CAPÍTULO CINQUENTA E SEIS 🍁

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1814, sete anos antes.

— Acabaram de confirmar o falecimento do Sr. Hugo Klent – Disse Carter, deixando a cordialidade de mordomo por um momento e assumindo uma profunda expressão de tristeza.

Martha levou a mão ao peito, sentindo o corpo inteiro fraquejar. Margot, que estava desenhando no canto da sala, parou por um instante e encarou o homem, em silêncio.

— Tem certeza, Carter? – Martha franziu a testa em um semblante doloroso.

Ele assentiu melancolicamente.

— A Sra. Klent está totalmente dilacerada, foi preciso três criados para tirá-la de cima do corpo do filho.

A mulher balançou a cabeça lentamente, sentindo os olhos encherem de água ao ouvir aquela lamentável informação.

— Que Deus possa levar consolo para aquela família. Não consigo imaginar o tamanho da dor que devem estar sentindo nesse momento.

— Sim, milady. Não é fácil lidar com a morte, principalmente de um filho.

Margot levantou e caminhou até os dois, entrando na conversa. Trêmula, sussurrou:

— O Hugo... Morreu?

Martha a olhou, tensa, e assentiu.

— Sim, querida. Hugo se foi.

A menina começou a chorar descontroladamente. Era a primeira vez que lidava com a morte tão perto, e aquilo foi assustador. Saber que não veria mais uma determinada pessoa, que todos os momentos vividos ao lado dela seriam apenas lembranças, que a risada dela nunca mais seria ouvida ou mesmo a sua voz, e que quando o peito doesse de saudade, não poderia apenas atravessar a rua e fazer uma visita, porque a distância seria muito maior e, tragicamente, irreversível. Isso era a morte. As lágrimas ficaram cada vez mais intensas, até o corpo dela começar a tremer em soluços profundos.

Martha abaixou-se e a envolveu em um abraço repentino, compartilhando a mesma dor de uma maneira diferente. O momento era, de fato, muito triste para todos eles, por isso Margot não percebeu que o gesto de sua tia não significava apenas uma forma de consolo, mas o medo dilacerante de também perdê-la. Ouvir o estado deprimente da Sra. Klent fez Martha imaginar como seria se estivesse no lugar dela, e desejou que aquilo nunca viesse a acontecer. Abraçou sua menina com força e a segurou em seus braços, desejando nunca mais soltá-la. Cuidaria dela por todos os dias de sua vida, era a única promessa que não poderia quebrar. Se a morte batesse em sua porta um dia, entregaria a si mesma sem pensar duas vezes, mas jamais deixaria que levasse Margot. Era esse amor que a mantinha viva, uma certeza enorme dentro do peito de que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para ver sua filha bem.

Filha. Margot Lynth era sua filha, por mais que não soubesse disso. Pretendia contar a ela ainda naquela semana, visto que o aniversário de treze anos da garota estava chegando, assim poderiam fazer alguma atividade especial para comemorar a data e desfrutarem do momento como mãe e filha pela primeira vez, mas com a triste notícia da morte de Hugo, preferiu adiar o momento. Margot precisaria lidar com o luto e isso não seria nada fácil, então era melhor não encher aquela cabecinha com tanta informação e apenas estar ali quando ela precisasse, como sempre.

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Martha encarou a xícara de chá sobre a mesa. O líquido havia esfriado há um tempo, mas não importou-se com isso. Não conseguia pensar ou se importar com nada, apenas sentir aquela enorme sensação de um coração despedaçado. A reação de Margot havia sido justa. Quem não ficaria mal por ter sido traída? Ainda mais pela própria mãe. Martha havia mentido por anos, aquilo era uma tremenda traição.

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora