PRÓLOGO 🍁

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Thomas Wihners não era rebelde. Pelo contrário, não suportava atos de rebeldia. Fugir de casa no auge de sua juventude sem dar nenhuma explicação era uma ideia maluca até mesmo para ele, até o dia em que o próprio a colocou em prática.

Thomas nunca gostou de estar rodeado de bajuladores, por isso sempre preferia uma companhia reduzida. Era mais valioso estar com um pequeno rebanho de pessoas amadas do que com uma multidão de desconhecidos.

Hugo Klent fazia parte de seu pequeno rebanho de pessoas amadas. Era o seu melhor amigo, seu fiel escudeiro, sua alma gêmea em forma de amizade. Não havia palavras para explicar a conexão dos dois, qualquer um que passasse alguns minutos observando-os podia testemunhar isso. Nasceram no mesmo dia, e eram praticamente vizinhos. Pareciam compartilhar o mesmo modo de pensar e viver.

Se conheceram em um dos cultos matinais de domingo, quando um novo sacerdote foi mandado para sua igreja e grande parte da população de Skweny estava presente para recebê-lo – Desde os fiéis irrepreensíveis até aqueles que estavam visitando o templo pela primeira vez. Os Wihners e os Klent sentaram-se no mesmo banco, próximo ao altar, de modo que os dois garotinhos puderam ficar lado a lado.

Por incrível que pareça, nenhum dos dois disse sequer uma palavra para o outro, pois não eram crianças tagarelas como as outras. Eram discretos, introvertidos – quando estavam em público – e pacientes. Somente quando Thalya, irmã mais nova de Thomas, apareceu segurando um lenço de tecido raro da cor creme e com um pequeno trevo de quatro folhas bordado no canto, que o interesse de Hugo foi despertado.

A menina entregou o lenço para o irmão com certa relutância. Gostava de segurá-lo, por isso ele permitia que ela ficasse com o retalho de tecido por um determinado tempo, mas precisava devolvê-lo quando o limite acabava. Nesse caso, ela estava com ele há dez minutos e, para a infelicidade da jovem, estava na hora de entregar novamente ao irmão.

— Obrigada – Disse ela, voltando para o lugar onde estava sentada, ao lado da mãe.

— Por nada – Ele respondeu, mas suspeitou que ela não pudesse mais ouvi-lo, pois começara a cantar um louvor como o restante da congregação assim que retornou ao seu lugar.

O jovem Klent observou o lenço, ainda nas mãos do menino.

— Whibaymatch? – Perguntou.

O Wihners o olhou, surpreso.

— Sim.

O outro assentiu.
Em seguida, meteu a mão no bolso e retirou um totalmente igual.
Thomas abriu um largo e genuíno sorriso e indagou, animado:

— Você também visitou a cidade?

— Sim – Respondeu o outro – Quero estudar lá um dia.

— Dizem que lá tem uma das melhores universidades.

— Talvez sejamos colegas de quarto, então – Declarou o jovem Klent um pouco alto demais, para que pudesse ser ouvido em meio ao canto da igreja.

— Mal posso esperar.

Os dois estenderam a mão para se cumprimentar melhor.

— Qual o seu nome?

— Thomas. Thomas Wihners. E o seu?

— Hugo Klent – O menino apertou com leve firmeza a mão do novo colega.

Eram apenas crianças de oito anos de idade quando se conheceram, mas a amizade que surgiu naquele dia durou anos e anos, mais do que puderam imaginar naquele momento. Compartilhavam os mesmos gostos, por isso nenhum ficava entediado quando passavam a tarde cavalgando, ou quando a conversa era sobre animais, ou quando faziam planos para estudar na Universidade de Whibaymatch assim que tivessem idade suficiente.

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora