eu me sinto mal

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Mais um dia prestes a começar nessa troca de tempos certamente precisos que tantos me deixam entediado. Pelo menos tenho esse monte de idiotas aqui do meu lado para me fazerem rir junto com eles.

— Diz que é bad boy mas essa pose não me engana. Na parada gay seu nome é Raissa Raiana — diz Jeno se aproximando de mim. O besta ainda sai lá do lugar dele para vir aqui comigo me encher o saco.

— Cala essa boca, garoto, pela fé! — respondo com um tapa em seu ombro.

— Gente, do quê vocês estão falando? Explica pra mim — Renjun pede ainda perdido no meio do assunto.

— É que o Haechan foi pra aquela tal festa querendo ficar com o Mark, mas aí quando chegou lá ele ficou todo triste achando que o menino era hetero. Só que no fim, eles acabaram ficando.

Ele diz e todos os outros riem pouco escandalosos, menos eu. Nem sequer sorrio, fico olhando para o Lee com um semblante sério. Jaemin reclama porque não falei com ele sobre isso, mas respondo que nem tinha necessidade.

— E pior, eles chegaram lá com a gente de cara lavada, fingindo que nada tinha acontecido, achando que ninguém ia reparar o cabelo bagunçado e as roupas amassadas — Na gargalha enquanto conta.

— Já deu de tirar sarro de mim, seus palhaços.

Esbravejo logo com todos eles e fico com cada de emburrado até começar a aula. Mas antes do primeiro professor chegar, Mark entra com uma carinha de sono tão fofa, os fios não tão bagunçados e uma expressão de quem não dormiu muito bem. Assim que me olha, dá um sorrisinho sem graça, acho que por se lembrar de ontem. Escondo o rosto entre as palmas das mãos, tentando evitar também aquele sorriso que queria muito vir. Ao olhar para meus amigos, eles revezavam os olhos entre si, Mark e eu, além de trocarem risadinhas. Reviro os olhos para todos eles, em resposta.

O professor de química logo adentra a sala com a típica cara de tédio que ele tem. Não é nada contra ele, não, mas é que o jeito que ele fala me deixa com sono. Às vezes, quando menos percebo, meus olhos já estão teimando em se fechar e a cabeça querendo cair contra os braços em cima da mesa. Mas hoje eu estive me segurando durante esses dois tempos que passaram. A professora de artes nos deseja um bom dia vibrante, como sempre. Sério, queria ter essa alegria e esse ânimo que ela tem.

— Abram os livros na página que coloquei no quadro que eu vou precisar sair rapidinho. Já volto, mas se comportem — cerrou os olhos ao nos olhar, mas logo veio um sorriso meigo em seu rosto.

Abro meu livro na folha pedida, brevemente começo a respondê-lo. Com a cabeça apoiada na palma da mão, ouço o barulho do lápis roçando contra o papel e isso me dá sono. Os meus olhos piscam lentamente, lutam contra o sono e permanecem abertos. Num momento, é possível ouvir um barulho estrondoso lá fora, como se fosse um raio ou algo estourando. Isso realmente me assusta muito, mas me assusta mais ainda quando as luzes da sala se apagam e ficamos apenas sob iluminação solar vindo da janela

Renjun toca-me o braço, fazendo um leve carinho e perguntando se está tudo bem, então eu logo assinto apenas com a cabeça e seus olhos preocupados voltam ao livro. Não vou negar que estou ansioso, pois deve ser perceptível se reparar em minhas pernas e pés agitados. Quando noto, estou começando a suar frio e a respiração está meio acelerada. Solto o lápis sobre a mesa e logo começo a fazer o processo de relaxamento. Abaixo minimamente a cabeça e respiro bem fundo, soltando o ar lentamente. A palpitação em meu peito não para, nem sequer acalma.

— Hyuck, tá tudo bem? — Jaemin pergunta, vindo sentar-se atrás de mim.

— Não, eu me sinto mal — digo sem olhá-lo, ainda de cabeça baixa. — Me sinto meio sem ar, sufocado.

A primeira lágrima pode ser sentida por mim, mas Nana começa a fazer carinho em meus ombros, pescoço e depois em minha orelha. Agora, consigo respirar melhor, mas ainda não estou normal. Acho que até Mark percebeu que estou passando mal, pois se vira para mim e passa os dedos entre minha franja, empurrando levemente para o lado, deixando atrás da minha orelha.

Renjun estende um lencinho de papel para Jaemin, que passa ao redor de meu pescoço e testa. Meu peito sobe e desce repleto de euforia e nervosismo. Ainda me sinto sufocado, como se estivesse respirando o ar mais quente que já vi em minha vida. Jaemin pede que eu olhe para si, assim conseguiria enxugar o resto do meu rosto melhor. Encaro com constrangimento em seus olhos, pois os meus estão totalmente marejados.

— Oh, amor, não chora — fez um biquinho mas logo sorriu. Ele consegue arrancar um sorriso até de mim.

Me faz carinho no cabelo, e minha respiração vai voltando ao normal, acho que ele realmente sabe me acalmar. Digo a ele que vou tomar um ar lá fora, pois a professora provavelmente não vai voltar até o intervalo, visto que faltam mais ou menos cinco minutos. Pergunta-me se quero que vá junto, mas digo que não precisa porque já estou tranquilo. Insiste e me pede para tomar cuidado e voltar logo pra cá caso aconteça algo.

Sorri para ele e saí da sala, caminhando pelos corredores pouco lotados. Ouço passos frequentes atrás de mim, então me viro levemente e vejo que era Mark. Resolvo esperar por ele, que logo me alcança e passa a andar do meu lado. Como está ventando e ele estava correndo, seu cabelo ficou bagunçadinho na frente, então pergunto se ele não quer ir ao banheiro para tentar dar um jeitinho.

Assim que entramos, ele foi em passos rápidos até a frente do espelho na tentativa de arrumar os fios. Alguns obedecem facilmente e ficam arrumados, mas há alguns que insistem em ficar para cima. De longe, fico olhando e rindo do quanto ele sofre pra arrumar o cabelo.

— Ah, que se dane, vai ficar assim mesmo — perde a paciência e vira de frente pra mim. — Tá rindo de quê?

— Nada, hyung. Deixa pra lá.

Mordo os lábios tentando impedir o riso, mas não consigo segurar quando Mark vem em minha direção e fica me olhando sério. Ele se aproxima cada vez mais, e minhas mãos estão involuntariamente em seus quadris, tentando afastá-lo.

— Te odeio, Haechan — diz inclinando a cabeça quando há poucos centímetros entre nós.

Ele fica encarando meus lábios como se quisesse um beijo meu, mas só me dá um selar na bochecha e ameaça ir embora, dando passos para trás. Faço o favor de puxá-lo de volta pois não estou nada satisfeito. Dessa vez, ele me deixa beijá-lo na boca, mas não peço permissão com a língua por timidez.

— Você já reparou que toda vez que a gente fica, é num banheiro? — ele ri quando passamos da porta. A risada dele é tão fofa.

Fizemos o mesmo caminho que sempre fazíamos todos os intervalos. Nos últimos dias, normalmente ficávamos com meus amigos, mas hoje foi diferente porque nos desencontramos mais cedo.

— Hyuck, eu queria saber se está tudo bem com você... — começar falando assim que nos sentamos na arquibancada detrás do campo. — Sabe, é que ver você passando mal mexeu comigo, me deixou preocupado. O que aconteceu?

— Eu apenas não me senti bem, foi só isso — tento sorrir para amenizar a conversa.

— Eu sei, mas é que parecia mais sério dessa vez. Parecia uma crise, tanto que achei que você fosse desmaiar...

— Se eu te contar mais do que isso, tu vai me achar estranho.

— Por que acharia? Digo, o que me faria pensar que você é estranho?

Não respondo, porque realmente há chance de ele sair correndo, apavorado como se eu fosse um monstro. As pessoas normalmente fazem isso, então por quê ele seria diferente? Mark parece aceitar meu silêncio, pois fica brincando com meus pés enquanto uma brisa gelada assopra-nos.

Colors ៚ Markhyuck (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora