Margot tinha uma certa paixão por aquela estação do ano. Suas bochechas ficavam mais rosadas durante as frias manhãs, e seus olhos ganhavam um tom mais bonito de verde. Talvez nada mudasse, mas para ela, o outono possuía um toque mágico.
O que era engraçado, porque fora justamente em um outono que teve seu coração totalmente despedaçado, mas fazia de tudo para não deixar que isso afetasse seu modo de apreciar a adorável estação.Sete anos atrás, recebera a notícia de que Thomas Wihners, o irmão de sua melhor amiga e... Bem, o seu amor, havia desaparecido. Foi nesse dia que algo morreu dentro dela. Assim que consolou a amiga pela perda do irmão, voltou para casa e correu para o seu quarto. E então, sozinha, ela chorou.
Ninguém, senão Deus, viu todas as lágrimas que a jovem Srta. Lynth derramou naquele outono de 1814, ajoelhada aos pés da cama. Nem mesmo Thalya, sua melhor amiga, soube. Uma parte de seu mundo perdeu a cor, um lugar secreto em seu coração exclusivo para sonhos e fantasias de planos futuros, no qual Thomas Wihners costumava fazer parte, despedaçou. Era como se seu sonho tivesse desaparecido, e a ideia de nunca mais ver aquele sorriso a perturbou violentamente durante anos.
Não podia negar que ainda mantinha a falsa esperança de vê-lo retornar para Skweny, mas precisava admitir que esse pensamento era um tanto inútil. Do que adiantava sofrer por alguém que ela nunca teria? Ainda que ele voltasse, o que era praticamente impossível, a relação dos dois não passaria de uma amizade sutil, jamais chegariam a outro nível.
Ela era apenas a melhor amiga de sua irmã, uma moça deixada pelos pais na porta da bondosa Martha Lynth, quando ainda era apenas uma criança. Criada por uma solteirona, que agora estava no auge de seus cinquenta e um anos, e não possuía título algum. Essa era a história de Margot, e Thomas certamente se casaria com alguém melhor. Ela sempre soube disso. Alguém como Faith Klent, talvez...
Franziu o cenho. Seus pensamentos estavam indo longe demais. Tomou um gole de chá, trocando de posição no sofá amarelado.
Precisava arrumar um marido.
Não se preocupava tanto com isso enquanto tinha a companhia da melhor amiga, que também era solteira até o ano interior. Thalya sempre fazia planos para quando as duas fossem solteironas oficiais, e apesar de Margot nutrir desejos matrimoniais, sentia que não precisava ter pressa, e que quando se casasse, a amiga aceitaria. No entanto, Thalya estava casada agora. E ela, solteira. Era estranho pensar que não havia se casado primeiro que a outra, mas sabia que precisava arrumar um marido.Sua tia era solteira há anos e parecia satisfeita com a própria vida, mas não era o caminho que Margot queria seguir. No fundo, ela queria formar uma família e viver um romance como nos livros. Não conseguiria fisgar um nobre, mas certamente tinha chance de arrumar um bom marido. Tentava pensar nisso com muita frequência, mas ainda havia uma resistência dentro de si, pois casar-se significaria que ela estava entregando seu coração a outra pessoa, quando na verdade ele já pertencia a alguém...
Ela trocou de posição novamente e suspirou. Era quase impossível abandonar seus sentimentos por Thomas. Tomou mais um gole de chá, e percebeu que a bebida estava esfriando. A cada vez que seus pensamentos ficavam mais profundos, os intervalos entre um gole e outro aumentava.
Sentiu o corpo relaxar no móvel almofadado e continuou encarando a janela à sua frente. O vidro estava levemente embaçado devido a tão comum neblina matinal de outono. Analisou as folhas lá fora, de um tom laranjado, e abriu um sorriso fraco. Algumas amarelas, outras vermelhas... De fato, amava aquela estação.
Quando era mais nova, as meninas de sua idade costumavam tratá-la com apelidos ofensivos e desagradáveis. Margot era uma criança acima do peso, e a costureira não colaborava ao fabricar seus vestidos. Os modelos não valorizavam devidamente seu corpo, e ela se sentia muito desconfortável quando vestia aqueles vestidos, especialmente os que possuíam aquela mesma paleta de cores das folhas que estavam além da vidraça.
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Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2
RomanceEle voltou. Sete anos se passaram, mas agora ele está de volta. Ainda que não fosse o mesmo, ainda que fosse um homem e não mais um jovem perdido, ainda que que houvesse passado por coisas horrendas, ele voltou para o seu lar. Não podia fugir para s...