Era cerca de onze horas quando ela ouviu duas batidas na porta. Estava sentada na cama, esperando algum sinal de sonolência, mas apesar da exaustão causada pelos últimos dias, ainda estava acordada. Sua mente estava agitada com as memórias, ainda podia sentir cada momento em sua pele. Ela ergueu o olhar ao ver a porta se abrir e seu coração saltou discretamente dentro do peito.
Thomas colocou a cabeça para dentro do cômodo, verificando se ainda estava acordada.
- Posso?
Ela sorriu com o canto dos lábios e fez que sim, vendo-o entrar e fechar a porta lentamente.
- Como se sente? - Perguntou ele, analisando seu tornozelo imobilizado.
- Bem melhor - Respondeu de maneira calma - Mas sinto como se isso fosse apenas um sonho. Um pesadelo, na verdade...
- Quem dera fosse - Thomas suspirou e cruzou os braços, ainda de pé em sua frente - Por que não está dormindo? Deve estar muito cansada. Pensei que fosse ouvir seu ronco do corredor, sabia?
Ela deu uma risada e o encarou. Ele era tão bonito e calmo, poderia passar horas em sua companhia sem que isso fosse um problema.
- Pode parecer loucura, mas não estou com sono - Ela deu de ombros, encostando a cabeça na cabeceira da cama - E você, por que não está dormindo?
Ele hesitou por um momento antes de responder. Caminhou devagar e sentou-se na beirada do colchão, com cuidado para não tocar e machucar seu tornozelo.
- Não tenho facilidade para dormir - Declarou ele. Não era um fato que muitos sabiam, mas sentiu-se seguro para contar a ela - Quando percebo que vou ter muita dificuldade para pegar no sono, gosto de ir até o jardim para sentir o ar noturno. Observo o céu por um tempo, principalmente quando está estrelado, e tento dar um descanso para a minha mente. O silêncio da noite me acalma, e acabei me acostumando com a minha própria companhia. Isso costuma funcionar na maioria das vezes. Depois retorno para o meu quarto e permaneço acordado por pelo menos trinta minutos até sentir o sono chegar de mansinho.
Ela apertou um lábio no outro.
- Isso parece uma rotina.
- Bom, acabou tornando-se uma com o passar do tempo. Não sei ao certo quando começou, e também não sei como me livrar dela. De alguma forma, estou acostumado. É estranho e reconfortante saber que estou acordado quando a cidade inteira está dormindo.
Ela inclinou a cabeça para o lado.
- Que horas você acorda?
Ele franziu um pouco a testa, surpreso com a pergunta.
- Bem cedo. Sempre que posso, assisto o sol nascer.
- Para quem me recomendou várias vezes um bom descanso, você não parece ter o hábito de descansar.
Ele riu e baixou a cabeça ao ouvir o comentário.
- De fato, não tenho.
- Isso é hipocrisia?
- Um pouco.
- Acho que não posso confiar em você, Thomas Wihners.
- E por que não? - Ele arqueou as sobrancelhas de maneira leve.
- Porque também me disse que o balanço era seguro naquele dia, mas não era. É como dar conselhos e não seguir eles - Seu tom era mais provocador do que repreensivo.
- Um médico vive para cuidar de outras pessoas, então vez ou outra acaba esquecendo de si mesmo. Mas tudo o que recomendamos, é para o bem dos pacientes. Então sim, você deve descansar.
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Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2
RomanceEle voltou. Sete anos se passaram, mas agora ele está de volta. Ainda que não fosse o mesmo, ainda que fosse um homem e não mais um jovem perdido, ainda que que houvesse passado por coisas horrendas, ele voltou para o seu lar. Não podia fugir para s...