconde.

— Obrigado por me esperar, meu bem — me rouba um selinho rápido nos lábios.

— Vamos á biblioteca, os meninos estão nos esperando lá.

— Essa deve ser a primeira vez que eu vou à uma biblioteca nesse ano.

— Você tem uma carinha de galeroso mesmo — ele me olha com uma expressão confusa, de quem não entendeu a gíria. — Galeroso é uma pessoa largadona, sabe? Uma pessoa assim, de galera e tal. Entendeu?

— Com essa explicação maravilhosa eu não tinha como não entender.

Chegamos à biblioteca e já vejo nossos amigos sentados numa mesa redonda perto das prateleiras. Tivemos que nos sentar separados porquê não cabia mais ninguém na mesa onde eles estavam, mas tudo bem. Sentamos na última mesa, uma que já está afastada das outras por estar praticamente escondida atrás das prateleiras. Mark abre o bendito do caderno que eu tanto tenho trique-trique, então percebo que a maioria das coisas que tem dentro são desenhos. Eles são lindos. Encontrei mais uma coisa que Mark sabe fazer muito bem, que é desenhar.

— Tá lindo o seu resumo, bemzinho — diz em claramente deboche enquanto fita minhas folhas. — Parece que um unicórnio espirrou aí de tão colorido.

— Shiu, cala essa boca — sussurro de volta, apontando o dedo para seus lábios. — Me deixe ser a menina das canetas coloridas em paz, cabeçudo.

— Vá estudar, idiota — me dá um puxão de orelha e eu me seguro muito para não emitir nenhum som ou enchê-lo de porrada.

Largo dele e realmente passo a ler o que escrevi com várias cores das minhas canetinhas coloridas e marca-textos de cores pastéis. Estou orgulhoso de mim mesmo por ter feito o título do resumo tão bonitinho, visto que não sei desenhar. Acho que me garanto nessa próxima prova, por mais que seja de uma matéria um tanto complicada para mim. De tanto que eu chorei tentando aprender isso aqui, não aceito menos do que tirar um oito. Não sei tanta coisa assim, mas espero tirar nota boa só pelo tempo que gastei com isso, junto de lágrimas de estresse que derramei.

Por baixo da mesa, Mark segura minha mão, entrelaça os dedos aos meus e ainda faz carinho. Isso é tão, mas tão brega e a cara dele que se não fizesse eu ia até achar estranho. Mark é admirável, maravilhoso, fascinante, esplêndido, fenomenal, incrível, fantástico e muitas outras palavras de significado similar ao destas que citei. Acho que nem percebe quando leva minha mão em direção ao rosto e deixa um beijo rápido. É involuntário e ele sequer nota que está fazendo isso, porquê ele é assim. Essas atitudes dele são tão naturais que ele nem percebe quando faz.

Sabe, tudo isso é muito novo pra mim. Nunca recebi tanto carinho assim vindo de alguém que não fosse minha mãe ou meu melhor amigo de longa data. O fato é que ainda estou me acostumando. Às vezes, ainda acho estranho quando ele vem me dar um abraço de repente, ou quando me rouba um selar sem mais nem menos. Mas está tudo bem, porque eu sei que ele é assim mesmo e eu gosto dele desse jeito. Não vou negar que estou bobo agora pelo carinho que faz na parte superior da minha mão.

Houve um momento que precisei soltar a mão dele, mas ele está tão concentrado que acho que também nem percebeu. Ele está muito distraído. Está lindo. Folheio meu resumo e me assusto um pouco quando sua mão relaxa sobre minha coxa, me fazendo engolir em seco. Ela desliza com lentidão todo o espaço desde meu joelho até chegar perto da minha virilha. Eu estou nervoso e desconcentrado. Já rezei umas três orações para conseguir focar no que estou lendo. Eu não aguento isso.

Livro minha mão da garrafa d'água que estava segurando apenas para segurar a dele exatamente do jeito que estava antes, com os dedos entrelaçados. A mão dele está quentinha, totalmente ao contrário da minha que está muito gelada. Voltamos à sala, lemos mais um pouquinho antes de começarmos a prova novamente. Entregamos na hora da saída e almoçamos aqui na escola mesmo, junto de nossos amigos. Mark me leva até em casa, assim como sempre fez.

— Poxa, já vou me afastar de você de novo...

— Mas eu vou te ver amanhã — rio do bico triste que ele está fazendo.

— Eu sei, mas é que vai demorar. Ontem eu senti muito a sua falta enquanto estidava.

— Nem vai demorar, meu bem.

Deixo a chave na porta e encosto meu corpo no dele novamente. Sua cabeça estava baixa e o semblante chateado, mas brevemente abre um lindo sorriso quando seguro-lhe as bochechas aquecidas com minhas palmas gélidas. Dou à ele muitos selinhos. Muitos mesmo. Divido entre suas maçãs do rosto e boca. Ele está tão feliz. Eu gosto de beijá-lo assim porquê ele sempre sorri, com timidez, e isso lhe deixa muito lindo. Gosto de admirá-lo quando sorri assim. Não consigo parar de dizer o quanto ele é lindo.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora